Um blog do Ministério Fiel
A vida na casa da Pérsia tem perigos ao coração do povo de Deus
Ester é um livro interessantíssimo e intrigante. É uma das famosas histórias do Antigo Testamento, e se você cresceu numa igreja evangélica provavelmente você ouviu essa história nas EBFs ou na salinha de Escola Dominical, assim como a de Daniel na cova dos leões, de Rute ou Davi e Golias. E possivelmente você ouviu coisas meio erradas e a ênfase ser colocada em lugares secundários. E, possivelmente, Ester parecia tão espetacular, tão santa e tão o que ela não era de fato.
A versão higienizada que vemos nas versões infantis pode ser bem enganosa para que a gente entenda o que é a vida na casa da Pérsia. A real história, entretanto, é bastante útil para o povo de Deus em todo e qualquer lugar.
Quando se passa a história? Esse capítulo se passa em Susã, principal das cidades do grande, glorioso e poderosíssimo império Persa, que substituiu a Babilônia como superpotência mundial. A Babilônia foi figura central na história da região, sendo inclusive a responsável pelo famoso exílio babilônico do povo de Deus. Mas impérios se levantam e impérios caem. E os poderosos babilônios não duraram muito, não. Foram substituídos pelos persas. E era um baita império. O texto fala de uma extensão vastíssima. Da Índia até a Etiópia, cento e vinte e sete províncias. Era a grande superpotência política e militar daquele tempo. Sua extensão seria o equivalente a duas vezes a Argentina atual. Sua área de domínio principal é o que hoje chamamos de Irã. Pense nisso: da costa Africana, Etiópia, até o Paquistão e chegando na Índia. É muita coisa. Os tempos, entretanto, não eram fáceis para os persas, tendo Assuero derrotado uma insurreição de egípcios e rebeliões babilônicas.
Quem é esse rei? Assuero é o seu nome. Ele é o mesmo que Xerxes I. Talvez você conheça a história da guerra do império Persa contra os gregos. Tem a famosa história da batalha de Termópilas, os portões de fogo, com o famigerado Leônidas, os 300 de Esparta e tudo o mais. A cronologia vai assim: Dario (pai de Xerxes) tenta uma primeira invasão e fracassa. Depois vem Xerxes (Assuero) e tenta novamente. O livro de Ester começa antes dessa invasão de Xerxes (Ester 1) e segue depois dela (Ester 2-9). E o tal rei que queria dominar a Grécia é esse Assuero da história.
A dinastia de reis persas é repleta de homens poderosos e cheios de ideias de grandeza. Ele era tratado como um deus. Sua vontade era absoluta. Essa é a situação do livro. E no que uma história que se passa num império que há muito virou pó pode nos ser útil?
O livro de Ester lida com alguns fatores profundamente úteis a nós hoje no Brasil. Uma questão muito importante é acerca de como Deus age. É um livro que mostra como Deus está agindo no dia a dia, mesmo em contextos majoritariamente pagãos, de formas não óbvias aos nossos olhos. Ainda vamos terminar de ler o capítulo, mas ao fazermos, note a ausência de qualquer menção a Deus. Será que isso vai mudar ao longo deste livro? Parece ser uma história sem Deus. De forma similar, é a realidade que nós devemos encarar em nosso próprio contexto. Precisamos lidar com a aparente falta de Deus: “O Deus que pode abrir o Mar Vermelho e ressuscita Jesus dos mortos não escolhe exercitar esse mesmo tipo de poder com muita frequência em nossa experiência”. Deus não aparece na nossa vida das formas explícitas e retumbantes que a gente gostaria. A vida na casa da Pérsia parece muitas vezes estranhamente sem Deus. Mas, como nos lembra David Strain: “A presença da ausência não é o mesmo que a ausência da presença”.
Artigo adaptado do livro Ester Na Casa da Pérsia, de Emilio Garofalo Neto, Editora Fiel.