Um blog do Ministério Fiel
Ajudando os envolvidos em violência doméstica
“Ora, as obras da carne são conhecidas e são: …inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas… e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gálatas 5.19-21).
Eu estava conversando com uma de nossas estagiárias sobre o tema da violência doméstica. Ela me disse que na escola ensinaram que não importa o que as mulheres façam, nunca é certo bater nelas. Ela estava supondo que a violência doméstica era uma questão feminina. Essa foi uma discussão interessante, conversamos sobre contextos diferentes enfrentados em nossa cultura e nós dois concordamos que devemos ter “tolerância zero para com a violência doméstica”, independentemente do agressor ser homem ou mulher.
Contudo, essa é uma questão complexa. Em nosso mundo, se um homem bater em sua esposa e ela reagir esfaqueando-o, então ela seria aclamada como uma heroína por muitos. Se o inverso ocorrer e uma mulher bater no marido e ele reagir esfaqueando-a, então ele seria visto como o vilão. Infelizmente, não é incomum em muitas congregações haver casamentos onde a violência doméstica é um problema. Sou grato pelas igrejas estarem finalmente começando a considerar de modo sério a questão da violência doméstica. Ainda assim, pergunto-me se, quando usamos o termo “violência doméstica”, nossas mentes logo imaginam a mulher sendo a vítima e o homem o agressor? Eu me pergunto se, quando você leu o título deste artigo, sua suposição imediata foi que seria sobre mulheres abusadas? Pergunto-me se, de modo subconsciente, vemos os homens abusados como sendo “fracos” e os tratamos menos seriamente? Por que, quando essa é uma ocorrência tão comum em nossa cultura, vemos tão pouco sobre o tema da perspectiva masculina como vítima? Gostaria de saber o quanto essa nova onda evangélica de machismo está ajudando os homens que sofrem em relacionamentos cruéis e atormentados. Como um homem pode vir até o seu pastor ou líderes para pedir ajudar sobre essa questão, se a cultura prevalecente é beber cerveja, ir a clubes de luta cristãos onde homens “de verdade” têm a barba crescida e assistem a lutas em ringues? Que esperança há para um homem preso nessa situação há muito tempo (e geralmente é assim) se ele já se sente menos do que um homem?
O vídeo abaixo foi secretamente filmado e mostra 2 casais discutindo na rua. Quando o agressor é homem, os expectadores intervêm. Quando é mulher, os expectadores ficam parados e alguns até mesmo riem enquanto um homem é abusado fisicamente por sua namorada.
PARA ASSISTIR AO VÍDEO CLIQUE AQUI
A ira (e a violência) é destrutiva tanto quando manifesta por uma mulher quanto por um homem. É falso crer que, porque as mulheres podem ser pequenas na estatura (ou apenas porque são mulheres), elas podem causar menos dano físico e psicológico. Não ajuda quando perpetuamos o mito de que as mulheres não abusam de seus maridos e que as que o fazem não são tão más e, portanto, seus padrões de comportamento abusivo não são tão graves quanto os de seus correspondentes masculinos. É uma verdade lamentável que em alguns casamentos as mulheres usam a violência como um meio para obter o que desejam (alguns números apontam uma elevada taxa de violência doméstica de 38% em relação aos homens).
Mais comumente isso se revela em uma explosão de ira que era eminente sob a superfície. David Powlinson o descreve assim: A ira de uma pessoa pode ser “reprimida”… “As pessoas podem estar “perturbadas”, “cheias” de raiva, esperando para “explodir”. Elas “ficam prestes a extravasar”. Ira antiga e não resolvida pode ser “guardada”, “abrigada” por décadas. Se você “tirá-la do seu peito” até que sua raiva seja “consumida”, você se sente melhor. Essas palavras soam verdadeiras para muitas mulheres que, nunca tendo lidado adequadamente com suas emoções, despejam esses sentimentos sobre os seus cônjuges como uma forma de libertação. O resultado final é sempre alguma forma de abuso. Mas aqui há uma verdade que é tão aplicável aos abusadores do sexo feminino quanto masculino.
Como a Igreja pode ajudar?
Quando um cônjuge se torna o objeto de ira, pode haver muitas mentiras que os agressores dizem a si mesmos para justificar a explosão de raiva. Devemos reforçar a seguinte verdade.
Ele não fez você fazer isso — ninguém faz você bater e/ou abusar do seu cônjuge.
A Bíblia afirma claramente que todas as formas de autoengano sempre provêm do “coração” (Marcos 7.20-23). Precisamos perguntar: “O que está na raiz de sua ira?”. Poderia ser uma luta de poder dentro do casamento? É uma falta de submissão bíblica? É um ressentimento antigo? Tem a ver com dívidas ou outras pressões? Talvez alguém testemunhou um abuso quando criança? Para ser honesto, há uma multiplicidade de respostas que poderiam nutrir a ira. Mas essas não são desculpas para o comportamento pecaminoso. Portanto, em última análise, para entender a violência e o conflito, precisamos buscar respostas para os problemas interiores. Devemos encorajar as pessoas a examinarem os seus corações. O que elas precisam que não estão obtendo? O que realmente está na essência da questão?
Tito 3.3: “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”.
Tiago 3.13-4.12 oferece um resumo do problema e apresenta a solução de Deus.
- Em nossa ira, nosso coração exigente e egoísta terá o fruto da violência, raiva e conflito.
- Deus é generoso com aquele que se arrepende!
- Um coração sábio, humilde e receptivo dará fruto de uma vida de pacificação.
Para conhecer a essência de sua raiva e violência, devemos encorajar os agressores a examinarem os seus corações, a confessarem a verdade, a se arrependerem e a buscarem a ajuda de Deus. Em Filipenses 4.13, Paulo diz à igreja: “Tudo posso naquele que me fortalece”. Essa é uma verdade mesmo para aqueles que lutam contra a ira e o ódio. Sem uma compreensão correta de nós mesmos, do nosso próprio coração e do glorioso evangelho, nunca acabaremos com a violência no lar.
Há uma caminhada longa, lenta e dolorosa enquanto aconselhamos aqueles que estão sendo abusados e aqueles que estão abusando. Mas não vamos demonizar os homens como as únicas pessoas que cometem violência doméstica. A probabilidade é que você tenha alguém (ou mais de uma pessoa) sofrendo silenciosamente em sua congregação. Não sejamos culpados de mantê-los presos no medo e escravidão por medo de serem considerados fracos ou não serem levados a sério.