O Senhor e a sua Palavra que alegra o nosso coração

A verdadeira alegria vem de Deus e sua Palavra

Os caminhos de Deus são para serem conhecidos e seguidos

O salmista não desejou conhecer os caminhos do Senhor apenas intelectualmente, para quem sabe, destilar arrogantemente durante um “edificante” debate, seu amplo e profundo conhecimento das Escrituras, evidenciando, talvez até com um ar de humildade, como quem supõe ter o domínio intelectual do modo de Deus nos conduzir.

Pelo contrário, Davi desejava conhecer para seguir com integridade as suas veredas: “Faze-me, SENHOR, conhecer (yada) os teus caminhos (derek), ensina-me (lamad) as tuas veredas (orach)” [1] (Sl 25.4).

O Autor da Palavra nos ensina a ler a Palavra

Portanto, devemos buscar e suplicar pelo ensino de Deus. Ele que é o Autor da Palavra, é também, quem nos ensina a lê-la. Esta é a oração persistente de servos de Deus:

Bendito és tu, SENHOR; ensina-me (למד)(lamad) os teus preceitos. (Sl 119.12).

Eu te expus os meus caminhos, e tu me valeste; ensina-me  (למד) (lamad) os teus decretos. (Sl 119.26).

A terra, SENHOR, está cheia da tua bondade; ensina-me (למד)(lamad)  os teus decretos. (Sl 119.64).

Ensina-me (למד)(lamad)  bom juízo e conhecimento, pois creio nos teus mandamentos. (Sl 119.66).

Tu és bom e fazes o bem; ensina-me (למד)(lamad)  os teus decretos. (Sl 119.68).

As tuas mãos me fizeram e me afeiçoaram; ensina-me (bîyn) para que aprenda (למד)(lamad) os teus mandamentos. (Sl 119.73).

Ensina-me (bîyn) a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano. (Sl 143.10) (Do mesmo modo: Sl 119.108,124,135).

Davi e os demais servos de Deus quando assim oravam, estavam firmados na promessa de Deus, que diz: Instruir-te-ei (sakal) e te ensinarei o caminho (derek) que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho” (Sl 32.8). Outra vez: “No caminho (derek) da sabedoria te ensinei, e pelas veredas da retidão te fiz andar” (Pv 4.11).

O propósito de Deus em nos ensinar é para que, obedecendo às suas instruções,  usufruamos de suas promessas preparadas de forma graciosa para os seus filhos: “Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino (למד)(lamad), para os cumprirdes, para que vivais, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR, Deus de vossos pais, vos dá” (Dt 4.1). (Do mesmo modo: Dt 4.5,14; 5.1,31; 6.1).

Deus conhece os nossos caminhos: “Esquadrinhas o meu andar (xr;ao) (orach) e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos (derek) (Sl 139.3).

Caminho preventivo e corretivo

Seguir o caminho de Deus nos faz desviar de caminhos perigosos e perniciosos que fatalmente seguiríamos: “Quanto às ações dos homens, pela palavra dos teus lábios, eu me tenho guardado dos caminhos (orach) do violento” (Sl 17.4).

O caminho de Deus, antes de ser corretivo,  é preventivo. Nesse sentido, pergunta o salmista: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho (orach)? Observando-o segundo a tua palavra” (Sl 119.9).

À frente declara a sua prática santamente assimilada: “De todo mau caminho (orach) desvio os pés, para observar a tua palavra” (Sl 119.101). No caminhar progressivo de aprendizado e obediência, testifica: “Por meio dos teus preceitos (piqqud), consigo entendimento (bin); por isso, detesto todo caminho (orach) de falsidade” (Sl 119.104/Sl 119.128).

Portanto, seguir o caminho de Deus é a única maneira de viver com sabedoria. A nossa humanidade se desenvolve e se aperfeiçoa na obediência a Deus.[2] A obediência é a fé manifestada. A fé é a obediência oculta.

Desse modo, aprendemos biblicamente, que o meditar na Palavra é o prelúdio à obediência sincera: Meditarei (siach) nos teus preceitos (piqqud) (= Estatutos), e às tuas veredas (orach) terei respeito” (Sl 119.15). 

Se Deus é de fato o nosso Rei e Pastor, devemos meditar na Palavra, orar pedindo a Deus discernimento e aplicar a sua Palavra às múltiplas situações e contextos de nossa vida.

A Palavra que alegra o coração

A Palavra de Deus em sua amplitude, alegra o nosso coração. É o que experimentou o salmista: “Os preceitos (piqqud) (= Estatutos) do SENHOR são retos (yashar) (justos, íntegros, corretos) e alegram (samach) o coração” (Sl 19.8).

A Palavra de Deus traz verdadeira e duradoura alegria porque fala ao nosso coração, que é o nosso ser vital e essencial.

Essa alegria não é mero sentimento. Envolve um conhecimento de quem é o nosso Deus. Desse modo, sabemos e experimentamos de seu cuidado preservador, fortalecendo-nos, perdoando e redimindo. As suas promessas tornam-se realidade em nossa caminhada de aprendizado e alegre confiança.

Essa alegria não é apenas circunstancial, antes, permanece porque nos dá uma dimensão correta de nossa existência, educando o nosso coração.

A alegria que o mundo busca é, em geral, sem Deus. Por isso, nunca experimentarão nessa busca insana, a verdadeira alegria, visto que jamais poderá haver genuína alegria na ausência de Deus (Sl 16.11).[3]

Esse símile de verdadeira alegria poderá ser trágico por causa de sua aparente durabilidade, frágil consistência, e, costumeiramente, irresponsabilidade.[4]

Pela Palavra, no entanto, aprendemos a nos alegrar em Deus, na sua contínua e abençoadora presença. É deste modo que o salmista se expressa:

Alegrar-me-ei (samach) e exultarei em ti; ao teu nome, ó Altíssimo, eu cantarei louvores. (Sl 9.2).

Regozijem-se (samach) todos os que confiam em ti; folguem de júbilo para sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome. (Sl 5.11/Sl 30.2; 31.7; 32.11; 33.21; 35.27, etc.).

Dificuldade de obter cartões de crédito

O cenário da economia, ainda que não isoladamente, muda tanto que alguns fatos comuns há uns 40 anos são totalmente desconhecidos das novas gerações.

Creio que os jovens ignoram que nesse período, a compra de linhas de telefone era difícil de ser conseguir: Além de caras, aguardavam-se meses para ter a sua instalada. Por isso, quem podia, comprava mais de uma e alugava como forma de investimento.

Conseguir um cartão de crédito era difícil. Eram exigidos documentos e rendas a fim de contabilizar determinada pontuação. Eu mesmo cansei de preencher formulários no início dos anos 80 e nunca consegui.

Obter um cartão de lojas: Mesbla e principalmente da Sears, era uma grande satisfação que lhe conferia até um determinado status por ter sido aceito.

Hoje os bancos oferecem cartões sem você pedir. Lojas associadas com determinadas bandeiras de cartão fazem seu cartão a partir de documentos pessoais seus sem que você peça. As coisas mudaram bastante.

Alegria de sermos aceitos por Deus

Pense nisso: Que alegria maior poderíamos ter do que saber que somos aceitos por Deus, perdoados, declarados justos em Cristo Jesus?

Deus nos defende em todas as batalhas. A mais séria e decisiva foi vencida na cruz quando Cristo derrotou o poder de satanás, do mundo e da carne, e nos declarou definitivamente como propriedade sua.

Pertencemos a Deus. Somos a sua Igreja; o seu povo santo; a sua noiva e a menina de seus olhos. Ele nos defende amparado em seus próprios méritos redentores.

A justificação – Somos declarados justos

A justificação é o fundamento judicial ou forense da santificação.[5] Na justificação pressupomos uma relação entre duas partes considerando o seu direito. Nesta doutrina, temos a regulamentação das relações entre as partes.[6]

Há uma mudança na nossa condição legal: Deus declara ao homem culpado que já não há mais culpa em nós. Aqui de fato passamos a ter vida.[7] Mudamos da situação de um condenado que aguardava tristemente a terrível sentença condenatória para a condição de filho de Deus, na expectativa da sua majestosa herança (Rm 8.14-18)[8].[9]

É importante enfatizar que na justificação “Deus não declara que o ímpio é santo; ele declara que, não obstante sua pecaminosidade e indignidade pessoal, ele é aceito como justo com base no que Cristo fez por ele”, destaca Hodge.[10]

Segundo escreveu Calvino: “Quando Deus nos justifica pela intercessão de Cristo, ele nos absolve não pela prova de justiça pessoal, mas pela imputação de justiça, de sorte que somos tidos por justos em Cristo, nós que inerentemente não o somos”.[11]

A justificação – que ocorre fora de nós – não produz nenhuma transformação espiritual em nosso ser. Contudo, significa que Deus já a fez pela regeneração e continuará fazendo pela santificação.[12] Na regeneração fomos recriados em Cristo. Na justificação, Deus, Senhor e Rei, nos declara justos,  e perdoa todos os nossos pecados os quais foram pagos definitivamente por Cristo. Por isso, já não há nenhuma condenação sobre nós. Estamos em paz com Deus resultante da justiça de Cristo imputada a nós (Rm 5.1; 8.1,31-33).[13]

Deste modo, o Pai decretou nos justificar por meio dos méritos de Cristo que são aplicados pelo Espírito Santo. O Senhor, no legítimo uso de seus direitos e prerrogativas, mudou o nosso status de condenados para declarados justos.

Somente por meio da Palavra de Deus que fala ao nosso coração podemos ter essa consciência e certeza. Os preceitos de Deus, a despeito de terem sido quebrados por nós, foram cumpridos por Cristo em nosso lugar.

Os méritos de Cristo são-nos comunicados gratuitamente e nós recebemos a justiça pela fé. Já não há mais condenação para nós.

Quando caminhamos conforme os ensinamentos de Deus, mesmo passando por várias provações decorrentes de nossa fidelidade a Deus, podemos nos alegrar na certeza de que, “Os preceitos do SENHOR são retos”. Por isso mesmo, alegram o nosso coração confiante na sua Palavra (Sl 119.8).

Packer parece correto ao declarar: “Aqueles que vivem em busca de alegria nunca a acham; mas aqueles que buscam a santidade pela graça de Cristo, descobrem que a alegria do Espírito vem espontaneamente”.[14]

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[1] Esta palavra é costumeiramente usada no sentido figurado, descrevendo um caminho de vida ou morte (Veja-se: Victor P. Hamiton,  ‘ãrah: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 119-120.

[2] Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, com toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 44.

[3] “Plenitude de alegria só se encontra onde o Senhor revela sua presença” (Allan Harman, Comentário do Antigo Testamento ‒ Salmos, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, (Sl 16), p. 110-111).

[4] Como escreve Calvino: “Os prazeres deste mundo se desvanecem como sonhos. Davi, pois, testifica que a verdadeira e sólida alegria, na qual as mentes dos homens podem repousar, jamais será encontrada em alguma outra parte senão em Deus. Portanto, ninguém mais além dos fiéis, que vivem contentes só com a graça divina, podem viver real e perfeitamente felizes” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 16.11), p. 324). Em outro lugar: “Se a alegria que os homens experimentam e nutrem é sem Deus, o resultado dessa alegria por fim será destruição, e sua hilaridade se converterá em ranger de dentes. Cristo, porém, se introduz no monte Sião com seu evangelho a encher o mundo com genuína alegria e felicidade eterna” (J. Calvino, O Livro de Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 48.2), p. 354-355).

[5] Vejam-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 209; L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 540.

[6] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 371-372.

[7]“Justificação forense significa que somos declarados justos por Deus em um sentido legal. A base dessa declaração legal é a imputação da justiça de Cristo a nosso favor” (R.C. Sproul, O que é teologia reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 51. Do mesmo modo: R.C. Sproul, A natureza forense da justificação: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual a Igreja: Justificação pela Fé Somente, São Paulo: Editora Cultura Cristã, (2000), p. 27ss. Veja-se: George Whitefield, Cristo: Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, [s.d.], p. 8.

[8] 14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. 16 O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. 17 Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. 18 Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.14-18).

[9]Veja-se: J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, p. 121.

[10]Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 1115. “A justificação é um ato judicial de Deus, no qual ele declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei são satisfeitas com vistas ao pecador” (L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 517).

[11] João Calvino, As Institutas, III.11.3.

[12] “Não há justificação sem regeneração, assim como não há regeneração sem justificação” (James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã: Um manual de teologia ao alcance de todos, Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 369).

[13]“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). 31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8. 31-33).

[14]J.I. Packer, A Redescoberta da santidade, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 30.

 

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.