A História do Inferno: 1700 e 1800 d.C.

O que os cristãos creram a respeito do inferno ao longo da história?

Após uma introdução das três principais visões sobre o inferno, apresentamos aqui grandes nomes da história e o que defendiam sobre o assunto. (acesse a introdução para ver o índice)

história do inferno - cobra

John Wesley (1703-1791) e Charles Wesley (1707-1788)

Os sermões de John Wesley deixam claro que ele acreditava no inferno como um lugar de eternal punição, com o foco principal sendo a perda da comunhão com os amigos e com Deus, bem como os sofrimentos físicos do fogo eterno suportado pelos condenados (Acerca de quaisquer outros tormentos, ele escreveu: “Permaneçamos com o que diz a palavra escrita. Já é tormento suficiente habitar no meio de chamas eternas”). Como alguém que cria na expiação ilimitada, Wesley pensava que a salvação do pecado, da morte e do inferno estava disponível a todos mediante a graça de Deus, embora ele não pensasse que todos a escolheriam.

Charles Wesley escreveu uns poucos hinos acerca dos tormentos do inferno, porém a imensa maioria dos seus hinos focavam na oferta da livre graça e nos poderes que Deus nos concede para derrotarmos o mal:

Eis! Para a visão iluminada da fé,

Toda a montanha brilha de luz;

O inferno está perto, mas Deus está mais perto,

Circundando-nos com legiões de fogo.

Unitarianismo

O unitarianismo, cujas doutrinas centrais eram a crença na unidade (e não na Trindade) de Deus e a negação da divindade de Cristo, floresceu no final do século XVIII e início do século XIX e influenciou muitos cristãos de outras denominações. A maioria dos unitários negava a imortalidade natural da alma e a punição eterna, enfatizando, ao invés, a futura ressurreição física e o progresso rumo a um paraíso restaurado. Alguns sugeriam a existência de um estado intermediário após a morte, quando os ímpios seriam purificados do mal. A afirmação do ministro unitário Henry Giles, em 1839, expressava o sentimento de muitos outros na segunda metade do século: “Não há espaço, no mesmo universo, para um Deus bom e um inferno eterno”.

Thomas Erskine (1788-1870)

Erskine foi um conhecido e admirado pensador escocês o qual acreditava que a essência do pecado é a adoração de si mesmo e que o inferno é um estado do ser – uma condição de miséria solipsista. O ódio de Deus pelo pecado, e consequentemente o seu propósito de destruí-lo, é o único fundamento para a esperança de um pecador. A única punição que enfrentamos são o arrependimento e a negação de si mesmo, os quais nos elevam acima de nosso pecado e nos põem na bem-aventurança de amar a Deus: “A salvação não consiste em ter a punição removida, mas em aceitá-la de boa vontade, ao morrermos para nós mesmos e vivermos para Deus”. Se alguém está no inferno, é porque pôs a si mesmo lá ao recusar-se a entrar no céu: “Portanto, enquanto um homem escolhe permanecer no pecado, enquanto ele se recusa a permitir que o amor perdoador de Deus entre em seu coração… se ele continua nesse estado por toda a eternidade, ele deve por toda a eternidade ser um filho da ira, habitando em trevas exteriores”. Todavia, em outro lugar, Erskine asseverou que, uma vez que a criatura não possui qualquer existência à parte de seu Criador, “é impossível que eu seja separado Dele sem que cesse de existir”.

Frederick Denison Maurice (1805–1872)

Considerado um dos mais importantes teólogos da Inglaterra do século XIX, Maurice foi demitido do seu posto de professor no King’s College de Londres, em 1853, depois de criar um escândalo com os seus Ensaios teológicos. No último ensaio, Sobre a vida eterna e a morte eterna, ele defendeu que a palavra “eterno” no Novo Testamento significa “fora do tempo”. Vida eterna e punição eterna se referem a um estado do ser, ou, mais precisamente, a uma qualidade do relacionamento com Deus, ao invés de uma duração eterna. A condição de ser alienado de Deus é a sua própria punição. A morte eterna é, assim, uma realidade presente para todos os que se encontram em um estado de pecado, do qual Cristo os liberta para uma experiência contínua de nova vida divina. É o ego pecaminoso no centro da existência que se constitui na pior tortura para a alma condenada, pior do que qualquer penalidade legal exterior.

Maurice não podia acreditar que Deus condenaria à morte eterna aqueles que não tiveram conhecimento do Jesus terreno, ou que a resistência humana pudesse de alguma maneira ser mais forte do que o amor universal de Deus. Ele se recusou a simplesmente negar a possibilidade de um inferno eterno, mas sugeriu que o amor infinito de Deus deveria ser maior e mais profundo do que a corrupção humana (abraçando um tipo de “universalismo esperançoso”): “Eu sou obrigado a crer em um abismo de amor que é mais profundo do que o abismo de morte: eu não ousarei perder a fé nesse amor. Eu afundaria na morte, na morte eterna, se eu o fizesse. Eu devo sentir que esse amor abarca todo o universo. Mais do que isso eu não posso saber. Mas Deus sabe. Eu entrego a mim mesmo e tudo o mais a Ele”.

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Tradução: voltemosaoevangelho.com

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