Conhecendo o Deus Todo-Poderoso e nos relacionando com Ele

Conhecer a Deus em sua soberania é libertador

A graça de Deus se manifesta no fato dele possibilitar a nós conhecê-lo em sua soberania. Portanto, conhecer a Deus é um dom da graça. Aliás, nas palavras de Packer, é o “dom supremo”.[1]

Este conhecimento, por sua vez, nos liberta para que possamos conhecer a nós mesmos e as demais coisas da realidade. Somente por obra e graça de Deus poderemos enxergar com clareza o que posto diante de nós reivindica ser realidade e aquilo que nos escondem, como se não existisse, mas, que, de fato tem o seu valor e significado. Somente Deus nos fornece uma estrutura de referência que confere sentido à realidade e, portanto, à nossa vida.[2]

Salmo 11 – Maus conselhos de bons amigos

Tomemos um caso específico. No Salmo 11 vemos que a vida de Davi está em perigo. Os fundamentos do seu reino estão ameaçados. Seus amigos aconselham-no a fugir para as montanhas onde teria melhor abrigo.

No entanto, o salmista indaga a respeito desta atitude, considerando-a inadequada (Sl 11.1-3). É possível[3] que este salmo tenha sido escrito no tempo em que Absalão preparava de forma sorrateira uma rebelião contra seu pai para tentar assumir o trono.[4]

Em princípio o conselho que fora dado não lhe era estranho. Afinal, Davi já tivera a experiência de esconder-se nos montes devido à perseguição de Saul, no entanto, o texto no livro de Samuel nos diz: “Permaneceu Davi no deserto, nos lugares seguros, e ficou na região montanhosa no deserto de Zife. Saul buscava-o todos os dias, porém Deus não o entregou na sua mão” (1Sm 23.14).

Um princípio teológico

Davi sabia que quem lhe protegia não eram os montes, mas, Deus. Ele tinha consciência de que não podemos substituir Deus pelos montes ou por qualquer elemento que se transforme em abrigo para nós. É Deus quem criou e sustenta os montes. Os montes podem servir como instrumentos de proteção, no entanto, quem nos protege é Deus. Por isso, Davi rejeita o conselho de seus amigos, porque se refugia em Deus (Sl 16.1; 36.7).[5]

Davi também não apelou para uma suposta bondade sua, ou para uma pergunta retórica: “O que eu fiz para merecer isso?”, antes, tem uma perspectiva objetiva dos fatos, ainda que não se limite à percepção de seus conselheiros.

Nesta rejeição, que poderia parecer mera teimosia, há, na realidade, uma questão de princípio teológico; uma experiência de fé. A nossa fé é sempre um transpirar de nossa teologia. A nossa teologia fundamenta e educa a nossa fé.[6]

A fé experienciada, ilustra de modo decisivo a teologia que seguimos e a fortalece em suas convicções bíblicas. Por sua vez, uma teologia não possível de ser experimentada, quer em sua essência, quer em seus efeitos, não é uma teologia genuinamente bíblica. Revelação é o Deus pessoal em ação se dando a conhecer, possibilitando o nosso falar e vivenciar a partir do que conhecemos dele. O nosso conhecimento de Deus determina o modo como o cultuamos.

No caso de Davi isso é evidente. Ele, sem dúvida, pode se valer da fuga, contudo, tem diante de si a convicção de que seu socorro está em Deus. É dentro desta perspectiva que deve caminhar. A sua visão teológica regia a sua percepção e, consequentemente a sua atitude.

Fé bem fundamentada: Rei Santo

A fé de Davi tem seu fundamento em Deus. Ele conhece a Deus. Os seus atributos ele mantém diante de si. Escreve: “O SENHOR está no seu santo templo (heykal); nos céus tem o SENHOR seu trono (kisse) [7] os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens” (Sl 11.4).

 

Davi tem como um dos fundamentos de sua fé, a certeza de que Deus reina. Ele é santo e rei: “Nos céus tem o Senhor o seu trono” (Sl 11.4). O trono celestial de Deus é o seu verdadeiro templo (heykal) (Mq 1.2; Hc 2.20).[8]

Seus amigos têm uma visão apenas terrena, enquanto Davi vai além da aparente onipresença dessa crise, que sabe ser circunstancial.  O difícil para nós é enxergar de forma confiante as circunstâncias como tais, sem permitir que o nosso coração perenize a dor em ansiedade paralisante e destrutiva, duvidando de forma velada da promessa de Deus.[9]

O Reino de Deus é o reinado de Deus. O seu governo absoluto sobre todas as coisas, visíveis e invisíveis. A sua providência é exercida sobre todos os homens; nada lhe escapa.  O seu governo é sobre tudo e todos.[10]

Todo poder provém e é sustentando por Deus

Todo o poder é derivado de Deus. Toda autoridade tem a Deus como Autor supremo. Confiar em qualquer manifestação de poder ou autoridade fora de Deus é pura tolice. Deus é a fonte de todo o poder. Todo poder está em Deus e todo poder é preservado por Ele. Fora de Deus nada nem ninguém pode autoexistir. Como autor de todas as coisas, Ele tem autoridade sobre toda a realidade e poderes.[11]

O Deus soberano com a sua vontade perfeita tem todo o poder. O Reino e a Glória lhe pertencem eternamente. Nada lhe é acrescentado ou retirado. Sua soberana vontade é caracterizada pela perfeição: a sua vontade é perfeita (Rm 12.2) envolvendo todas as nossas necessidades.

Davi sabia quem era o seu Deus: Aquele que reina sobre todas as coisas, inclusive sobre seus inimigos. Por isso, não há impedimentos na concretização de suas promessas. É justamente isso que diz o anjo a Maria, surpresa, diante de sua gravidez anunciada: “Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1.37).

 

O prazer e a suficiência de Deus estão nele mesmo. Deus não precisa de meios para executar o que quer. Como bem escreve Hodge (1797-1878): “Esta simples ideia da onipotência de Deus, de que Ele pode fazer sem esforço, mediante volição, tudo o que quer, é a ideia de poder mais elevada e mais claramente apresentada nas Escrituras”.[12]

O Rei pagão, Nabucodonosor, extasiado diante do poder manifesto do Senhor, pela graça comum de Deus pôde exclamar genuinamente: “Segundo a sua vontade Ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35).

A Escritura nos relata que Deus é livre para usar os anjos, os eleitos, os ímpios, Satanás, uma jumenta, os montes, etc. Ele é quem determina os fins e os meios pelos quais atuará. Ele é Senhor dos meios e dos fins. Os meios se tornam caminhos intermediários porque assim Deus os determinou. Portanto, ainda que as evidências apontassem para outra direção, Davi tinha como fundamento de sua fé a certeza da soberania do Deus santo.

Deus nos observa com atenção

É preciso que entendamos que a soberania de Deus não significa algo abstrato, antes, o seu cuidado para conosco: “Os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens” (Sl 11.4).

A figura quer demonstrar que Deus observa com atenção. A sua soberania não é distante, indiferente, ou obra do gênio inventivo do homem. Antes, é um Deus que se revela, dando-se a conhecer, demonstrando na Escritura o seu providente cuidado.

Ao mesmo tempo em que as Escrituras nos falam de um Deus transcendente, anterior à criação, majestoso e glorioso, aquele de quem tudo provém, ensina-nos também que este Deus se relaciona conosco.

A revelação de Deus começa pela criação de todas as coisas. “Ao criar o mundo por sua palavra e dar-lhe vida através de seu Espírito, Deus delineou os contornos básicos de toda a revelação subsequente”, interpreta Bavinck.[13]

O nosso Deus é um Deus transcendente e presente. Ele tem o controle de toda situação, de toda esta crise que o salmista está vivendo. Portanto, mais do que um simples exercício intelectual, a soberania de Deus é um desafio à nossa confiança no Deus poderoso e providente.

Jesus Cristo, no Sermão do Monte, nos instrui:

 

Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo quanto ao que haveis de vestir (…). Não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal. (Mt 6.25,34).

 

Paulo, preso, seguindo os ensinamentos de Cristo, escreve aos filipenses: “Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça” (Fp 4.6).

Calvino de forma bíblica e, com longa experiência espiritual a respeito dessa realidade, escreveu: “É pela fé que tomamos posse de sua providência invisível”.[14]

Deus sabe do que necessitamos

Deus sabe das nossas necessidades. O saber de Deus não é apenas intelectual: Deus sabe e por isso cuida (Mt 6.8). Ele não dorme, antes, sabe do que necessitamos antes mesmo que tenhamos consciência das nossas necessidades.

A Bíblia também nos ensina que Deus nem sempre nos dá aquilo que pedimos; entretanto, sempre nos dá aquilo de que necessitamos de fato e de verdade, mesmo que nem ainda tenha penetrado em nosso coração a realidade da carência. A nossa demorada consciência de nossas próprias carências não escapa à providência de Deus, nem à sua graciosa provisão.

Foi assim desde o início. No Éden, a constatação de Deus é que não seria bom para o homem permanecer só. É Deus mesmo quem percebe a necessidade ainda imperceptível ao homem. Tudo na criação era bom, exceto a solidão do homem. “Deus pôs o dedo na única deficiência existente no Paraíso”, interpreta Ortlund, Jr.[15]  Waltke acentua que a declaração “é altamente enfática. Essencialmente, é ruim para Adão viver sozinho”.[16]

Gênesis inicia-se com uma belíssima descrição do cuidado de Deus para com suas criaturas. Nas palavras de Waltke,

 

As cenas da criação são pintadas como se um artista as visualizasse: Deus, como o oleiro, formando o homem; como jardineiro, designando um jardim de beleza e abundância; e como um edificador de templo, tomando a mulher da costela do homem.[17]

 

O paraíso não era o céu.[18] O homem ainda não havia percebido isso, no entanto, Deus sabia que a solidão lhe faria mal. A carência vai se tornar evidente: Deus passou diante de Adão todos os animais para que ele pudesse nominá-los, distinguir cada uma das espécies.

Todavia, entre toda a criação, não há uma companheira a altura do homem. Como ser sociável que é,[19] o homem necessitará de compartilhar conhecimentos e afetos; amar e ser amado. O homem, de fato, foi criado por Deus para viver em companhia de seus semelhantes, mantendo uma relação de ideias, valores e sentimentos. A permanecer assim, os seus sentimentos mais profundos permanecerão guardados; ele não terá um ser igual com quem possa conversar, compartilhar, amar, se emocionar, ensinar, aprender, se divertir. No entanto, o mesmo Deus que criou o homem, propõe-se a criar a sua companheira (Gn 2.21-22).

Deus como uma espécie de “pai da noiva”[20] (“padrinho de casamento”), leva-a até o noivo (Gn 2.22).[21] Adão aprovou a nova criação de Deus. As primeiras palavras do homem registradas nas Escrituras, se configuram de forma poética: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gn 2.23). Agora tornou-se possível uma relação satisfatória para o homem e, ao mesmo tempo, eles poderão se perpetuar por meio da procriação – como ato que reflete a sua identidade de amor e complemento –, enchendo a terra e sujeitando-a, conforme a ordem divina (Gn 1.28). O Paraíso está pronto para se expandir.[22]

Robertson comenta: “O ‘ser uma só carne’ descrito nas Escrituras não se refere simplesmente aos vários momentos da consumação marital. Em vez disto, esta unidade descreve a condição permanente de união alcançada pelo casamento”.[23]

Deus não nos é indiferente

Deus nos deu a sua Palavra e, nos empresta seus ouvidos para que possamos falar com Ele. Ele nos ouve em todas as circunstâncias. A sua Palavra deve ser o estímulo e o conteúdo de nossas orações.

Os salmistas, entre tantos outros servos de Deus, em suas angústias, diversas vezes se alimentavam na certeza de que Deus ouve as suas orações: “Tens ouvido (shama),[24] SENHOR, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acudirás” (Sl 10.17), expressa o salmista de modo confiante a sua vivência de fé.

Ainda que sejamos tentados em nossa precipitação a achar que Ele está distante ou muito ocupado, Deus sempre ouve com atenção as nossas súplicas. É o que demonstra Davi em outro Salmo: “Eu disse na minha pressa: estou excluído da tua presença. Não obstante, ouviste (shama) a minha súplice voz, quando clamei por teu socorro” (Sl 31.22).[25]

Como Pai, Deus nos escuta atentamente quando nos dirigimos a Ele com fé e, até mesmo, por vezes, em nossos desatinos e confusões espirituais.

 

Davi nos ensina e consola na certeza de que “os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor” (Sl 34.15).

Ele cuida permanentemente de nós: “Ele não permitirá que os teus pés vacilem: não dormitará aquele que te guarda. É certo que não dormita nem dorme o guarda de Israel” (Sl 121.3-4).

O seu cuidado é pessoal. Deus, o nosso Pai, cuida de cada um de nós como se fôssemos o único que Ele teria para cuidar. Ele cuida “pessoalmente” de nós.[26] As nossas orações são o testemunho desta certeza. O Deus que preservou a Elias, enviando os corvos para lhe levarem alimento (1Rs 17.1-6), é o mesmo que é o nosso Pai onisciente e providente. Portanto, podemos fazer eco ao testemunho de fé e vida de Davi: “O Senhor, tenho-o sempre à minha presença; estando Ele à minha direita não serei abalado” (Sl 16.8).

Salmo 65 – As pegadas abençoadoras de Deus

O salmo 65, escrito por Davi, parece ter sido composto para o uso no santuário durante uma festa anual, possivelmente na Festa dos Tabernáculos, quando o povo lembrava o êxodo do Egito e as suas peregrinações no deserto. Esta festa ocorria cinco dias após o Dia da Expiação e prosseguia por sete dias (Lv 23.27-34).

O contexto do salmo indica a certeza do povo de ter se reconciliado com Deus, manifestando-se esta reconciliação em uma safra abundante (Lv 23.25-22/At 14.17)

Rememorando a majestade e as manifestações do poder de Deus, de forma poética o salmista nos fala das pegadas de Deus: “As tuas pegadas destilam fartura” (Sl 65.11).

Kidner (1913-2008) comenta: “As pegadas são as de um veículo para carregar produtos agrícolas; trata-se de uma figura poética para representar a ação de Deus em derramar as chuvas serôdias enquanto passa, deixando a abundância pelo caminho”.[27] Da mesma forma Schökel (1920-1998) e Carniti: “Etimologicamente, é a trilha ou sinal que os carros deixam passando repetidas vezes; também os sulcos”.[28]

Pelas “pegadas” de um veículo, por exemplo, podemos avaliar o tipo de veículo, a frequência naquele itinerário, peso total, etc. Nesse salmo Davi realça as pegadas fartas e abundantes das bênçãos de Deus sobre o povo (Sl 65.12/ Sl 36.8; 63.5/Sl 92.12-13).

É fundamental que consideremos com atenção a história, desenvolvendo a nossa percepção espiritual, para que os nossos olhos vejam a eloquência dos feitos de Deus. Desse modo, possamos ter um vislumbre mais completo de como o Senhor, nosso Rei e Pastor tem nos abençoado.

Agostinho (354-430) escreveu com maestria, nos conduzindo à gratidão e ao louvor sincero:

Quando Deus nos abençoa, nós crescemos, e quando bendizemos ao Senhor, também crescemos; ambas as coisas são para o nosso proveito. (…) A bênção do Senhor vem-nos em primeiro lugar, e por consequência também nós bendizemos ao Senhor. A primeira é a chuva, e esta é o fruto. Por isso estamos entregando a Deus, o agricultor, que nos manda a chuva e nos cultiva, o fruto que produzimos. Cantemos estas palavras com devoção, mas não estéril, nem só de voz, mas com um coração sincero.[29]

 

Oração como antídoto para ansiedade

Muitas de nossas angústias resultantes de pequenas coisas e algumas incertezas são o resultado da nossa falta de confiança em Deus e do seu cuidado.

Um dos pontos distintivos do Cristianismo é a certeza de que Deus não nos deixa à mercê de nossa sorte, antes, que ele cuida pessoalmente de nós, amparando-nos, disciplinando, consolando, estimulando e fortalecendo.

O Deus Todo-Poderoso cuida de nós. Jesus Cristo nos instrui e consola:

 

29 Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. 30 E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados. 31 Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais. (Mt 10.29-31/Mt 6.25-34).[30]

 

Portanto, o melhor antídoto[31] contra o veneno da ansiedade que, aparentemente sem motivo, domina o nosso coração pecador em meio aos problemas próprios de nossa existência, é a oração sincera e confiante, por meio da qual expomos a Deus as nossas dúvidas, temores e confiança.[32]

Não podemos combater a ansiedade apenas argumentando contra ela. A oração sincera e submissa é o caminho para a paz em nossa mente e coração. Paulo instrui os filipenses:

6 Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. 7 E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus. (Fp 4.6-7).

 

Quando confiamos em Deus e depositamos sobre Ele as nossas angústias, podemos usufruir da sua paz que guarda a nossa mente e o nosso coração. A paz de Deus não significa, necessariamente, o escape do problema, ou um estado ideal de imperturbabilidade (“ataraxia” e “apatheia”)[33] como queriam os gregos;[34] mas, a paz em meio à dificuldade resultante da nossa confiança em Deus. (Sl 3. 4).

 

Motyer (1924-2016), comentou: “A oração produz uma alegria maior do que a que o mundo pode dar, por meio da paz e segurança que o Senhor pode proporcionar”.[35]

De certo modo, a oração é educativa na escola da adversidade. Portanto, “a oração é um antídoto para todas as nossas aflições”.[36] Por meio da oração podemos encontrar o lenitivo para as nossas almas.

Desse modo, orar é exercitar a nossa confiança no Deus da Providência, sabendo que nada nos faltará, porque Ele é o nosso Pai. Esse Pai é o Senhor. O Senhor é o nosso Pastor.

Calvino nos orienta pastoralmente: “Sempre que o Senhor nos mantém em suspenso e retarda seu socorro, não significa que Ele esteja inativo, mas, ao contrário, que regula suas operações de tal modo que só age no tempo determinado”.[37]

Portanto, cresçamos no conhecimento de Deus; exercitemos a nossa fé em sua Palavra, sabendo que o nosso Senhor Todo-Poderoso cuida de nós. Amém.

 

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[1] “Conhecer a Deus é o dom supremo da graça de Deus” (J.I. Packer, Conhecendo Deus: o mundo e a Palavra. In: Gabriel N.E. Fluhrer, ed. Firme Fundamento: A inerrante Palavra de Deus em um mundo errante, Rio de Janeiro: Anno Domini, 2013, p. 16).

[2]Alister E. McGrath, Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e o sentido das coisas, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 180.

[3] Cf. C.F. Keil; F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, (1871), v. 5, (I/III), (Sl 11), p. 186.

[4] Há quem pense que o contexto deste salmo é o período no qual Davi fugia de Saul (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 11), p. 233; F.B. Meyer, Joyas de los Salmos, 2. ed., Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1972, p. 18; Leslie S. M’Caw, Salmos: In: F. Davidson, ed., O Novo Comentário da Bíblia, São Paulo: Vida Nova, 1976 (reimpressão), p. 508; J.A. Motyer, Salmos. In: D. A. Carson, et. al., orgs. Comentário Bíblico: Vida Nova, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 747; Spurgeon e Simeon Cf. James M. Boice, Psalms: an expositional commentary, Grand Rapids, MI.: Baker Book House, 1994, v. 1, (Sl 11), p. 91). Se o Salmo foi escrito durante o período de Saul ou de Absalão, é uma “controvérsia perpétua” (Cf. Ernst W. Hengstenberger; John Thomson, Commentary of the Psalms, Tennessee: General Books, 2010 (Reprinted), (Sl 11), v. 1, p. 119). Por isso a indefinição: H.C. Leupold, Exposition of The Psalms, 6. impressão, Grand Rapids, MI.: Baker, 1979, p. 125. Para uma visão panorâmica das interpretações clássicas, veja-se: W.S. Plumer, Psalms, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, © 1867, 1975 (Reprinted), p. 164. Ainda que isso não tenha um caráter decisivo, penso que especialmente devido à construção do verso três quando Davi fala de destruir os fundamentos, inclino-me a pensar que o Salmo foi escrito quando ele já era rei de Israel, havendo, portanto, uma subversão da ordem por meio de Absalão.

[5]“Guarda-me, ó Deus, porque em ti me refugio” (Sl 16.1). “Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas” (Sl 36.7).

[6]Henry (1913-2003) escreveu com propriedade: “Sem diretrizes doutrinárias claras e críveis, a experiência cristã definha em convicção, da mesma forma que o assentimento doutrinal vazio de apropriação pessoal resulta no empobrecimento espiritual”  (Carl F.H. Henry, O Resgate da Fé Cristã,  Brasília, DF.: Monergismo, 2014, p. 25). “Todo esforço de falar em sentido dogmático a respeito de Deus apenas com base na percepção sensorial ou na experiência humana é vulnerável e malfadado” (Carl F.H. Henry, O Resgate da Fé Cristã, p. 60).

[7]Indica a realeza, perenidade, autopoder e o justo juízo de Deus. Ele é o Senhor dos senhores. Ele, com o seu poder estável e perene, é quem estabelece ou tira o trono do rei: “Porque sustentas o meu direito e a minha causa; no trono (kisse) te assentas e julgas retamente” (Sl 9.4). “Mas o SENHOR permanece no seu trono (kisse) eternamente, trono que erigiu para julgar” (Sl 9.7) “O teu trono (kisse), ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu rei” (Sl 45.6). “Deus reina sobre as nações; Deus se assenta no seu santo trono (kisse) (Sl 47.8). “Justiça e direito são o fundamento do teu trono (kisse); graça e verdade te precedem” (Sl 89.14). “Desde a antiguidade, está firme o teu trono; tu és desde a eternidade” (Sl 93.2). “Nuvens e escuridão o rodeiam, justiça e juízo são a base do seu trono (kisse) (Sl 97.2). “Nos céus, estabeleceu o SENHOR o seu trono (kisse), e o seu reino domina sobre tudo” (Sl 103.19). “Tu, SENHOR, reinas eternamente, o teu trono (kisse) subsiste de geração em geração” (Lm 5.19). (Veja-se: John N. Oswalt, Kisse: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 734-735).

[8] Veja-se: Leonard J. Coppes, Hêkãl: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 352-354.

[9]Veja-se: John MacArthur Jr., Abaixo a Ansiedade, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p.  51.

[10] “Cada um de nós é rei ou rainha sobre um pouco. O reino de Deus está ‘sobre tudo’, como o salmista gostava de dizer” (Cornelius Plantinga Jr., O Crente no Mundo de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 110).

[11] “Quando falamos de soberania divina, estamos falando sobre autoridade de Deus e sobre o poder de Deus. Como soberano, Deus é a suprema autoridade do céu e da terra. Toda outra autoridade é uma autoridade menor. Toda outra autoridade que existe no universo é derivada e dependente da autoridade de Deus. Todas as outras formas de autoridade existem ou pela ordem de Deus ou pela permissão de Deus.

“A palavra autoridade contém em si a palavra autor. Deus é o autor de todas as coisas sobre as quais Ele tem autoridade. Ele criou o universo. Ele possui o universo. Sua propriedade lhe dá certos direitos. Ele pode fazer com seu universo o que for agradável à sua santa vontade.

“Da mesma maneira, todo o poder no universo flui do poder de Deus. Todo o poder no universo é subordinado a Ele. Até mesmo Satanás não tem poder para agir sem a soberana permissão de Deus.

“Cristianismo não é dualismo. Não cremos em dois poderes extremos iguais, trancados numa luta eterna pela supremacia. Se Satanás fosse igual a Deus, não teríamos nenhuma confiança, nenhuma esperança do bem triunfando sobre o mal. Estaríamos destinados a um impasse eterno entre duas forças iguais e opostas” (R.C. Sproul, Eleitos de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 19-20).

[12]Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos Editora, 2001, p. 307.

[13]Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Prolegômena, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 308.

[14]João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 13.1), p. 262.

[15]Raymond C. Ortlund, Jr., Igualdade Masculino-Feminina e Liderança Masculina: In: John Piper; Wayne Grudem, compiladores, Homem e Mulher: seu papel bíblico no lar, na igreja e na sociedade, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 1996, p. 38.

[16]Bruce K. Waltke; Cathi J. Fredericks, Gênesis, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 104.

[17]Bruce K. Waltke; Cathi J. Fredericks, Gênesis, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 94.

[18]Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 584.

[19]Ver: Aristóteles, A Ética, I.7.6. e A Política, I.1.9. Do mesmo modo, G.W. Leibniz, Novos Ensaios, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 19), III.1.1. p. 167. Calvino (1509-1564), escreveu: “O homem é um animal social de natureza, consequentemente, propende por instinto natural a promover e conservar esta sociedade e, por isso, observamos que existem na mente de todos os homens impressões universais não só de uma certa probidade, como também de uma ordem civil” (João Calvino, As Institutas, II.2.13). Em outro lugar, entendendo que o princípio de que não seja bom que o homem viva sozinho não se restringe a Adão, diz que “o homem foi formado para ser um animal social”, acrescenta: “Mas ainda que Deus declarasse, no que respeita a Adão, que não lhe seria proveitoso viver sozinho, contudo não restrinjo a declaração unicamente à sua pessoa, mas, antes, a considero como sendo uma lei comum da vocação do homem, de modo que cada um deve recebê-la como dita a si próprio: que a solidão não é boa, excetuando somente aquele a quem isenta como que por um privilégio especial” (John Calvin, Commentaries on The First Book of Moses Called Genesis, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996 (Reprinted), v. 1, (Gn 2.18), p. 128).

[20]Cf. Gerhard von Rad, Genesis: A Commentary, 3. ed. (Revised Edition), Bllombsbury Street London: SCM Press Ltd., 1972, (Gn 2.21-23), p. 84.

[21] Cf. Gerhard von Rad, El Libro del Genesis, Salamanca: Sigueme, 1977, (Gn 2.22), p. 101.

[22] Diz a Confissão de Westminster: “O matrimônio foi ordenado para o auxílio mútuo de marido e mulher, para a propagação da raça humana por uma sucessão legítima, e da Igreja por uma semente santa, e para evitar-se a impureza. Ref. Gn 2.18 e 9.1; Ml 2.15; 1Co 7.2,9” (Confissão de Westminster, XXIV.2).

[23] O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, p. 68. “A relação em ‘uma só carne’ envolve mais do que sexo; é a fusão de duas vidas em uma; é consentir em compartilhar a vida juntos, através do pacto do casamento; é a completa entrega de si mesmo a um novo círculo de existência, ao lado de um companheiro” (Raymond C. Ortlund, Jr., Igualdade Masculino-Feminina e Liderança Masculina: In: John Piper; Wayne Grudem, compiladores, Homem e Mulher: seu papel bíblico no lar, na igreja e na sociedade, p. 39).

[24] A palavra quando se refere a Deus como aquele que ouve, tem o sentido de ouvir e responder.

[25]8Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade, porque o SENHOR ouviu (shama) a voz do meu lamento; 9 o SENHOR ouviu (shama) a minha súplica; o SENHOR acolhe a minha oração” (Sl 6.8-9).

[26]Agostinho (354-430) exulta: “Ó bondosa Onipotência que olhais por cada um de nós como se dum só cuidásseis, velando por todos como por cada um!” (Agostinho, Confissões, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 6), 1973, III.11.19, p. 67). (Ver também, J. Calvino, As Institutas, I.17.6).

[27] Derek Kidner, Salmos 1-72: introdução e comentário, São Paulo: Mundo Cristão/Vida Nova, 1980, v. 1, (Sl 65.11), p. 254.

[28] Luís Alonso Schökel; Cecília Carniti, Salmos I: 1-72, São Paulo: Paulus, 1996, p. 827.

[29] St. Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulus, 1997, v. 2 (Sl (67) 66.1), p. 361.

[30] Bridges (1929-2016) desenvolve bem as implicações desta compreensão. Veja-se: Jerry Bridges, A Vida Frutífera, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 75-77.

[31]“A oração é o nosso principal meio de combater a ansiedade” (John MacArthur Jr., Abaixo a Ansiedade, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 31). “Este [a oração] é o único remédio que pode aplacar nossos temores, a saber, lançar sobre ele todas as preocupações que nos atribulam” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 3.1-2), p. 82).

[32]Calvino comentando Rm 12.12, enfatiza que “a diligência na oração é o melhor antídoto contra o risco de soçobrarmos” (João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 12.12), p. 438). “O grande antídoto para ansiedade é aproximar-se de Deus em oração” (Jerry Bridges, A Vida Frutífera, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 76).

[33] Cf. Ataraxia: In: Arnaldo Schüler, Dicionário Enciclopédico de Teologia, Canoas, RS.: Ed. ULBRA, 2002, p. 68-69.

[34] Veja-se: W. Foerster, Ei)rh/nh: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982 (Reprinted), v. 2, p. 400-402.

[35]J.A. Motyer, Salmo: In:  D.A. Carson, et. al., eds. Comentário Bíblico: Vida Nova, São Paulo: Vida Nova, 2009, (Sl 4.8), p. 742.

[36]John Calvin, Commentary of the Book of Psalms, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House (Calvin’s Commentaries, v. 6/4), 1996 (Reprinted), (Sl 118.5), p. 379.

[37]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 2.4),  p. 91.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.