Armadilhas da solteirice

A verdade libertadora para solteiros

Ao longo dos anos, alguns pensamentos equivocados sobre os solteiros, solteirice e casamento foram sendo sutilmente enraizados na igreja. Dentre eles, podemos citar a ideia de felicidade exclusivamente por meio casamento e de que essa fase da vida diz respeito apenas a quem se encontra nela.

Os perigos desses pensamentos não afetam somente os solteiros, mas todo o corpo de Cristo. Por isso, uma visão correta acerca do que Deus espera e enxerga sobre o período de solteirice é necessária, tanto para quem está passando por ele, quanto para quem já está em um relacionamento.

O apóstolo Paulo valoriza a solteirice, e a define como sendo um tempo especialmente útil para o serviço ao Senhor (1 Coríntios 7.25-40). Então, por que, em meio à solteirice, temos dificuldade de enxergá-la como uma bênção?

Nossas atitudes pecaminosas têm origem naquilo que pensamos e acreditamos em nosso coração. Por isso, separei algumas das principais mentiras e armadilhas que nos cercam quando o assunto é solteirice, ideias que tendem a nos levar ao descontentamento e à desconfiança em Deus. Nos próximos tópicos, iremos identificá-las e aprender o caminho para vencê-las, por meio da verdade libertadora da Palavra.

1. “Só serei plenamente feliz quando encontrar alguém”

É verdade que o casamento foi criado por Deus para representar seu amor pela igreja, e para glorificar seu nome de maneira única, algo que uma pessoa solteira não consegue fazer. Mas isso não significa que aqueles que não se casarem nunca alcançarão alegria plena. 

Nossa verdadeira satisfação deve estar no Criador dos relacionamentos, e não naquilo que Ele criou, pois, do contrário, corremos o sério risco de cair no pecado da idolatria.

“Portanto, tenham cuidado para não se esquecerem da aliança que o Senhor, seu Deus, fez com vocês. Não façam ídolos de qualquer aparência ou forma, pois o Senhor, seu Deus, proibiu isso.” Deuteronômio 4.23

Um ídolo é toda e qualquer coisa que colocamos em uma posição mais elevada em nossas vidas do que Deus. Desejos genuínos, como o casamento, também podem se tornar ídolos em nossos corações quando pecamos para conseguir o que queremos ou pecamos por não termos conseguido o que tanto queríamos.

Ao depositar nossa alegria em um futuro casamento, tiramos nosso foco de Jesus — o único capaz de satisfazer a principal necessidade do nosso coração: a restauração do nosso relacionamento com Deus.

Coloque sua esperança e alegria no Senhor. Ele já te deu muito mais do que você poderia pedir ou pensar.

2. “Só quando eu me casar, serei realmente amado por alguém”

Várias vezes nos sentimos solitários, e isso não é exclusivo para os solteiros. Maridos, esposas, mães, filhos, namorados, viúvos e todos os crentes fiéis estão suscetíveis a passar por momentos de solidão. Nossa cegueira espiritual tende a considerar uma interpretação pessoal da vida como verdade acima das promessas do Senhor.

Alegamos não sentir o amor de Deus por nós, mas isso diz muito mais sobre nosso coração corrompido e insensível do que sobre o caráter dele. Deus nos criou e nos ama, ele não muda, e isso é garantido pela Palavra. Qualquer pensamento que se distancie disso é um alerta de que nosso coração talvez não esteja confiando no que a Bíblia deixa claro.

“Também peço que, como convém a todo o povo santo, vocês possam compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo. Que vocês experimentem esse amor, ainda que seja grande demais para ser inteiramente compreendido. Então vocês serão preenchidos com toda a plenitude de vida e poder que vêm de Deus.” Efésios 3.18, 19 (ênfase da autora)

Só estaremos no caminho de compreender o amor de Deus se conhecermos quem ele é. E isso só é possível por meio das Escrituras. No processo de santificação, buscamos nos aproximar de Deus, e cultivar com ele o único relacionamento que é verdadeiramente essencial e capaz de preencher nossa vida com plenitude.

3. “Quando eu me casar, minha vida cristã irá melhorar”

O casamento não serve para atender nossas necessidades, fortalecer nossas fraquezas, nem enfatizar nossos pontos fortes. Embora possamos ver o quanto Deus usa essa ferramenta para moldar corações, o casamento não é o ambiente exclusivo para mudanças, nem deve ser a motivação para tal. 

É certo que o desenvolvimento da piedade, além da prática devocional, vem por meio de boas companhias. Mas isso não se limita ao seu cônjuge. Deus, em Sua graça, coloca pessoas para nos ajudar nesse processo. Então, aproxime-se de irmãos fiéis e dispostos a te exortar e te acompanhar, mas lembre-se de que seu crescimento espiritual é responsabilidade exclusiva sua. 

Se você possui o desejo de se casar, busque boas referências em sua igreja, aproxime-se de famílias que projetam a glória de Deus e aprenda com elas. Não espere se casar para viver de forma irrepreensível! Se você não tem uma vida correta hoje, dificilmente a terá quando estiver amorosamente ligado a outro pecador.

Se você é casado, aproxime-se de solteiros que estão buscando por direcionamento e busque auxiliá-los em graça.

Se você está solteiro, busque a companhia de outros solteiros, e se juntem para fazer esse tempo valioso para o serviço do Reino. Seguir a Cristo é um mandamento que nunca teve a intenção de ser um trabalho individual, ainda que solteiro.

4. “Quando eu me casar, poderei servir de verdade”

Um relacionamento não irá resolver sua agenda, organizar sua vida, nem te impulsionar ao serviço, se você já não faz isso hoje.

Esteja aberto a oportunidades de servir e abençoar outras pessoas, ainda que, por vezes, não se sinta tão disposto. Dizer “sim” de forma rápida e com prontidão nem sempre será possível quando você tiver outra pessoa a quem precisa consultar antes de assumir um compromisso.

Portanto, esteja sensível às necessidades com as quais você pode contribuir hoje, seja com seu tempo, dinheiro, conhecimento, ou seu vigor.

5. “Eu estou solteiro porque tem algo de errado comigo”

Antes de confrontar as mentiras que acreditamos (e me incluo, aqui, no grupo dos solteiros), preciso alertar aos demais da comunidade cristã sobre essa armadilha de pensamento.

“Você não está de olho em ninguém?”

“E fulano, o que você acha?”

“Acho que você combina com aquela pessoa!”

“Você nunca tentou nada com ele(a)?”

“Eu vou te ajudar! O que acha de eu falar de você para ele(a)?” 

Perguntas e afirmações como essas são, frequentemente, proferidas por crentes fiéis, casados, ou que já estão em algum tipo de relacionamento. Eu entendo que, muitas vezes, a intenção é ajudar, dar aquele “empurrãozinho”, mas esses comentários não incentivam o coração do solteiro a permanecer confiante e dependente da soberania de Deus.

Essas perguntas revelam uma mentira que se tornou aceitável, a ponto de parecer comum — a mentira de que o casamento é uma necessidade, e que quem está solteiro precisa encontrar alguém o mais rápido possível, antes que seja “tarde demais”.

Esse tipo de pressão colocada sobre os solteiros (ainda que com a intenção de ajudar) não resolve nada. Pelo contrário, somos levados a considerar novas opções apenas para mudar nosso status, e sentimos que somos o fator determinante para o desenvolvimento de uma relação. Assim, tentamos manipular algo que deveria ser natural e direcionado por Deus. Tentamos tomar o controle das nossas vidas quando mais deveríamos entregá-lo ao Senhor.

“Por fim, irmãos, quero lhes dizer só mais uma coisa. Concentrem-se em tudo que é verdadeiro, tudo que é nobre, tudo que é correto, tudo que é puro, tudo que é amável e tudo que é admirável. Pensem no que é excelente e digno de louvor.” Filipenses 4.8 (ênfase da autora)

Em outras palavras, o que o texto está dizendo é: “Apegue-se ao que é verdadeiro, não deixando com que os seus sentimentos e percepções o guiem, mas sim o que vem do próprio Deus”.

Então, solteiros, partindo do pressuposto de que vocês têm buscado crescer em piedade, e colocado, como alvo primário de suas vidas se tornarem semelhantes a Jesus, entendam isso: o fato de não estar em um relacionamento não é decorrente de um problema de personalidade ou de suas características físicas e pessoais. Em última análise, essa é a vontade soberana de Deus para a sua vida no momento, e é essa esperança desafiadora que deve ocupar o seu coração.

No entanto, tome cuidado para simplesmente não trocar a preocupação excessiva com o casamento por outras distrações. Use, com sabedoria, seu tempo como solteiro e não o desperdice com a justificativa de estar descansando em Deus. 

Solteiro sim, sozinho nunca

Querida irmã, se você já tem caminhado em passos de obediência, maturidade e dependência, continue nesse caminho, com a confiança de que Deus faz o melhor para seus filhos, e que, sendo assim, a solteirice é o melhor que ele tem para você hoje.

Mas, se você tem se desestabilizado por medo do futuro e falhado em confiar sua vida amorosa ao Senhor, ou ainda se tem erguido ídolos em seu coração — Arrependa-se! Deus não se cansa dos nossos recomeços. 

Se você já passou pela fase da solteirice, ajude seus irmãos solteiros a confiarem no Senhor. Seu papel não é juntar casais, Deus não te chamou para isso e esse é um assunto no qual não devemos desejar interferir com nossas próprias mãos.

“Solteiro sim, sozinho nunca”. Essa pode ser uma grande verdade para aqueles que andam com o Senhor e tem o apoio da comunidade da fé.


Para saber mais sobre este assunto, recomendamos o livro Ainda não casei, de Marshall Segal, Editora Fiel.

Por: Lara Sayuri. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisão: Vinicius Lima. Editor: Renata Gandolfo.