Plantação de igreja: 12 dicas aprendidas com 5 anos de 20schemes

O 20schemes completa cinco anos neste mês [12/2017] (embora a ideia tenha surgido há mais de uma década, durante a plantação de uma igreja no Brasil). Pessoalmente, estou entrando em meu décimo nono ano de ministério pastoral.

Durante esse tempo, tenho trabalhado com o 20schemes em periferias no Reino Unido, nas favelas do Brasil e da Escócia. Atualmente, temos sete locais de plantação de igrejas (em vários estágios de desenvolvimento) em cinco cidades dentro de três denominações. Treinamos quase 30 pessoas através de nossos programas de discipulado em casas. treinamos 12 plantadores em nossa escola de plantação de igrejas. Treinamos pelo menos uma dúzia de mulheres durante o nosso treinamento feminino. Em parceria com Acts29, iniciamos uma nova iniciativa global para treinar, prover recursos e orientar plantadores de igrejas em comunidades pobres de todo o mundo. Atualmente, temos 40 homens nessa rede de lugares diversos, como Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, China e América do Norte e do Sul.

Realizamos dois “Weekenders” por ano, onde as pessoas podem vir à nossa igreja e passar um fim de semana conosco, enquanto consideramos questões como a pregação para a classe trabalhadora, discipulado de pessoas com vícios, problemas de saúde mental, mulheres trabalhadoras, trabalho com jovens, evangelização e desenvolvimento de líderes.

Recentemente, fui convidado a participar do evento “Transforming Scotland” [Transformando a Escócia], a fim de apresentar minha opinião sobre a situação do cristianismo escocês e o que podemos fazer para reverter o seu atual declínio. Fui convidado para falar a uma sala cheia de líderes da igreja sobre a minha perspectiva a respeito de periferias. Aqui está um resumo do que eu disse.

  1. Por favor, pare de pensar no ministério para os pobres somente em termos de ministério de misericórdia. O que isso geralmente significa é que igrejas ricas e/ou cristãos de classe média entram em nossas comunidades para fazer boas obras (geralmente entregar folhetos ou alguma forma de aconselhamento sobre dívidas). Então, se alguém for salvo (o que é raro porque eles tendem a não ser claros sobre o evangelho), é encorajado a ir a uma igreja fora de sua comunidade (porque pouquíssimas existem nela) e, portanto, fora de sua cultura. Isso, por sua vez, significa que tal pessoa fica obrigada a assimilar os valores e as normas culturais da classe média. O melhor ministério de misericórdia é uma igreja evangélica local saudável que pregue o evangelho, ame os pobres e discipule as pessoas exatamente no ritmo de nossas periferias.
  2. Nós precisamos repensar o treinamento e estratégias habituais para alcançar as comunidades urbanas pobres. Eles não funcionam e apenas servem às classes média e alta escolarizadas. Precisamos abolir a mentira de que somente pessoas com educação superior podem ser ministros. As instituições teológicas não estão nos ajudando agora e não ajudam há algum tempo. Elas atendem aos seus próprios dados demográficos e prestam serviços à sua própria cultura. O ministério 20schemes está trabalhando no desenvolvimento do modelo vocacional de treinamento teológico para os seus líderes e praticantes. Muito frequentemente, o treinamento vocacional é visto como inferior ao treinamento de uma instituição de ensino superior quando nada poderia estar mais longe da verdade, pelo menos até o nível do bacharelado.
  3. Nós precisamos retornar a uma abordagem de longo prazo para o financiamento de plantação de igrejas em comunidades carentes. Muitas igrejas de classe média, ricas em recursos financeiros (pelo menos quando comparadas conosco) simplesmente não entendem isso. Elas têm adotado a abordagem do modelo de negócios de classe média para a plantação de igrejas, que espera independência financeira dentro de 3 a 5 anos. Um importante ministro evangélico disse há muitos anos: “Não há dinheiro na plantação entre os pobres”. É claro que ele está certo, e é por isso que tal plantação está fora de moda (não que tenha já tenha estado). O fato concreto é que muitas igrejas em nossas comunidades podem não ser viáveis ​​por uma década ou mais. Algumas, no entanto, serão e poderão ser úteis como centros de treinamento e desenvolvimento.
  4. Nós precisamos aceitar e esperar uma cultura de fracasso em nossa plantação de igrejas. Grande parte da cultura erudita e de classe média vive com medo do fracasso. Mesmo aqueles que falham, em nossa cultura de rotatividade, podem e são vendidos e reembalados como outra coisa. Então, por exemplo, um pastor não é demitido de sua igreja, ele é deslocado para explorar novas oportunidades. Uma igreja não falhou, foi bem-sucedida por uma temporada. Esse tipo de linguagem pode parecer espiritual (e, em alguns casos, pode ser verdade), mas não é útil. Apresenta o que fazemos como muito respeitável. Em outras palavras, isso não reflete as realidades no campo. Eu espero que no mínimo 50% das plantações de igreja em periferias fracasse. Essas plantações não conseguem ser bem-sucedidas, mesmo que eu queira. As estatísticas de falha em plantação de igrejas em todo o mundo são muito altas. Sem falhas não pode haver sucesso.
  5. Não acredite na mentira ainda maior de que apenas grandes igrejas com grandes orçamentos podem plantar igrejas. Nós temos 80 membros em um dos bairros mais pobres de Edimburgo e, no entanto, temos 40 equipes espalhadas por cinco cidades; apoiamos o ministério no Reino Unido e em todo o mundo. Um punhado de pequenas igrejas pode fazer tais grandes coisas, ou ainda mais, do que uma igreja maior se unirmos as nossas cabeças e trabalharmos em parceria.
  6. Não prejudique o trabalho e a importância da revitalização da igreja. Isso tem muito mais influência cultural nas periferias do que as chamadas “novas expressões” da igreja. Há literalmente centenas de pequenas igrejas e edifícios dilapidados em todo o país, os quais, com investimento e esforço, poderíamos voltar a usar. O impacto seria enorme.
  7. Nós precisamos treinar líderes locais. Nas igrejas de classe média, aquilo que é bom é facilmente notado (em termos de desenvolvimento de liderança). Nas periferias, precisamos cavar na terra e no carvão para encontrar o ouro.
  8. Nós precisamos treinar mais mulheres para o ministério. Nós já treinamos cerca de doze mulheres, porém precisamos de mais. No 20schemes, somos complementaristas. Isso não significa (independentemente dos nossos críticos) que marginalizamos as mulheres. Na verdade, é exatamente o oposto. Culturalmente, mais da metade das pessoas que vivem em periferias são mulheres. Uma alta proporção delas são mães solteiras. Uma proporção ainda maior tem alguma forma de problema de saúde mental devido a (1) abuso sexual e/ou (2) dependência de drogas. Precisamos de uma geração de mulheres biblicamente maduras, que amam a Jesus e que ministrem fielmente nesse contexto.
  9. Nós precisamos da classe média em nossas comunidades mais pobres. Precisamos de ajuda de pessoas de fora para cultivar uma geração de líderes locais. Sem essa intervenção externa, estamos perdidos. O problema é que a maioria dessas pessoas nunca colocaria os pés dentro de uma periferia. Isso precisa mudar. Necessitamos de uma nova geração de homens e mulheres de fé dispostos a evitar a cultura dos seus pais de “maior e melhor” ou “cresça e saia”. E se Deus não quiser que você vá para a universidade? E se Deus quiser que você vá a um conjunto habitacional? E se ele quiser que você viva e morra lá por causa do evangelho?
  10. Não presuma que conhece a cultura apenas porque falamos uma língua comum. A cultura de classe trabalhadora (e não trabalhadora) valoriza a franqueza na linguagem. Eles valorizam os relacionamentos em que se fala de modo sincero. Por outro lado, as pessoas de classe média valorizam o relacionamento que modera o seu discurso. Então, por exemplo, um homem da classe trabalhadora e um homem de classe média ouvem o mesmo sermão. Nenhum deles gosta do que foi pregado. O homem da classe trabalhadora provavelmente dirá que “foi chato” se perguntado diretamente sobre isso. É mais provável que o homem de classe média encontre algo positivo para dizer sobre o sermão, mesmo que ele concorde com o homem da classe trabalhadora. Como resultado, um parece rude e cruel e o outro parece indiferente. O homem de classe média pensa: “Por que ele tem que ser tão rude?”, e o homem da classe trabalhadora pensa: “Por que ele está mentindo?”. Isso deixa os cristãos da classe trabalhadora confusos com a igreja. Eles não entendem por que as pessoas se aborrecem com eles por dizerem a verdade e, por outro lado, não têm nenhum problema em mentir. Linguagem e cultura são coisas muito complicadas, mesmo quando falamos a mesma língua.
  11. Nós precisamos de uma grande visão e objetivos de longo prazo. A Escócia não será conquistada por um grupo de homens e mulheres tímidos em uma reunião de escritório. Ela será ganha por aqueles que sonham alto e confiam na absoluta soberania de Deus para realizar as coisas. O declínio espiritual de décadas não será revertido da noite para o dia. Mas será revertido se permanecermos e morrermos entre o povo para o qual Deus nos chamou.
  12. Ore. Nós oramos em Niddrie. Isso é tudo. Se você é sério a respeito do ministério, então você é sério a respeito da oração.

Siga em frente. Ninguém de destaque já realizou algo em prol do reino sem enfrentar um caldeirão de oposição e incompreensão. Ninguém nos agradecerá pelo nosso trabalho. Ninguém distribuirá prêmios. Avante.

Por: Mez McConnell. © 20schemes. Website: 20schemes.com. Traduzido com permissão. Fonte: How Can We Transform Scotland Once Again? Lessons From 5 Years of 20schemes.

Original: Plantação de igreja: 12 dicas aprendidas com 5 anos de 20schemes. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Teixeira. Revisão: William Teixeira.