Por que Deus tira coisas boas de nós?

O cuidado de Deus com nosso coração ao tirar coisas boas de nós

Minha mãe faleceu há 2 anos. Por causa disso, eu tenho a oportunidade, desafio e privilégio de já experimentar vislumbres da maternidade com minha irmã mais nova Alice. Recentemente, conversamos sobre o cuidado.

Pude entender de forma mais clara o significado de quando minha mãe dizia me conhecer. Ela não simplesmente sabia de informações sobre mim, mas me conhecia no meu íntimo, pois me gerou e criou. Ela me amava e entendia mais do que ninguém, por isso sempre sabia o que era melhor para mim e era a maior interessada no meu bem.

Eu não formei a Alice nem tive papel integral em educá-la, mas eu a conheço. Hoje, mais do que qualquer um.

Por conhecê-la tão bem, às vezes preciso tirar coisas dela ou interromper atitudes visando protegê-la, cuidar do seu coração e levá-la em direção à piedade. Eu já estive na mesma posição em que ela se encontra e hoje consigo olhar para trás e ver muito além do que eu via, eu enxergo coisas que ela ainda não é capaz.

Por conhecê-la tão bem, às vezes preciso tomar atitudes rígidas, que não parecem boas aos olhos dela na hora, coisas que a deixam triste e que, momentaneamente, podem fazê-la sofrer, mas que eu faço mesmo assim, porque eu me importo e cuido, ainda que para ela não faça sentido.

Por conhecê-la tão bem, eu sei alguns dos profundos pecados e das más inclinações do seu coração, em consequência disso, às vezes preciso pôr à prova algumas atitudes para que eu a ensine a confiar no Senhor e responder em obediência.

Deus faz o mesmo conosco.

Minha mãe conhecia coisas do meu coração que nem eu mesma havia identificado. Eu conheço a Alice mais do que ela acredita que eu seja capaz. Mas Deus conhece a nós três infinita e profundamente mais do que seríamos capazes de imaginar. 

Ele não simplesmente sabe informações sobre nós… Ele nos criou, amou, escolheu e predestinou (Sl 139.16, 17)

“assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.” Efésios 1.4-5

E essa vontade é de que sejamos santos e irrepreensíveis, para o louvor da sua glória. (ver versículos 6-14)

Por vezes, Deus tira coisas que nos parecem agradáveis, sem aviso prévio, e nos encontramos como um bebê que teve o brinquedo arrancado das mãos. Reagimos mal, não queremos ceder livremente e reivindicamos aquilo que desejamos, sem entender e aceitar a percepção perfeita do nosso pai celestial (Pv 3.5-6; 28.26; Jr 17.5)

“porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.” Isaias 55.9

Tenho entendido cada vez mais que Deus constantemente precisa tirar coisas de mim ou interromper o que eu tenho feito porque ele enxerga (e determinou) além de onde minha visão alcança. O Senhor se preocupa em cuidar do meu coração e ensiná-lo, uma mente piedosa faz parte do desejo do Pai para os seus filhos. 

Assim como a Alice nem sempre entende meus motivos para fazer o que eu faço, eu nem sempre entendo os motivos de Deus (e eu não preciso entender, embora deseje). Deus nunca prometeu se justificar ou explicar os motivos pelos quais faz o que faz, mas assegurou de que todas as coisas confluiriam para nos moldar à imagem de seu filho primogênito (Rm 8.28-29). Nem tudo o que Deus tira de nós ou nos impede de fazer é intrinsecamente ruim, mas por causa do nosso coração desesperadamente corrupto, nós corrompemos também nosso sentimento, o que acreditamos e fazemos, temos a terrível capacidade de tornar algo virtuoso em imundice. 

Se eu, como sou, busco o melhor para minha irmã, me constranjo ao imaginar quão maior é o cuidado que Deus tem comigo… conosco! (Mt 7.9-11) Cuidado esse que por vezes rejeitamos, buscando governar nossa vida à nossa própria maneira.

Embora pareça difícil aceitar a intervenção de Deus, nesses momentos devemos procurar ver sua graça abundante e zelosa, aumentando nosso conhecimento sobre o caráter divino para que tenhamos confiança em sua mão poderosa. Em algumas situações, Deus não simplesmente nos tira, mas nos concede a oportunidade de renunciarmos por conta própria. Ele mesmo nos concede o material para sacrifício. 

“Enquanto nossa ideia de entrega se limitar à renúncia das coisas ilícitas, jamais compreenderemos seu significado verdadeiro: tal atitude não é digna do nome de ‘entrega’ pois nenhuma ‘coisa imunda’ pode ser oferecida”.

“Se os anseios fossem embora, o que teríamos para oferecer ao Senhor? Eles não nos são dados para oferecermos? Precisamos controlar as paixões, não erradicá-las. Como aprenderíamos a nos submeter à autoridade de Cristo se não tivéssemos nada para submeter a ele?”

– Elisabeth Elliot, Paixão e pureza.

Como filhos da misericórdia, deveríamos oferecer sacrifícios santos ao Senhor, mas, como Elisabeth sabiamente afirmou, apenas a renúncia de pecados não seria uma oferta digna. Deus, porém, nos concede graciosamente o material para abdicarmos de nossas vidas: nossos desejos, sentimentos e paixões. Que nosso anseio seja usarmos tudo aquilo que provém de Deus para fazer convergir de volta nele todas as coisas. (Cl 2.11; Gl 2.20; 5.24; Lc 14.33; Mt 16.24)

Encontre o que tem ocupado sua mente, crenças, desejos, motivações e afetos, renuncie seus ídolos, sacrifique suas paixões, mortifique sua carne e coloque Deus de volta ao lugar que lhe é de direito. Sonde o seu coração com perguntas que revelem em quais verdades você tem acreditado.

“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco.” (Filipenses 4.8-9).

O que é realmente importante para você? Como você reagiria se isso lhe fosse tirado ou afastado? Como você reage quando algo sai diferente do esperado? Existe algo que você esteja pecando para obter? Qual tem sido o foco das suas orações? Existe algo que tem sido agradável agora, mas que não está moldando em você um caráter piedoso? Existe algo do qual você precise abrir mão? 

Quem são as pessoas que mais te conhecem? Existe algum conselho ou advertência vindos dessas pessoas que você tem ignorado ou resistido? Quanto você tem confiado em Deus e sua soberania? Como sua confiança é provada? Como você pode crescer em confiança e dependência?

Deus tira coisas “boas” de nós para mostrar que ele é suficiente, tudo de que precisamos. Deus tira coisas “boas” de nós para nos proteger da nossa própria natureza. Deus tira coisas “boas” de nós para nos ensinar a confiar e obedecer plenamente. Deus tira coisas “boas” de nós porque ele reivindica o trono do nosso coração, que é propriedade dele, não de ídolos que insistimos em colocar no comando. Deus tira coisas “boas” de nós porque ele é imutável, tem um propósito para cada um desde a eternidade passada e não falhará em cumpri-lo.

Separe tempo para orar sobre essas coisas, abra e esquadrinhe seu coração, pedindo para que o Senhor revele os ídolos aos quais você necessita renunciar. Arrependa-se e renove sua mente para que seus desejos sejam conformados aos de Deus. 

Que a esperança da transformação sobrenatural e da consciência sobre os planos altíssimos abunde o seu coração se você tem sofrido com algo que lhe foi tirado ou está resistente em renunciar a algo que lhe agrada nesse momento. 

Confie no cuidado do Pai zeloso e deixe com que o propósito perfeito dele se cumpra em você.

Por: Lara Sayuri. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisão: Vinicius Lima. Editor: Renata Gandolfo.