Maternidade real é bem clichê

Por muitas vezes me pego tendo uma visão e expectativa muito romântica da maternidade, algo parecido com um sonho, ou talvez um comercial de televisão: “pela manhã seus cabelinhos embolados cheiram rosas e a manteiga derretida no pão traz sorrisinhos, então temos um momento mágico no café da manhã, as camas são feitas em meio a canções, as tarefas escolares realizadas como um beijinho na testa, a leitura da Bíblia ocorre sem distrações ou perguntas aleatórias, e a obediência é algo de praxe, sem perguntas ou desculpas.”

Então acordo! Vejo quão real é minha casa, quão difícil é me dar conta que não parei pra cheirar os cabelinhos hoje, o café da manhã é corrido, pois todos tem compromissos ao mesmo tempo e nem dá tempo de a manteiga derreter, pois, neste tempo de pandemia, as aulas e reuniões online acontecem todas ao mesmo tempo.

Tem quem assista à Live da escola ainda na cama por fazer, o beijinho na testa vira “Foco na lição, sem abrir outras abas enquanto estuda!” A luta em relação à obediência é real e contínua. E o nosso tempo com Deus? Bom, este continua precioso, nos mostrando quem somos e quão grande nosso Criador é, mas sempre com aprendizados e perguntas que vão além do texto lido e às vezes é um tempo espremido entre tarefas.

É bom estar acordada e perceber estas coisas, perceber minha limitação e quão bom Deus é em cuidar de minha família muito além das minhas forças e a despeito dos nossos erros. É bom estar acordada e testemunhar do crescimento e desenvolvimento real dos meus filhos, sem ficar sonhando com situações ilusórias.

Em meio a este processo de despertar, me dou conta que a luta em relação à desobediência é minha em primeiro lugar, o desfoque é meu, a necessidade de prestar mais atenção na Palavra é muito minha. Preciso cessar de arrumar desculpas e admitir.

Apesar daquele sonho me parecer muito bom e satisfatório, não posso negar minha realidade, muito menos desprezar o fato de que minha vida acordada é muito melhor do que dormindo, exatamente por ser verdadeira. O sonho se vai como a neblina, mas a realidade é palpável, tem cheiro de cabelinhos suados de tanto brincar, tem beijinho no dodói e tem mancha de guache na camiseta.

Louvo a Deus pela minha realidade, pelo seu cuidado amoroso e contínuo para conosco. A maternidade real aqui em casa é cheia de altos e baixos, de broncas e pedidos de perdão, de ralados e beijinhos, tudo permeado com amor e dependência de Deus.

Nosso Deus Trino é real, é misericordioso, gracioso e consolador. Que isto nos seja encorajador e que você e eu possamos ver o quão Deus é concreto em nosso dia a dia. Nós precisamos dele para não sermos enganadas a pensar que podemos ser supermães com superpoderes. Somos bem-aventuradas, porém finitas.

Que a nossa realidade não nos choque fazendo-nos cobiçar o sonho da propaganda de margarina. Mas que ela nos traga real alegria e satisfação em sermos quem somos em Cristo e em estarmos inseridas nesta família que Deus nos deu para amar e zelar.