O Senhor e Pastor que se agrada do seu povo

Como pode Deus se agradar de seres tão desagradáveis como nós?

A resposta de Deus à pergunta de Miquéias, é que Ele deseja que lhe obedeçamos, fazendo a sua vontade, que sempre é boa, perfeita, agradável (Mq 6.8/Rm 12.2) e não é penosa (1Jo 5.3).

Deus se agrada de nós

Certamente, mais surpreendente de tudo isso, é que o Deus santo, justo e perfeito, se agrade de nós.

A grande palavra de conforto que temos, não provém de homem algum, antes, é originária no próprio Deus que nos recebe. Esse é o testemunho do salmista inspirado por Deus: “Porque o SENHOR se agrada (ratsah)[1] do seu povo e de salvação adorna (paar) os humildes (anav)[2] (“fraco”, “pobre”, “humilde”) (Sl 149.4).

O Senhor adorna, embeleza a sua igreja, constituída de pessoas como nós, totalmente depreciadas em seus pecados e carentes de misericórdia e perdão. Deus se agrada de nós. Que gloriosa revelação!

Mas, como pode ser isso? Como Deus pode se agradar de nós, nos constituindo em seu povo? O que há em nós que nos torne prazerosos a Deus?

A realidade é que não há nada em nós que lhe seja agradável. Parece algo contraditório; Deus se agrada do desagradável.

As Escrituras nos ensinam que após o pecado, nada em nós pode parecer agradável diante do escrutínio santo e perfeito de Deus. Então, como sair bem desse labirinto onde não parece haver um caminho propício a nós pecadores?

O Messias é perfeitamente agradável a Deus

No livro do profeta Isaías lemos a respeito do Messias, O Servo Sofredor: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido (bachiyr), em quem a minha alma se compraz (ratsah); pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios” (Is 42.1).

No registro do batismo de Jesus Cristo, há uma manifestação trinitária: 16 Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele.  17 E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16-17).

Jesus Cristo é o Filho eterno de Deus. Ele é o escolhido do Pai, em quem há plena satisfação. Somente Ele é descrito nas Escrituras como “O Amado” (Ef 1.6). Somente nele o Pai tem plena satisfação.

Graça que ultrapassa nossa compreensão

A graça de Deus é algo que ultrapassa em muito a nossa capacidade de compreensão e, portanto, de explicação. Paulo demonstra que a nossa eleição contempla o louvor da graça de Deus: “Para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado” (Ef 1.6).

A glória de nossa salvação está no Deus da graça. É somente por esta gloriosa graça que somos o que somos e temos o que temos. A graça de Deus é a fonte de todas as bênçãos da vida cristã. (Ef 1.6-8).

A obra do amado e seu amor incompreensível

O seu sacrifício foi voluntário e eficaz. Não haveria outro preço que pudesse ser estipulado para que por meio de seu pagamento fôssemos libertos da escravidão.[3] Cristo, no entanto, o fez definitivamente (Gl 1.4; Gl 2.20; 1Pe 1.18-20).[4]Porque ele não encontrou nenhum outro pagamento que não o derramamento de seu sangue, de modo que se tornasse nosso fiador tanto no corpo quanto na alma, respondendo por nós diante do juízo divino para nos ganhar absolvição”, interpreta Calvino.[5]

Aqui nos deparamos com algo incompreensível a nós, excedendo em muito ao nosso entendimento (Ef 3.19):[6] Deus paga um altíssimo preço para nos libertar.[7] Paulo diz que fomos comprados por preço (1Co 6.20). Portanto, devemos glorificar a Deus em nosso corpo.

No entanto, aquele que foi oferecido por nós, inimigos de Deus, foi o seu próprio Filho, que é descrito por Paulo como o “Amado” (Ef 1.6). De fato, antes da criação de todas as coisas, antes da existência dos anjos ou de qualquer outra criatura, Jesus Cristo era e sempre será o “Amado”.

Jesus Cristo não faz parte de um estágio revelacional, antes, é o próprio Deus que traz a sua revelação definitiva: “o Verbo se fez carne” (Jo 1.14). Cessaram as antigas formas de revelação as quais apontavam para Jesus Cristo, a Palavra final de Deus (Hb 1.1-4).

A nossa eleição eterna concretiza-se em Cristo, o Amado. De fato, o amor de Deus não encontra paralelo ou analogias às quais possamos recorrer; ele transcende a todo tipo de raciocínio ou de sentimento nosso. Ele é suprarracional e suprassensorial.

O amor de Deus é a matriz e a possibilidade de nosso amor.[8] O seu amor antecede ao nosso e nos capacita a amar. Há um nexo essencialmente causal entre o amor de Deus e o nosso: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19).

O Amado nos ama com o amor próprio de Deus do qual Ele é o beneficiário. O seu amor é uma expressão do amor eterno do Deus Pai, sendo o Filho o alvo primeiro e especial. O desafio para nós, como objetos de amor do Amado é aprender a amar como Ele nos ama. No exercício do amor revelamos o amor do Amado em nós.

O amor é medido a partir do que ele se dispõe a dar. Deus não conhece limites em seu santo amor (Rm 8.32).[9] O seu único Filho eterno em quem se agrada, sendo Ele o seu prazer (Mt 3.17;[10] 12.18; 17.5; 2Pe 1.17), o Pai o envia para entregar a sua vida pelos seus inimigos para que estes fossem reconciliados consigo mesmo (Ef 2.4).[11]

Este amor foge, escapa totalmente à nossa compreensão. De fato “o amor de Deus é poderoso para vencer todo tipo de dificuldade e infidelidade. O amor eleitor é, ao mesmo tempo, amor compassivo e amor perdoador”, comentam Günther e Link. [12]

Como entender, ainda que parcialmente, este amor sacrificial de Deus, capaz de dar o “Amado” pelos inimigos amados?

Entregar amados menores pelo Amado, conseguimos entender. Afinal, quem já não se desfez de algo importante, porém, de menor valor para adquirir algo mais importante para nós? Contudo, dar o Amado pelos seus inimigos, sim, amados, porém inimigos, isto não faz sentido em nossa lógica.

De fato, não temos categorias que nos permitam compreender este mistério. O nosso consolo e alegria consistem em saber que Deus é amor e que Ele nos ama em Cristo Jesus, o Amado.[13]

Jesus Cristo é a prova mais evidente de que Deus nos ama:

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. (Jo 3.16-17).[14]

Deus deu o seu Filho não para uma profissão ou carreira militar, mas para perecer pelos seus inimigos a fim de que estes não pereçam.[15] Daí a sólida confiança de Paulo, extraindo uma lição bastante prática: “Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou….” (Rm 8.32).

Ainda que não tenhamos a pretensão de compreender exaustivamente este assunto, no próximo tópico analisaremos alguns aspectos que poderão ampliar, ainda que modestamente, a nossa compreensão.

O Pai ama a Jesus Cristo e a todos os seus discípulos

Jesus Cristo sabe que a sua missão é motivada pelo amor do Deus Trino. Isso não é algo estranho a Ele, visto que o Filho sendo Deus, também é amor.

Os discípulos são os amados do Pai por seu intermédio. Na Oração Sacerdotal, diz: “Para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (Jo 17.23).

“O amor do Pai para o Filho é, portanto, o arquétipo de todo o amor”.[16] Nós somos amados em Cristo, no “Amado”. O amor eterno de Deus pelo Filho se manifestou em nossa redenção, pelo seu sangue. Deus compartilha conosco este amor eterno. Isso é maravilhoso.

Spurgeon (1834-1892) exulta:

No final, os redimidos terão mais do que Adão tinha. Deus amou Adão por consideração a ele. Deus nos amou por consideração a Cristo. Isto é melhor do que amar um homem por consideração a ele. Deus ama Seu povo todo com o mesmo amor infinito com que ama a Cristo. Esta é a nossa herança perdida que Cristo nos restaurou.[17]

O amor do Pai pelo seu povo é semelhante ao amor do Filho

O sacrifício de Cristo pelo seu povo é a manifestação concreta e sensibilizante do amor de Deus: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós….” (1Jo3.16). O Pai deu o Filho e, ao mesmo tempo o Filho se deu a si mesmo pelo seu povo.

O amor do Pai não é solitário, antes, encontra no Filho a mesma disposição de amor e de entrega. Creio que este ponto é fundamental para iluminar um pouco mais esta questão e nos encher de alegria e gratidão a Deus: O Amado compartilhou conosco do amor que recebe eternamente do Pai e do seu próprio amor eterno.

Ele mesmo diz aos seus discípulos: “Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor(Jo 15.9). Em seguida, os instrui amparado na experiência vívida de seus discípulos: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15.12).

Paulo exorta a igreja a andar (peripateo) em amor, tendo como padrão o amor de Cristo: “Andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave” (Ef 5.2). (Gl 2.20; Ef 5.25).[18]

Agora podemos começar a entender alguns aspectos do amor sacrificial de Deus: A eleição eterna de Deus envolve o amor do Filho que se dispõe a concretizar historicamente este projeto do Trino Deus. Por isso, a nossa eleição eterna encontra a sua realização na história por intermédio da obra de Cristo e a aplicação subjetiva em nós pelo Espírito Santo. A Santíssima Trindade ama eternamente o seu povo!

Pedro nos fala daquele que foi morto antes dos tempos eternos para salvar o Seu povo:

Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por [amor][19] de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus. (1Pe 1.18-21).

Paulo faz uma analogia para realçar a intensidade do amor de Deus por nós: “Dificilmente alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.7,8).

O amor de Deus é eterno. Por isso, Ele providenciou na eternidade a salvação do seu povo. O amor de Deus “é um ato livre de Sua vontade, não uma emoção produzida nele por nosso estado miserável”, interpreta Owen (1616-1683).[20]

Pacto Trinitário

A vida eterna é para aqueles que o Pai lhes confiou. Jesus Cristo ora se reportando à eternidade, ao pacto firmado entre as Pessoas da Trindade:

Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. (Jo 17.2).

Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. (Jo 17.6).

Determinadas manifestações generosas e abnegadas realizadas em momentos de intensa emoção correm o risco de, em outras circunstâncias, depois de um exame criterioso, percebermos que estavam totalmente fora de propósito.

Fortes emoções podem nos conduzir a atitudes precipitadas e, por isso mesmo, nem sempre coerentes e construtivas. No entanto, a doação de Deus para o Seu povo é diferente. Deus nos amou na eternidade e lá Ele já podia olhar para o seu Filho e vê-lo como, o “Cordeiro que foi morto, desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). Faz plenamente sentido a declaração de Deus a Israel: “Com amor eterno eu te amei” (Jr 31.3).

O amor de Deus não é impulsivo, nem meramente contemplativo e inerte; mas, é atuante e salvador. O seu amor objetiva e de fato concretiza-se nos conduzindo a Ele e, por fim, aos privilégios eternos na sua presença. Somos tão amados por Deus que o Filho nos quer para si mesmo, para que estejamos para sempre com Ele participando do amor Trinitário que os une (Jo 17.24-26).

Retornando ao Antigo Testamento encontramos algumas expressões da aceitação de Deus. Somos recebidos em Cristo. A nossa obediência nos torna agradáveis a Deus em nossa vida cotidiana. Ele é o pastor  que cuida do seu rebanho, constituído idealmente, antes da Criação.

A história dos atos salvadores de Deus foi contada pelos pais a seus filhos com uma interpretação correta. No momento de adversidade e incompreensão, os filhos se lembraram de forma viva a história aprendida desde a infância. O salmista aprendeu: “Pois não foi por sua espada que possuíram a terra, nem foi o seu braço que lhes deu vitória, e sim a tua destra, e o teu braço, e o fulgor do teu rosto, porque te agradaste (ratsah) deles” (Sl 44.3).

O salmista reconhecendo o escrutínio santo e onisciente de Deus, deseja que as suas palavras e pensamentos sejam agradáveis à onisciente face de Deus. Metaforicamente, que Deus manifeste em seu semblante agradar-se de seus pensamentos e palavras: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis (ratson) na tua presença (paniym) (rosto, face, semblante), SENHOR, rocha minha e redentor meu!” (Sl 19.14).

Deus se agrada dos que o temem e aprendem a esperam confiantemente em sua misericórdia como expressão de sua aliança: Agrada-se (ratsah) o SENHOR dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia” (Sl 147.11).  (Do mesmo modo: Sl 149.4).

O Senhor instrui-nos não apenas para o nosso aprendizado formal, mas para que guardemos em nosso coração a sua Palavra e sintamos prazer em suas instruções e direção: “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem (ratsah) dos meus caminhos” (Pv 23.26).

É justamente nesse aprendizado e no caminhar da fé que vamos nos afeiçoando à Palavra. Assim, descobrimos o prazer da obediência aprendida. Dessa forma, poderemos falar como o salmista: Agrada-me (ratson) fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei (Sl 40.8).

No sentido contrário, Deus recrimina a Israel por sentir prazer na iniquidade. No Salmo 50 vemos que o culto oferecido a Deus não era aceito porque a vida de adoração do  povo era, pelos seus próprios atos, totalmente estranha às prescrições divinas.

Deus diz então que não aceitaria tais oferendas. “Deus só aceita a aproximação daqueles que o buscam com sincero coração e de maneira correta”, adverte-nos Calvino.[21]

Culto como extensão da vida

O culto não é separado de nossa vida, antes é uma extensão dela.[22]  É necessário que não confundamos culto com cerimônia.

Escreve Calvino: “Os homens se dispõem naturalmente a exibição exterior da religião, e, medindo Deus segundo a própria medida deles, imaginam que alguma atenção para as cerimônias constitui a suma de seu dever”.[23]

Deus não recrimina o aspecto externo das cerimônias ou o fato delas existirem. Afinal foi Ele mesmo quem as instituiu.  O ritual, portanto, não é mal em si mesmo.

A questão é que o ritual sem os afetos do coração, é nulo e hipócrita, constituindo-se em uma tentação a Deus.  Portanto, o Senhor não diz que não aceitaria sacrifícios e ofertas. Ele declara que não os aceitaria da Casa de Israel (Sl 50.8-9). O motivo é declarado com todas as letras: “Se vês um ladrão, tu te comprazes (ratsah) nele e aos adúlteros te associas” (Sl 50.18).

Deus não se agrada de holocaustos sem um coração arrependido. O salmista arrependido, tem consciência disso: “Pois não te comprazes (chaphets) em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas (ratsah) de holocaustos” (Sl 51.16).

Deus não aceita um culto insincero

E dizeis ainda: Que canseira! E me desprezais, diz o SENHOR dos Exércitos; vós ofereceis o dilacerado, e o coxo, e o enfermo; assim fazeis a oferta. Aceitaria (hc’r’) (ratsah) eu isso da vossa mão? — diz o SENHOR” (Ml 3.1).

“Ainda fazeis isto: cobris o altar do SENHOR de lágrimas, de choro e de gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer (ratson) da vossa mão” (Ml 2.13).

“Para que, pois, me vem o incenso de Sabá e a melhor cana aromática de terras longínquas? Os vossos holocaustos não me são aprazíveis (ratson), e os vossos sacrifícios não me agradam (`areb) (= doce[24])(Jr 6.20).

Deus mesmo declararia isso por meio de Oseias ao povo descrente e que oferecia um culto apenas formal: “Pois misericórdia quero, e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos” (Os 6.6).

Portanto, em síntese, como já instruíra, Ele deseja que o sirvamos com integridade:

Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti? Não é que temas o Senhor teu Deus, andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do Senhor, e os seus estatutos, que hoje te ordeno, para o teu bem? (Dt 10.12,13).

No Novo Testamento, Jesus Cristo resumiu esses preceitos:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei, a justiça a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas cousas, sem omitir aquelas. (Mt 23.23).

Murray, de forma bastante prática, nos admoesta: “Precisamos enfatizar que orar não é um substituto para a obediência”.[25] A obediência é uma expressão de nossas orações mas, aquela não pode prescindir desta.

O salmista com integridade apresenta-se diante de Deus. Contudo, suplica que Ele se agrade de sua oferta e que continue lhe ensinando a sua Palavra. Certamente, somente por meio do aprendizado e prática da Palavra poderemos servir a Deus melhor: Aceita (ratsah), SENHOR, a espontânea oferenda dos meus lábios e ensina-me (למד)(lamad) os teus juízos (mishpat) (Sl 119.108).

Na disciplina de Deus vemos o seu cuidado amoroso para com o seu povo. Ele corrige a quem recebe como filho: “Porque o SENHOR repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem (ratsah)” (Pv 3.12).

Na constituição de nosso lar devemos buscar a instrução do Senhor porque na concessão de uma esposa e, certamente de um bom marido, há a expressão do agrado de Deus para conosco:    “O que acha uma esposa acha o bem e alcançou a benevolência (ratson) do SENHOR” (Pv 18.22).

Portanto, a escolha da esposa e do marido, não se constitui em uma questão puramente de olhos, embora isso não deva ser simplesmente negligenciado, mas, da bênção de Deus. Portanto, solteiros, supliquem a Deus para que lhes abençoe com o cônjuge certo; que ambos se completem. Ao mesmo tempo, os casados, tão tentados a supervalorizar os defeitos do outro − que por vezes, podem ser virtudes −, devemos agradecer a Deus pela direção e preservação de nosso lar.

O nosso Rei Ee Pastor, se agrada de nós e cuida, inclusive dessas coisas. Na sua direção por meio da Palavra, nada nos faltará. Amém.

 

 

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[1]A aceitação divina envolve a sua boa vontade em ato de misericórdia e compaixão. Quanto ao emprego da expressão no Antigo Testamento, vejam-se: William White, Ratson: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1450-1451; G. Gerleman, Rsh: In: E. Jenni; C. Westermann, Diccionario Teologico Manual Del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, v. 2, p. 1017-1021; G. Schrenk, Eu)doki/a: In: Gerhard Friedrich; Gerhard Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8. ed. Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., (reprinted) 1982, v. 2, p. 742-745; Terence E. Fretheim, Rsh: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 1178-1179.

[2]A palavra caracteriza um estrangeiro, sem-terra, sem cidadania, órfão. Descreve não raras vezes uma condição social, ainda que não uma classe social.  Por vezes, indica alguém que sofre algum tipo de aflição física, psíquica e espiritual, estando indefeso, sujeito à opressão (Vejam-se: Leonard J. Coppes, ‘Ãnâ: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1143-1146; W.J. Dumbrell, Anaw: In: Willem A. Vangemeren, gen. editor. New International Dictionary of Old Testament Theology & Exegesis, Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1997, v. 3, p. 454-455). Para uma visão mais abrangente, envolvendo o NT, veja-se: C. Brown; H.H.-Esser, Pobre: In: Colin Brown, ed. ger. Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 564-573. Para uma abordagem mais social, com informações extremamente curiosas envolvendo a questão de salários, veja-se: Joachim Jeremias, Jerusalém no Tempo de Jesus, São Paulo: Paulinas, 1983, p. 156-169.

[3]“O pecado é tão terrível, tão sórdido e tão vil que nada pode tratá-lo satisfatoriamente, senão o sangue de Cristo” (D.M. Lloyd-Jones, O supremo propósito de Deus: Exposição sobre Efésios 1.1-23,  São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 160).

[4] “O qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai” (Gl 1.4). “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, 20 conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” (1Pe 1.18-20).

[5]João Calvino, Sermões em Efésios, p. 88.

[6] “E conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus” (Ef 3.19).

[7] “Tão espantoso e tão infinitamente rico é o amor de Deus por nós que jamais seremos capazes de medi-lo. Por toda a eternidade, os mistérios desse amor, infinitos em número, continuarão a ser-nos revelados” (W. Hendriksen, Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 3.31), p. 184).

[8] “O amor que Deus nutre por nós é sem paralelo” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 90.16), p. 442).

[9] “A medida do amor, humano e divino, é o quanto ele dá. Por este padrão, o amor de Deus é imensurável, porque tanto a grandeza da dádiva quanto o seu custo estão além da nossa compreensão. Todos os paralelos humanos são insuficientes; todas as comparações, inadequadas” (J.I. Packer, O Plano de Deus para Você, 2. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005, p. 137).

[10]Eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17).

[11] “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, 2 nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; 3 entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. 4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, 5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, 6 e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; 7 para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2.1-7).

[12]W. Günther; H.-G. Link, Amor: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 1, p. 199.

[13] Trato desse assunto com mais detalhes em: Hermisten M.P. Costa, Efésios: O Deus Bendito, São Paulo: Cultura Cristã, 2011.

[14]“Jo 3.16 fez a espantosa, incompreensível, impenetrável, profunda e quase incrível declaração de que o santo Deus ama soberanamente pecadores que merecem o inferno, e que os ama tanto que quis que o Seu Filho unigênito, a quem Ele ama com todo o amor do Seu coração infinito, sofresse no inferno em lugar deles!” (R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 18).

[15]C.H. Spurgeon, Amor Imensurável, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, [s.d.], p. 7-8. “O custo do sacrifício nos persuade a respeito da grandeza do amor de Deus e garante a doação de todas as demais dádivas de forma gratuita” (Rm 8.32) (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p.19).

[16]W. Günther; H.-G. Link, Amor: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 1, p. 200.

[17]C. H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p 71.

[18] “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25).

[19]A expressão em colchetes não ocorre no original. Não se trata de variante textual, antes de uma interpretação que está de acordo com as Escrituras, contudo, aqui, apenas acrescentada. O texto original diz apenas “por vós”.

[20]John Owen, Por Quem Cristo Morreu?, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1986, p. 63.

[21] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 50.23), p. 420.

[22] Este mesmo princípio está expresso em outras passagens bíblicas: Sl 24.1-6; 40.7-9; 51.16-17; Os 6.6; Mq 6.6-8,  fazendo eco às palavras de Samuel a Saul: “….tem, porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros” (1Sm 15.22). (Vejam-se  também:  Pv 21:3, Is 1:11-15).

[23] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 50.1-2), p. 398.

[24] Ct 2.14.

[25] Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: Fé para Hoje, São José dos Campos, SP.: Fiel, nº 6, 2000, p. 26.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.