Cristãos podem se beneficiar de livros seculares?

Transcrição do áudio

Hoje nós temos um e-mail de um ouvinte de Michigan. E sua pergunta é boa: “Pastor John, eu dirijo uma empilhadeira em um armazém para empresas familiares cristãs. Temos permissão para ouvir música e audiolivros em nossos caminhões e eu recentemente comecei a ouvir este podcast. Eu tenho sido um ávido ouvinte de audiolivros em meu trabalho, e eu gostaria de saber o que o senhor pensa sobre a interação com a literatura secular, incluindo ficção, filosofia, poesia e história”.

Aqui está o meu pensamento mais recente sobre por que um uso moderado de ampla leitura, incluindo autores não-cristãos, é uma coisa sábia. Eu chamo isto de o fator realidade. Quando eu estou lendo a Bíblia, há dezenas e dezenas de experiências, conceitos e palavras pelos quais eu posso passar diretamente sem parar para contemplar a realidade por trás das palavras, experiências e conceitos. E é isso que quero dizer com o fator realidade. Precisamos parar, trazer o fator de realidade, e ir mais para trás.

Agora, como você contempla uma realidade sem algum conhecimento da realidade — não conhecimento da palavra, mas da realidade? E eu diria: Quanto mais conhecimento da realidade, melhor, se o conhecimento é verdadeiro e na verdadeira proporção de seu valor. Por exemplo, você não precisa apreender muitos conhecimentos sobre o tamanho e as espécies das aves que Jesus diz para atentar em Mateus 6:26: “Observai [ou considerai] as aves do céu”. Isso não é o cerne do que ele está dizendo. Mas seu objetivo nesse texto é ajudá-lo a livrar-se da experiência da ansiedade. Mas e se você não tivesse experiência de ansiedade? Essa palavra seria vazia para você.

É realmente importante ter conhecimento profundo e amplo da realidade da ansiedade e como ela funciona e quais são suas raízes e quais são seus frutos e de que formas ela pode tomar na vida e como ela pode espalhar-se sobre você e que devastação ela pode causar na história da vida das pessoas, e assim por diante. Em outras palavras, há muitas realidades na Bíblia que supõem que, a partir da experiência de vida, sabemos a que estão se referindo: paz, alegria, medo, raiva, guerra, decepção, beleza, poder, hipocrisia.

Naturalmente, a Bíblia dá uma visão crucial dessas coisas que não vêm de nenhum outro lugar, mas a matéria-prima do conhecimento é obtida, em grande medida, da experiência de vida, e então a Bíblia toma esse fundo comum da experiência humana, da realidade que nos traz para a Bíblia, e mostra como Deus se relaciona com ela e a transforma. O Novo Testamento supõe que não esquecemos a lição do livro de Provérbios de que devemos ir ter com formiga — um pequeno inseto, a formiga — considerar os seus caminhos e sermos sábio (Provérbios 6:6). Em outras palavras, olhe para o mundo. Aprenda a realidade do mundo. Aprenda algo sobre o trabalho duro do mundo, aprenda algo sobre a perseverança do mundo. Amplie o seu fundo de realidade experiencial de mil coisas que estão no mundo porque, quando o Novo Testamento menciona essas coisas, assume que temos algum conhecimento experiencial delas.

Entretanto aqui está o ponto. A maioria de nós vive vidas tão pequenas, estreitas, restritas e limitadas — sabemos tão pouco sobre tantas coisas — uma das maneiras, apenas uma, que Deus ordenou para que crescêssemos em nosso conhecimento de muitas coisas, muitas experiências de que não temos experiência imediata é através da leitura. Isto significa que, se tivermos um amplo e profundo conhecimento das coisas através da leitura, bem como através da experiência de vida, então, quando a Bíblia fala, por exemplo, da tristeza de perder dez filhos, podemos ter uma maior compreensão do que ela está se referindo — estou pensando em Jó — se nós passarmos por isso, o que não acontecerá com a maioria de nós. Quase ninguém perde dez filhos de uma só vez. Mas podemos ler sobre isso. Podemos ler os vários tipos de coisas horríveis que as pessoas passaram e aprofundar nossa compreensão do espírito humano e de experiência de como fazer isso.

Então, deixe-me lhe dar apenas um pequeno vislumbre de como isso funcionou para o Jonathan Edwards original. Ele fez um sermão sobre a escravidão do pecado e o que é ter Satanás como um senhor de escravos. Ora, ele sabe que Satanás é o senhor mais malvado, grosseiro e mais diabólico que já existiu. E, no entanto, a maioria das pessoas ainda está contente em lhe servir.

Agora, como Edwards poderia sentir isso como deveria? Como ele poderia saber a realidade do que significa ser governado por Satanás, como deveria? Como ele poderia dizer isso de uma maneira que ajudaria os outros a conhecerem essa realidade? Bem, Edwards tinha evidentemente feito alguma leitura sobre o sacrifício humano no país da Guiné. E aqui está no que isso o ajudou. Aqui está o que ele diz:

[Satanás e seus companheiros] fazem com vocês, como ouvi dizer, na Guiné, onde comem a carne dos homens nas suas grandes festas. Eles colocam uma pobre criança ignorante que nada sabe do assunto, para fazer um fogo e enquanto ela se inclina para soprar o fogo, alguém vem para trás e golpeia a sua cabeça, e então ela é assada pelo mesmo fogo que acendeu, e fazem uma festa disto, e o crânio é usado como um copo, a partir do qual se alegram com seu licor. Exatamente assim, Satanás tem em mente fazer para alegrar-se com você.

Isso é muito horrível, poderoso e inesquecível. Edwards obteve esse conhecimento do mal de fora da Bíblia, e informou ensinamentos bíblicos sobre o horrível, diabólico, devastador e assassino governo de Satanás sobre seu povo — ao mesmo tempo que os faz pensar que estão se divertindo.

Agora, no meu caso, acabei de ouvir os três volumes da biografia de Winston Churchill, de William Manchester, cerca de 1.000 páginas cada. Que educação na realidade, insights sobre os desafios naturais da liderança, sobre os horrores da guerra, sobre a natureza inconstante da aprovação do público, sobre a insanidade sexual dos namoricos da classe alta, sobre as complexidades do que a justiça parece na política pública, sobre o valor de nunca desistir, embora haja uma enorme oposição, e assim por diante. Que educação.

Eu estava aprendendo a realidade. Eu não estava aprendendo a minha moralidade. Os livros não ensinavam moralidade. Eu não estava aprendendo minha moralidade. Recebo isso da Bíblia. Eu estava ganhando a consciência das realidades que vêm da experiência da vida, de outro modo eu não teria nenhuma experiência de vida de estar na guerra. Coisas que existem e como elas são, foi isso que eu encontrei. Em outras palavras, eu estava ampliando a matéria-prima da realidade que a Bíblia assume e interpreta para mim quando trago isto para minha leitura.

Então, qual é o objetivo de toda essa leitura? Todas as nossas leituras, cristãs ou não-cristãs, todas as nossas leituras visam conhecer melhor a Deus, conhecer melhor o homem, conhecer melhor os caminhos de Deus e os caminhos do homem, compreender melhor as Escrituras, de modo que nós possamos obedecer mais plenamente ao que Deus diz e sermos mais úteis para cumprir seus propósitos e glorificar seu nome.

Amém!… Ok, representado os ouvintes do APJ [Ask Pastor John — Pergunte ao Pastor John], sei que eles querem que eu pergunte, quanto tempo demorou para você passar por todos os três audiolivros do Churchill?

Comecei na primavera. Então, talvez cinco ou seis meses. E quando terminou, eu me senti triste. Eu realmente me senti triste, porque foi tão gratificante ouvi-los por causa da realidade que eles estavam me expondo: tantas coisas as quais eu não sabia nada sobre. Era como ler a história da Segunda Guerra Mundial e, é claro, era uma biografia do homem. Foi uma guia em ciência política. Foi uma leitura notável.

Por: John Piper. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Original: Can Christians Benefit from Books by Nonbelievers?

Original: Cristãos podem se beneficiar de livros seculares? © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: William Teixeira. Revisão: Camila Rebeca Teixeira.