Um blog do Ministério Fiel
E se uma pessoa disciplinada por outra igreja começar a frequentar a nossa?
Escrevi uma série em quatro partes sobre disciplina eclesiástica em artigos anteriores, então não repetirei sobre o tema neste artigo (se você quiser ler a série, clique aqui [em breve em português]).
Em resumo:
- Como igreja, seguimos os princípios de Mateus 18.15-17 para a disciplina eclesiástica em nossa igreja.
- Quando falamos sobre disciplina eclesiástica, intencionamos o “uns aos outros” diário dos membros da igreja. Isso significa que a esmagadora maioria das “questões de pecado” em nossa igreja são tratadas dessa maneira.
- Nós temos um nível a mais dentro desses princípios, no qual as questões sérias de pecado chegam aos presbíteros para oração e discussão antes de levá-las à congregação para a ação adequada. Isso nos dá tempo para investigar a situação e nós (a) encorajamos aqueles envolvidos em desafiar o pecado a repensar ou agir com mais sabedoria e/ou graça (em outras palavras, não achamos que a questão seja tão séria quanto eles) ou (b) desafiamos a pessoa confrontada a explicar a situação. Dirigir-nos aos membros é sempre nossa opção final, e somente depois de termos esgotado todas as outras medidas e passos bíblicos disponíveis para nós.
- A excomunhão é o passo final em nosso processo disciplinar. É quando dizemos a uma pessoa, ou pessoas, que não podemos mais, como um corpo do povo de Deus, confirmar a sua confissão de fé. Para ser claro, nós apenas excomungamos as pessoas devido a pecado sério, público e consistentemente impenitente que leva o evangelho e o testemunho da igreja ao descrédito.
- Os membros excomungados de nossa igreja ainda são bem-vindos, na verdade são ativamente encorajados a participar do culto no domingo (a menos que a ofensa coloque outros em risco), mas não podem participar da Ceia do Senhor e não têm direitos de membros (como o cuidado pastoral). Na prática, nós os tratamos com amor, bondade e hospitalidade como incrédulos, até o momento em que vemos uma genuína profissão de fé que produza frutos dignos de arrependimento.
Isso tudo parece claro, mas, infelizmente, a vida (e o pecado) não funciona bem assim. Existem muitos fatores que podem atrapalhar o processo. Em meus 18 anos de ministério, tenho experimentado o seguinte:
- Aqueles sob disciplina apenas deixam a igreja e recusam todas as tentativas de contato na tentativa de evitar problemas sérios relativos ao pecado em suas vidas.
- Igrejas mais “abertas” (ou seja, liberais) acolherão pessoas envolvidas em pecados sérios, evidentes e não arrependidos sem questionamentos. Então, por exemplo, recentemente tivemos um casal que veio a nós professando ser crentes, mas descobrimos que eles estavam dormindo juntos sem serem casados. Nós confrontamos seu comportamento quando nos pediram para ser membros. Eles deixaram a nossa igreja e agora “cultuam” em outra que aceita o comportamento deles (ou, no mínimo, não o confronta).
- Membros de nossa igreja que estão sob disciplina foram encorajados a nos deixar e se unir a uma igreja diferente pelo pastor daquela igreja com a promessa de que eles seriam mais bem cuidados (eles quase dividiram a igreja e quase puseram fim àquele ministério).
- Já tivemos membros de outras igrejas comparecendo aos nossos cultos, citando um tratamento ruim ou legalismo ou acusando a sua igreja de não ser “centrada no evangelho” (uma desculpa favorita) quando, na verdade, eles têm saltado de igreja em igreja por anos e causado divisão por onde passam. Eles saem quando os questionamos e pedimos referências.
- Líderes de igrejas já nos deram boas referências para “pessoas problemáticas” apenas para tirá-las de sua responsabilidade (essa é uma prática crescente!).
- Descobrimos que um de nossos membros, passando pelo processo de disciplina por pecado grave, era na verdade o líder de um pequeno grupo em outra igreja (onde ele não era membro!). Quando informei o pastor sobre a situação, ele nem sabia que essa pessoa estava frequentando a igreja dele, e ainda menos que liderava um grupo.
Existem muitos outros exemplos que eu poderia citar. Existe um problema no Reino Unido. Igrejas pequenas e/ou igrejas em processo de plantação, desesperadas por pessoas nos bancos, aceitarão quase todos em uma tentativa desesperada de parecer que estão crescendo. Ou, igrejas maiores aceitarão a presença de alguém porque elas realmente não têm controle sobre quem está frequentando as suas igrejas no sentido de realmente conhecê-las ou seus antecedentes. O resultado final é quase sempre o mesmo. Aqueles sob disciplina e/ou que saltam de congregação em congregação impunimente, causam desordem e então passam para as suas próximas vítimas inocentes (embora não totalmente inocentes).
Portanto, o desafio é que pastores assumam alguma responsabilidade pela situação atual. Precisamos lembrar os membros da igreja de sua responsabilidade de garantir que nós estamos à procura de lobos entre as ovelhas. O problema se tornou ainda mais urgente recentemente em uma reunião de plantadores de igrejas do 20schemes. Descobrimos que um homem que foi excomungado da nossa igreja começou a frequentar uma das plantações em outra periferia. Enquanto escrevo, outro de nossos membros excomungados estão participando de uma igreja diferente de nosso ministério. A questão é, como os plantadores de igrejas e nós, como a igreja que excomungou, devemos reagir? Como devemos tratar tais pessoas?
Como lidamos com aqueles que foram excomungados de uma igreja quando começam a frequentar a nossa?
- Nós devemos assegurar que conhecemos verdadeiramente as ovelhas que Jesus nos chamou para apascentar. Não queremos agir como a polícia secreta, mas queremos conhecer as pessoas que estão sentadas em nossos bancos e participando de nossas reuniões. Quem são essas pessoas? De onde elas vêm? Como podemos servi-las? Qual é o seu histórico? Qual é a experiência anterior em uma igreja (se houver)? Se elas estavam sob disciplina em sua antiga igreja, sobre o que se tratava? Se elas não responderem a essa pergunta com sinceridade (e as chances são de que não o façam), pergunte a elas sobre como estão alguns dos principais problemas com os quais lutam atualmente em sua vida.
- Aceite referências de outros pastores quando apropriado. Fazemos isso em Niddrie, independentemente da denominação, ou se achamos que a igreja de onde vieram é “saudável” ou não. Precisamos fazer perguntas investigativas nesse processo. Como tais pessoas eram como membros da igreja? Tem existido algum pecado histórico ou sério que devamos conhecer? (pastores e plantadores de igrejas pequenas são terríveis ao responder essa pergunta). Muitas vezes eu precisei ligar para um pastor ou plantador e informá-los sobre a situação de algumas das pessoas que nos deixaram sob suspeita e se uniram a eles na tentativa de fugir de seus pecados e responsabilidades. Paralelamente, muitos pastores/plantadores muitas vezes estão muito dispostos a crer em coisas ruins sobre outros líderes de igreja por meio de relatos de pessoas que eles mal conhecem, as quais têm participado de suas reuniões com uma história triste sobre como foram maltratados. Isto é ainda mais facilitado se discordamos teologicamente da igreja de onde vieram. Ninguém se torna membro de nossa igreja até que (1) tenhamos obtido referências e estejamos convencidos de que não há história séria com a qual precisamos nos preocupar e (2) saíram bem de sua última igreja (em outras palavras, eles não estão fugindo).
- Incentive os novos participantes a saírem bem de sua antiga igreja. Na prática, não deixe que eles fujam pela porta dos fundos de sua antiga igreja e entrem pela porta da frente da sua igreja. Eles escreveram uma carta de desligamento para sua antiga congregação declarando a razão de sua saída e assegurando-lhes que estão em comunhão com uma nova igreja centrada no evangelho (isso é parte da declaração pactual para nossos membros)? Tenha certeza que eles não estão negligenciando o pecado não resolvido. Lembre-se: não se dar bem com outras pessoas ou não gostar dos sermões do pastor não são, em minha opinião, razões biblicamente suficientes para deixar uma congregação e se unir a outra. Se eles não saírem bem da antiga congregação, então as chances são de que eles também não sairão bem da sua.
- Encoraje a reconciliação com a igreja anterior e/ou com quem eles têm problemas que envolvem pecado.
- Não distribua autoridade rapidamente. Permita que as pessoas participem e sejam acolhidas, mas não lhes dê muita autoridade cedo demais. Isso lhes dá a chance de conhecer a sua igreja e você a chance de conhecer o caráter deles. Um casal nos deixou depois de 6 meses porque o homem achava que era mais talentoso do que a maioria dos meus presbíteros. Isso pode ser verdade, mas o fato de ele não conseguir se sentar e humildemente receber o ministério daqueles homens me informou o que eu precisava saber sobre os defeitos de caráter dele. Além disso, a sua saída teve menos efeito sobre a igreja do que teria se eu tivesse dado a ele um lugar de autoridade anteriormente. Um dos problemas com as igrejas em periferias (e isso geralmente ocorre em comunidades pobres) é que elas tendem a atrair crentes teologicamente qualificados, mas espiritualmente imaturos. Igrejas pequenas (20-60 pessoas) em nossas comunidades são alvos fáceis para aqueles que procuram mostrar o que sabem e exercer poder e influência.
Nós, igrejas em periferias, em particular, devemos ter cuidado, pois temos tão poucos membros que qualquer um que perambule no domingo pode ser tentador para nós. Tal é o nosso desejo de ter crentes maduros que podemos confundir conhecimento com caráter e podemos pagar um preço alto por esse erro. Nós desejamos ser lugares de refúgio para os feridos e marginalizados, mas também desejamos proteger as nossas ovelhas dos lobos que vagueiam pelo cenário da igreja evangélica. Que Deus nos ajude a sermos fiéis às Escrituras. Que ele nos conceda amor, paciência e sabedoria nesses assuntos.