O pensamento grego e a igreja cristã: considerações finais

A verdade é o melhor que o homem pode obter; a verdade é o mais augusto que a divindade pode conceder. Deus cede todos os bens aos homens para suprir suas necessidades; mas, ao comunicar-lhes a inteligência e sabedoria, permite-lhes que sejam partícipes dos atributos que lhe são próprios e de que faz constante uso. Não é a prata, nem o ouro, o que constitui a divina felicidade; o que estabelece seu poder não é o trovão, nem o raio, senão a ciência e a sabedoria. – Plutarco (46-120 AD.).[1]

O homem perfeitamente justo, o homem que é tão justo quanto humanamente possível, é, segundo Sócrates, o filósofo, e, segundo os profetas, o servo fiel do Senhor. O filósofo é o homem que dedica sua vida à busca do conhecimento do bem, da ideia do bem; aquilo que chamamos de virtude moral é apenas a condição ou subproduto dessa busca. Segundo os profetas, porém, não há necessidade de buscar o conhecimento do bem: “Eu te mostrarei, ó, homem, o que te é bom, o que o Senhor requer de ti: É que pratiques a justiça, que ames a misericórdia e que andes solícito com o (serviço do) teu Deus” (Miquéias 6.8). – Leo Strauss (1899-1973).[2]

Ninguém filosofa bem se não for tolo, isto é, cristão. – Martinho Lutero (1483-1546).[3]

Pensar não é o alvo da vida. Pensar, como o não pensar, pode ser o alicerce para a vanglória. Pensar, sem oração, sem o Espírito Santo, sem obediência e sem amor ensoberbecerá e destruirá (1Co 8.1). Mas o pensar em submissão à poderosa mão de Deus, o pensar saturado de oração, o pensar guiado pelo Espírito Santo, o pensar vinculado à Bíblia, o pensar em busca de mais razões para louvar e proclamar as glórias de Deus, o pensar a serviço do amor – esse pensar é indispensável em uma vida de pleno louvor a Deus. ‒ John Piper.[4]

Linguagem e ressignificação

É muito curiosa a maneira como o Targum[5] traduz de forma interpretativa o texto de Gn 2.7, que diz: “E o homem passou a ser alma vivente”, por “… um espírito que fala”. Ou seja, uma personalidade dotada de capacidade de pensar e expressar-se por meio de palavras.[6]  

A linguagem é um meio de identificação,[7] difusão da cultura e, ao mesmo tempo, de seu fortalecimento. A linguagem carrega consigo significados e valores, já que a linguagem e a comunidade mantém uma relação de interdependência.[8]

Uma questão extremamente difícil é o processo de ressignificação da linguagem de uma cultura. Uso aqui a expressão em sentido bastante restrito: Como fazer as pessoas ouvirem e assimilarem determinadas palavras dentro de uma perspectiva diferente e, até mesmo conflitante, em relação aos significados aprendidos e dominantes?

As palavras carregam consigo significados próprios de uma cultura. A transposição deste conceito nem sempre é possível porque a realidade descrita carece de termos naquela língua para expressá-la. Deste modo, trabalhamos com um conceito analógico[9] que se propõe a fazer uma ponte, nem sempre no mesmo nível, de dois pontos por vezes bastante distantes.

Jaeger (1888-1961) ressaltando a influência da língua grega, afirma que “com a língua grega, todo um mundo de conceitos, categorias de pensamento, metáforas herdadas e sutis conotações de sentido entra no pensamento grego”.[10]

Aqui podemos ter um vislumbre do problema dos escritores do Novo Testamento. Eles esbarraram repetidas vezes nessa questão: apresentar a mensagem cristã com termos já conhecidos, mas, ao mesmo tempo, que ganharam um novo significado a partir da própria essencialidade do Evangelho.

Assim, os escritores sagrados, inspirados por Deus, valeram-se, por vezes, de palavras amplamente conceituadas e assimiladas, porém, conferindo-lhes um sentido distinto, que, muitas vezes, só poderia ser compreendido a partir do Antigo Testamento. Com frequência é frustrante estudar as palavras do Novo Testamento sem a perspectiva teológica de seu conteúdo já estabelecido no Antigo Testamento.[11] O Novo Testamento foi escrito em grego, contudo a sua teologia encontra o seu fundamento na revelação veterotestamentária.

O apóstolo João foi quem mais se deparou com essas questões do conhecimento, justamente por escrever no final do primeiro século, quando o Cristianismo havia se expandido e, ao mesmo tempo, novas heresias surgiam com um conteúdo sincrético.

Quando os pregadores cristãos empregaram, por exemplo, palavras tais como “igreja”, “logos”, “justiça”, “conhecimento”, “regeneração”, “sabedoria”, entre outras, era natural que os seus ouvintes, prematuramente, associassem estes termos aos conteúdos já conhecidos. Uma barreira a ser transposta era mostrar que o Cristianismo tinha uma mensagem diferente e, ao mesmo tempo, urgente e relevante para os seus ouvintes.

Como exemplo, cito que as raízes do uso da palavra “Evangelho” no Novo Testamento, devem ser buscadas não no grego secular, mas sim no Antigo Testamento.[12] Ou seja, mesmo a palavra tendo um emprego comum no grego clássico, o seu conteúdo encontra-se nas páginas do Antigo Testamento. O recipiente é grego, contudo, o conteúdo é judaico. Muitas vezes a língua grega é apenas a taça de prata, mas, o conteúdo de ouro está na terminologia, repleta de significado teológico, veterotestamentária.

A dinâmica da graça em pensamento operante

Mestre: “Qual é o fim principal da vida humana ?

Discípulo: Conhecer os homens a Deus Seu Criador.

“Mestre: Por que razão chamais este o principal fim ?

Discípulo: Porque nos criou Deus e pôs neste mundo para ser glorificado em nós. E é coisa justa que nossa vida, da qual Ele é o começo, seja dedicada à Sua glória. ‒ João Calvino.[13]

Calvino dispunha de uma visão ampla da cultura, entendendo que Deus é Senhor de todas as coisas. Por isso, toda verdade é procedente de Deus, aquele que é o seu autor e a preserva. Esta perspectiva amparava-se no conceito da graça comum ou graça geral de Deus sobre todos os homens.[14] Esta compreensão entende que a graça especial se refere à salvação do homem e que a graça comum indica o cuidado providencial de Deus para com a sua Criação. Deste modo, entende-se que Deus manifesta sua bondade para com todos (Mt 5.45; Lc 6.35) e possibilita o conhecimento de todas as ciências a todos os homens, quer eles creiam em Deus, quer não. Os seus talentos são distribuídos entre crentes e não crentes.

Essa perspectiva tem sérias e importantes implicações culturais. A posição de Calvino a que ele busca base nas Escrituras, historicamente remonta em sua gênese a Justino e a Agostinho.

Como vimos, Justino, filósofo e Mártir (c. 100-c.165 AD), entendia que “… Tudo o que de bom foi dito por eles (filósofos), pertence a nós, cristãos, porque nós adoramos e amamos, depois de Deus, o Verbo, que procede do mesmo Deus ingênito e inefável”.[15]

Conforme já tratamos, a linha interpretativa que parece ter prevalecido é a de Agostinho (354-430), que mesmo admitindo a superioridade das Escrituras, orienta-nos quanto à possibilidade de nos valer de recursos vários, mesmo provenientes, dos pagãos.[16]

Dentro desta tradição, Calvino escreveu:

Visto que toda verdade procede de Deus, se algum ímpio disser algo verdadeiro, não devemos rejeitá-lo, porquanto o mesmo procede de Deus. Além disso, visto que todas as coisas procedem de Deus, que mal haveria em empregar, para sua glória, tudo quanto pode ser corretamente usado dessa forma?[17]

Quantas vezes, pois, entramos em contato com escritores profanos, somos advertidos por essa luz da verdade que neles esplende admirável, de que a mente do homem, quanto possível decaída e pervertida de sua integridade, no entanto é ainda agora vestida e adornada de excelentes dons divinos. Se reputarmos ser o Espírito de Deus a fonte única da verdade, a própria verdade, onde quer que ela apareça, não a rejeitaremos, nem a desprezaremos, a menos que queiramos ser insultuosos para com o Espírito de Deus. (…).

E então? Negaremos que a verdade se manifestou nos antigos jurisconsultos, os quais, com equidade tão eminente, plasmaram a ordem política e a instituição jurídica? Diremos que os filósofos foram cegos, tanto nesta apurada contemplação da natureza, quanto em sua engenhosa descrição? Diremos que careciam de inteligência esses que, estabelecida a arte de arrazoar, a nós nos ensinaram a falar com razoabilidade? Diremos que foram insanos esses que, forjando a medicina, nos dedicaram sua diligência? O que dizer de todas as ciências matemáticas? Porventura as julgaremos delírios de dementes? Pelo contrário, certamente não poderemos ler sem grande admiração os escritos dos antigos acerca dessas coisas. Mas os admiraremos porque seremos obrigados a reconhecer seu profundo preparo.[18]

Em passagem magistral, analisando Gênesis 4.20, Calvino destaca o fato de que mesmo na amaldiçoada descendência de Caim, há espaço para a graça de Deus, concedendo-lhe dons que permitissem a invenção das artes e de outras coisas úteis para a vida presente. “Verdadeiramente é maravilhoso que esta raça que tinha caído profundamente de sua integridade superaria o resto da posteridade de Adão com raros dons”, **comenta Calvino.[19]

Entende que Moisés registrou isso para realçar a graça de Deus que não se tornou vã sobre estes homens, visto que “havia entre os filhos de Adão homens trabalhadores e habilidosos, que exerceram sua diligência na invenção e no cultivo da arte”.[20] Por isso, as “artes liberais (Humanidades)[21] e ciências chegaram até nós pelos pagãos. Realmente, somos compelidos a reconhecer que recebemos deles a astronomia e outras partes da filosofia, a medicina e a ordem do governo civil”.[22]

A leitura de Calvino a respeito da história, da teologia romana e de tudo o mais sempre era feita à luz das Escrituras. Creio que nessa prática temos um princípio desafiante e estimulante para todo cristão reformado.

Hooykaas (1906-1994) resume o humanismo de Calvino: “Ele era um humanista talentoso e realista demais para aceitar que a Queda tivesse levado o homem a uma total depravação no campo científico”.[23]

Wallace (1924-2003), por sua vez, acentua que Calvino:

Sempre insistiu que a tradição precisava ser constantemente corrigida pelo ensino das Sagradas Escrituras e ser subordinada a elas. Porém, ele sempre foi cuidadoso e criterioso em examinar minuciosamente dentro da tradição o que devia ser rejeitado e o que devia ser aceito. Ninguém foi mais obstinado em manter aquilo que ele tinha experimentado como algo bom, qualquer que fosse sua origem, contanto que sua retenção não atrapalhasse a total sujeição de sua mente e de sua vida à Palavra de Deus ou o desviasse de seguir a Cristo.[24]

Calvino entendia que as ciências e humanidades deveriam ser usadas para a glória de Deus. Devemos nos valer dos recursos disponíveis, como por exemplo, para proclamar o evangelho: “… a eloquência não se acha de forma alguma conflitante com a simplicidade do evangelho quando, livre do desprezo dos homens, não só lhe dá o lugar de honra e se põe em sujeição a ele, mas também o serve como uma empregada à sua patroa”.[25]

No entanto: “Para que possa haver eloquência, devemos estar sempre em alerta a fim de impedir que a sabedoria de Deus venha sofrer degradação por um brilhantismo forçado e corriqueiro”.[26] A eloquência “é um dom muito excelente, mas que, quando se vê divorciado do amor, de nada serve para alguém obter o favor divino”.[27] Em outro lugar, respondendo a uma possível pergunta referente à possibilidade de Paulo estar condenando a sabedoria de palavras como algo que se acha em oposição a Cristo (1Co 1.17), diz:

Paulo não seria tão irracional que condenasse como algo fora de propósito aquelas artes, as quais, sem a menor dúvida, são esplêndidos dons de Deus, dons estes que poderíamos chamar de instrumentos para auxiliarem os homens no desempenho de suas atividades nobres. Portanto, não há nada de irreligioso nessas artes, pois são detentoras de ciência saudável, e estão subordinados a princípios verdadeiros; e visto que são úteis e adequáveis às atividades gerais da sociedade humana, é indubitável que sua origem está no Espírito. Além do mais, a utilidade que é derivada e experienciada delas não deve ser atribuída a ninguém, senão a Deus. Portanto, o que Paulo diz aqui não deve ser considerado como um desdouro das artes, como se estas estivessem agindo contra a religião.[28]

A questão está em não usar desses meios como sendo a força do evangelho, esquecendo-se de sua simplicidade que é-nos comunicada pelo Espírito. Escreve em lugares diferentes:

Não devemos condenar nem rejeitar a classe de eloquência que não almeja cativar cristãos com um requinte exterior de palavras, nem intoxicar com deleites fúteis, nem fazer cócegas em seus ouvidos com sua suave melodia, nem mergulhar a Cruz de Cristo em sua vã ostentação.[29]

O Espírito de Deus também possui uma eloquência particularmente sua. (…) A eloquência que está em conformidade com o Espírito de Deus não é bombástica nem ostentosa,[30] como também não produz um forte volume de ruídos que equivalem a nada. Antes, ela é genuína e eficaz, e possui muito mais sinceridade do que refinamento.[31]

A erudição unida à piedade e aos demais dotes do bom pastor, são como uma preparação para o ministério. Pois, aqueles que o Senhor escolhe para o ministério, equipa-os antes com essas armas que são requeridas para desempenhá-lo, de sorte que lhe não venham vazios e despreparados.[32]

O homem que mais progride na piedade é também o melhor discípulo de Cristo, e o único homem que deve ser tido na conta de genuíno teólogo é aquele que pode edificar a consciência humana no temor de Deus.[33]

Deve ser enfatizado que Calvino usou como ninguém de todas as ferramentas então acessíveis para uma boa exegese,[34] dispondo o seu material de forma clara, lógica e simples, sendo chamado, não sem razão, de o “príncipe dos expositores”.[35]

Em sua interpretação bíblica, Calvino combinou de forma harmoniosa a análise filológica com a teológica associando tudo isso a um pensamento construtivo que fez com que a sua teologia tivesse seus próprios fundamentos na Palavra de Deus.[36] Ele foi de fato o exegeta por excelência da Reforma,[37] sustentando que a Escritura é a melhor intérprete de si mesma.[38] Portanto, qualquer doutrina ou mesmo profecia, que não se harmonize com Escritura, “a norma da fé”, será considerada falsa.[39] Desse modo, em nossa interpretação, devemos nos limitar ao revelado. Como vimos: “… Que esta seja a nossa regra sacra: não procurar saber nada mais senão o que a Escritura nos ensina. Onde o Senhor fecha seus próprios lábios, que nós igualmente impeçamos nossas mentes de avançar sequer um passo a mais”.[40]

Um outro ponto que pode nos servir de estímulo e desafio: Sempre é bom lembrar que toda a sua obra foi produzida não num clima de sossego e paz, numa “torre de marfim”, mas em meio a inúmeros problemas: administrativos, domésticos, financeiros e, principalmente, de saúde.[41]

A fé cristã é antitética não por questões estratégicas, periféricas ou gosto, mas, pela sua própria essência. O Cristianismo confere sentido à realidade, apresentando uma dimensão além do aqui e agora, porém, com profundo respeito ao já, considerando que o agora não é o todo,  mas, que ele encontrou sentido no ainda não.  Em outras palavras, a fé cristã tem uma dimensão física e metafísica da vida. Aqui não há nenhum menosprezo pelo aspecto “físico”, mas, a busca de sua plenificação enquanto criação de Deus, ultrapassando, portanto, os seus próprios limites materiais para de fato ter sentido.

Por outro lado, devemos ter sempre em mente que Deus, Senhor de todas as coisas, visíveis e invisíveis, temporais e eternas, por sua bondade, sempre concedeu ao homem lampejos de sabedoria. Isso se dá na própria constituição do ser humano, criado à sua imagem, e, também, no uso de sua razão que mesmo totalmente perdida no que se refere ao sentido espiritual, pode compreender, sempre pela bondade comum de Deus, aspectos verdadeiros do mundo real.

Desse modo, a vida se torna menos angustiante e, nós cristãos, pela graça, podemos nos valer dessas compreensões para apresentar uma dimensão mais ampla  e completa, encontrando o sentido de todas as coisas em Deus. ***Ao mesmo tempo, as nossas contribuições podem ajudar na melhor compreensão da ciência, a fim de que ela não tenha apenas uma perspectiva material e pretensamente todo-poderosa.

Não podemos perder a dimensão de que todo o saber pertence a Deus. Ele rege a história e os acontecimentos aparentemente fortuitos. Se, como vimos, toda verdade pertence a Deus, como esboçou Justino, elaborou este pensamento mais tarde Agostinho, e o plenificou Calvino, podemos nos valer das contribuições que não por acaso, ocorreram no mundo “pagão”, porque se elas forem verdadeiras provieram de Deus.

O pensamento cristão nos liberta do exclusivismo de guetos, quer acadêmicos, quer religiosos (conservadores ou liberais), que inibem a pesquisa e nos impede de uma visão mais plena da verdade de Deus, esteja onde estiver, surja onde surgir. Cristo e a sua Palavra se constituem nos aferidores de toda verdade. Jesus Cristo é o verdadeiro e absoluto cânon da verdade!

Devemos nos lembrar que devido à graça comum de Deus, os incrédulos, a despeito de sua rebelião contra Deus,  não são tão coerentes como gostariam de ser. Afinal, ainda carregam em si a imagem de Deus. Por outro lado, os cristãos, ainda que sinceros, vivem nessa vida em uma condição de tensão com pecado sobrevivente em seus corações. Por isso, incongruências de todos nós na elaboração de nossos sistemas de pensamento e de tudo o mais.[42]

No entanto, como a luz divina não foi totalmente apagada nas mentes humanas quanto às questões materiais, podemos encontrar aqui e ali intuições a respeito da origem humana, suas necessidades e a falta de sentido de muitos de seus sonhos. Por meio dessas luzes, o homem revela, sem se dar conta, de sua origem transcendente mas, ao mesmo tempo, carece de uma visão abrangente dos fenômenos visto que somente em Cristo, temos a síntese dos aparentes paradoxos e antinomias de nossa mente finita, visto que nele habita plenamente todos os tesouros de conhecimento e sabedoria (Cl 2.3).

Poythress, faz uma constatação pertinente. Porém, ela só é válida para aqueles que, sensíveis ao seu chamado, tentam apresentar uma resposta bíblica às inquietações e desafios humanos. A Palavra deve continuar sendo a nossa norma de crer, pensar e agir:

A maior parte da filosofia ocidental tem sido a história de tentar responder às principais questões da vida independentemente da revelação divina, pela razão somente. E essa receita de política de ignorar a revelação divina é uma receita para a autonomia do pensamento humano em lugar da submissão à instrução de Deus.[43]

A mensagem cristã parte do princípio da soberania de Deus sobre todas as coisas, por isso, nada existe nesse mundo que não pertença a Deus. A igreja como instituição missionária avança em todas as direções levando o Evangelho porque o mundo pertence a Deus.

As “extremidades da terra” (Sl 2.8) são possessões do Senhor. Não há quem possa dizer-lhe: isto não lhe pertence. Não há um centímetro sequer de toda a criação que não seja abrangido pela totalidade do poder governativo de Deus.[44] Tudo pertence a Deus. Nenhum rei “governa senão pela vontade de Deus”.[45] Portanto, reivindicar qualquer autonomia ou qualquer forma de exclusão do poder de Deus. Mantendo-o alheio, consiste em um atentado à sua soberania.[46]

Kuiper (1886-1966), observa que a declaração do Cristo ressurreto: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18), prefacia o mandamento evangelístico. “Isso torna a Grande Comissão uma afirmação da soberania mediatária de Cristo”.[47]

Aqui vemos estampada parte da esfera do domínio de Cristo. Ele manda a Igreja evangelizar todo o mundo, porque o mundo todo lhe pertence. Ele é o Senhor! A Boa Nova do Evangelho envolve a mensagem de ambos os testamentos: Deus é o Senhor de toda realidade e de toda verdade.

O senso de urgência da Igreja deve ser derivado do senso de urgência de Deus. A Missão é de Deus que se agencia por meio da Igreja.[48] A eleição do povo de Deus é para o serviço de Deus na sociedade.

A doutrina da vocação é o fundamento da teologia da vida cristã. Deus em seu amor eterno urgencia com a igreja a que compartilhe com todos, de forma “centrífuga” esta mensagem.[49]  A Pessoa de Cristo tem em si mesma e consequentemente em sua obra a força centrípeta que nos atrai e, num processo natural desta atração transformadora, exerce a sua força centrífuga que nos conduz a anunciar a sua pessoa e os seus feitos gloriosos e redentores entre todos os povos.

No Novo Testamento, Paulo instrui a Timóteo: “Prega a palavra (…) Pois haverá tempo (kairo/j)[50] em que não suportarão a sã doutrina” (2Tm 4.2,3). Hoje ainda temos ouvintes; mas, até quando? Hoje temos aqueles ouvintes; mas por quanto tempo? Pois haverá tempo (kairo/j) em que não suportarão a sã doutrina”.

Aquelas pessoas que hoje ouvem a Palavra com interesse e avidez poderão não ouvir em outras épocas ou circunstâncias, daí a nossa responsabilidade de anunciar hoje a Palavra de Deus. “A Escritura nos adverte que, na perspectiva de Deus, o tempo é curto, a necessidade é grande e a tarefa é urgente”, alerta-nos Stott (1921-2011).[51]

O senso de urgência deve nos levar a falar como se aquela fosse a última vez. A mensagem cristã deve ter sempre uma conotação de apelo ao homem para que assuma, pela graça de Deus, uma posição favorável e submissa à sua Palavra. Contudo, devemos nos lembrar, conforme ensina-nos Kuiper (1886-1966), de que “o motivo da urgência da evangelização jaz em Deus. Porque Ele é quem é, insiste urgentemente com os pecadores para que se convertam a Ele”.[52]

Concluo com uma bela síntese de Kalsebeek:

Quando os cristãos se unem para buscar a maneira em que deveriam se conduzir à luz da Palavra de Deus, eles devem fazê-lo com grande humildade, permanecendo abertos a outros que talvez já tenham chegado à conclusões que eles ainda não podem ver. A antítese entre a civitas terrena e a civitas Dei continuará até que o Reino de Deus triunfe e Deus seja tudo em todos como o resultado da redenção de Jesus Cristo,[53]


[1] Plutarco, Os mistérios de Ísis e Osíris, São Paulo: Nova Acrópole do Brasil, 1981, 1, p. 15.

[2] Leo Strauss; Eric Voegelin, Fé e filosofia política: a correspondência entre Leo Strauss e Eric Voegelin, São Paulo: É Realizações, 2017, p. 164-165.

[3]Martinho Lutero, O Debate de Heidelberg (1518). In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas, São Leopoldo, RS.; Porto Alegre, RS.: Sinodal; Concórdia, 1987, v. 1, tese 30, p. 39.

[4]John Piper, Pense – A Vida da Mente e o Amor de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2011, p. 41.

[5] Tradução parafraseada da Bíblia hebraica para o aramaico, língua que se tornou popular entre os judeus desde os tempos de Neemias. (Veja-se: Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1974, p. 48-50).

[6]Cf. Joseph H. Hertz, Pentateuch and Haftorahs, 2. ed., London: Soncino Press, 1960, (Gn 2.7), p. 7.

[7] “Se realmente queremos entender uma cultura, muitas vezes diz-se necessário que compreendamos a sua língua” (Tim Chester, Conhecendo o Deus Trino: porque Pai, Filho e Espírito Santo são boas novas, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2016, p. 18).

[8]“Uma língua é inconcebível sem uma comunidade linguística que a suporte, assim como essa comunidade só existe em virtude de uma língua determinada, que lhe dá ao mesmo tempo sua forma e seu contorno. Desde que uma língua existe, existe também uma comunidade linguística. Há, em suma, entre as duas, uma dependência recíproca” (Walther Von Wartburg; Stephen Ullmann, Problemas e métodos da linguística, São Paulo: Difel, 1975, p. 205). À frente: “Tudo o que podemos dizer é que o nascimento da língua ou de uma determinada língua, ou o nascimento da comunidade que a suporta, o desenvolvimento do espírito, e a origem do gênero humano, representam fenômenos geneticamente conexos” (Ibidem., p. 206-207).

[9]Devo esta expressão às observações de Collingwood (R.G. Collingwood, Los principios del arte, México: Fondo de Cultura Econômica, © 1960, 3. reimpressão, 1993, p. 18-20).

[10] Werner Jaeger, Cristianismo Primitivo e Paideia Grega, Lisboa: Edições 70, 1991, p. 17.

[11] Veja-se: François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 39-40.

[12]Vejam-se: Gerhard Friedrich, Eu)agge/lion: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, v. 2, p. 725; P. Bläser, Evangelho: In: Heinrich Fries, dir., Dicionário de Teologia, 2. ed. São Paulo: Loyola, 1983, v. 2, p. 153; Donatien Mollat, Evangelho: In: Xavier Léon-Dufour, dir. Vocabulário de Teologia Bíblica, 3. ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1984, p. 319; U. Becker, Evangelho: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2, p. 169.

[13]John Calvin, Catechism of the Church of Geneva, perguntas 1 e 2. In: John Calvin, Tracts and Treatises on the Doctrine and Worship of the Church, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1958, v. 2, p. 37. Durante o inverno de 1536-1537, Calvino (1509-1564) elaborou um Catecismo. Posteriormente, ele o reviu – tornando a sua teologia mais acessível aos seus destinatários: as crianças –, e o ampliou consideravelmente, mudando inclusive a sua forma, passando então, a ser constituído de perguntas e respostas, contendo 373 questões. Esta nova edição, de onde extraímos as duas perguntas acima, foi publicada entre o fim de 1541 e o início de 1542.

[14]Cf. As Institutas, II.2.16-17,27; II.3.4. Esta doutrina, que nada mais é do que a compreensão de que o Espírito Santo exerce influência comum sobre os homens em geral, pode ser resumida em três pontos: 1) Uma atitude favorável da parte de Deus para com a humanidade em geral – eleitos e réprobos –, concedendo-lhes os bens necessários à sua existência: chuva, sol, água, alimento, vestuário, abrigo; 2) A restrição do pecado feita pelo Espírito Santo na vida dos indivíduos e na sociedade: “A obra da graça divina se vê em tudo que Deus faz para restringir a devastadora influência e desenvolvimento do pecado no mundo….” (L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 436); 3) A possibilidade da aplicação da justiça civil por parte do não regenerado: Aquilo que é certo nas atividades civis ou naturais. No entanto, deve ser dito que esta graça: a) Não remove a culpa do pecado; b) Não suspende a sentença de condenação, portanto, o homem continua sob o juízo de Deus. Deste modo, esta ação do Espírito deve ser distinta da Sua operação efetiva no coração dos eleitos por meio da qual Ele os regenera.

Kuyper a definiu da seguinte forma; É a ação “pela qual Deus, mantendo a vida do mundo, suaviza a maldição que repousa sobre ele, suspende seu processo de corrupção, e assim permite o desenvolvimento de nossa vida sem obstáculos, na qual glorifica-se a Deus como Criador” (A. Kuyper, Calvinismo, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 38-39). Veja um testemunho interessante: Vern S. Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 39; Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, com toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 64.

[15]Justino, Segunda Apologia, São Paulo: Paulus, 1995, XIII.4. p. 104. Veja-se uma argumentação interessante a favor do aconselhamento integracionista partindo da graça comum em: Ian F. Jones, Fundations for Biblical Christian Counseling: The Counsel of Heaven on Earth, Tennessee; Broadman & Holman Publishers, 2006,  p. 3-13.

[16]Cf. Santo Agostinho, A Doutrina Cristã, São Paulo: Paulinas, 1991, II.41-43.

[17]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 1.12), p. 318. Vejam-se também: As Institutas, I.5.2; I.15.6; II.2.13,15, 16; John Calvin, To Bucer, “Letters,” John Calvin Collection, (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Software, 1998), Fevereiro de 1549, nº 236. Fiel a esse princípio, na Academia de Genebra, estudavam-se autores gregos e latinos, tais como: Heródoto, Xenofonte, Homero, Demóstenes, Plutarco, Platão, Cícero, Virgílio, Ovídio, entre outros. (Ver: Philip Schaff, History of the Christian Church, v. 8, p. 805; Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 88). NAs Institutas, escreveu: “Admito que a leitura de Demóstenes ou Cícero, de Platão ou Aristóteles, ou de qualquer outro da classe deles, nos atrai maravilhosamente, nos deleita e nos comovem ao ponto de nos arrebatarem” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, (I.1), v. 1. p. 74). Ver também: Heber Carlos de Campos, A “Filosofia Educacional” de Calvino e a Fundação da Academia de Genebra. In: Fides Reformata, São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 5/1 (2000) 41-56, p. 51.

[18]João Calvino, As Institutas (2006), II.2.15. Ele acrescenta: “…. Se o Senhor nos quis deste modo ajudados pela obra e ministério dos ímpios na física, na dialética, na matemática e nas demais áreas do saber, façamos uso destas, para que não soframos o justo castigo de nossa displicência, se negligenciarmos as dádivas de Deus nelas graciosamente oferecidas” (J. Calvino, As Institutas, II.2.16). (Vejam-se: J. Calvino, As Institutas, I.5.2; II.2.12-17; A. Kuyper, Calvinismo, p. 128-129).

[19]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 1, (Gn 4.20), p. 217.

[20] John Calvin, Calvin’s Commentaries, v. 1, (Gn 4.20), p. 218.

[21]No século XIV, o vocábulo “humanista” era empregado na Itália, referindo-se aos que se dedicavam ao estudo das Humanidades (“Studia Humanitatis”) [“Todos estes estudos tinham em vista a formação moral dos estudantes tornando-os mais humanos pelo desenvolvimento das qualidades que tornam o homem superior aos animais” (Humanidade: In: Francisco da Silveira Bueno, Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, São Paulo: Saraiva, 1965, v. 4, p. 1824)] que correspondia às “Artes Liberais” (“Artes libero dignae”); isto é: História, Retórica, Lógica, Aritmética, Música, Astronomia e Geometria.

[22]John Calvin, Calvin’s Commentaries, v. 1, (Gn 4.20), p. 218. “É bem verdade que os que receberam instrução sobre as artes liberais, ou que provaram algo delas, têm nesse conhecimento uma ajuda especial para aprofundar-se nos segredos da sabedoria divina” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, (I.1), v. 1. p. 63).

[23]R. Hooykaas, A Religião e o Desenvolvimento da Ciência Moderna, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1988, p. 152. Ver: João Calvino, As Institutas, II.12-13; Donald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, p. 91-96.

[24] Donald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, p. 11-12.

[25]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Edições Paracletos, 1996, (1Co 1.17), p. 55. “Demais, ninguém terá por genuína a verdade que se apoia na excelência da oratória. Naturalmente que a oratória pode servir de auxílio para a verdade, mas esta não pode depender daquela” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.5), p. 79). “Não existe nada de grandioso em alguém ser adepto de uma elocução fluente quando o tal nada emite senão sons vazios! Portanto, aprendamos que a atratividade linguística meramente superficial, e a habilidade na transmissão do ensino, são como um corpo bem formado e saudável na aparência, enquanto o poder de que Paulo fala aqui é como a alma” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 4.20), p. 148-149). “Embora o Salmo contenha muitas coisas que são geralmente conhecidas, todavia ele ilustra com todo esplendor e ornamento de retórica, para que possa afetar ainda mais poderosamente os corações dos homens e adquirir para si uma autoridade ainda maior” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 78.3), p. 197).

[26]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.13), p. 91.

[27]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 13.1), p. 394.

[28]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 1.17), p. 53-54.

[29]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 1.17), p. 55. “Deus quer que sua Igreja seja edificada com base na genuína pregação de sua Palavra, não com base em ficções humanas. (…) Nesta categoria estão questões especulativas que geralmente fornecem mais para ostentação – ou algum louco desejo – do que para a salvação de homens” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.12), p. 112). “A pregação de Cristo é nua e simples; portanto, não deve ela ser ofuscada por um revestimento dissimulante de verbosidade” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 1.17), p. 54). “(A) fé saudável equivale à fé que não sofreu nenhuma corrupção proveniente de fábulas” (João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.14), p. 320). “Se porventura desejarmos conservar a fé em sua integridade, temos de aprender com toda prudência a refrear nossos sentidos para não nos entregarmos a invencionices estranhas. Pois assim que a pessoa passa a dar atenção às fábulas, ela perde também a integridade de sua fé” (João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.14), p. 320).

O Diretório de Culto de Westminster (1645), falando sobre o Ministério pastoral, diz que na pregação, o ministro deve desempenhar a sua tarefa “claramente, para que o mais simples possa entender, expondo a verdade, não em palavras sedutoras de sabedoria humana, mas na demonstração do Espírito e do poder, para que a cruz de Cristo não seja tornada ineficaz; abstendo-se também de um uso sem proveito de línguas desconhecidas, frases estranhas, e cadência de sons e palavras; citando bem poucas vezes sentenças de escritores teológicos ou outros humanistas, antigos ou modernos, por mais elegantes que sejam” (O Diretório de Culto de Westminster, São Paulo: Editora os Puritanos, 2000, p. 40).

[30] “Pois ninguém é mais radical do que os mestres desses discursos bombásticos, quando fazem pronunciamentos precipitados sobre coisas das quais nada sabem” (João Calvino, As Pastorais, (1Tm 1.7), p. 34).

[31]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 1.17), p. 56.

[32]João Calvino, As Institutas, IV.3.11. “Não se requer de um pastor apenas cultura, mas também inabalável fidelidade pela sã doutrina, ao ponto de jamais apartar-se dela” (J. Calvino, As Pastorais, (Tt 1.9), p. 313). “O pastor é aquele a cujos cuidados são confiadas almas. Não é apenas um homem fino e agradável que visita as pessoas, toma uma chávena de chá com elas à tarde ou se entretém com elas. Ele é o guardião, o vigia, o preceptor, o organizador, o diretor, que governa o rebanho. O mestre ministra instrução na doutrina, na verdade” (David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 167).

[33]João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.1), p. 300.

[34]Vejam-se: João Calvino, As Institutas, I.5.2; II.2.12-17; 12; Donald K. McKim, Calvin’s View of Scripture: In: Donald K. McKim, ed. Readings in Calvin’s Theology, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 64-65; Alister E. McGrath, A Life of John Calvin: A Study in the Shaping of Western Culture, Oxford, UK. & Cambridge, USA.: Blackwell Publishers, (Reprinted), 1991, p. 151; Anthony N.S. Lane, John Calvin: Student of the Church Fathers, Grand Rapids, Mi: Baker Books, 1999, especialmente, p. 15-66.

[35]Cf. a expressão de Singer (C. Gregg Singer, John Calvin: His Roots and Fruits, Greenville: Abingdon Press, 1989, p. 6). Os editores das obras de Calvino em Brunswick, comparando Calvino com outros reformadores, concluem que ele pode, com justiça, ser chamado de o “príncipe e guia (standard-bearer) dos teólogos” (Cf. John Murray, Calvin as Theologian and Expositor, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, (Collected Writings of John Murray, v. 1), 1976, p. 306).

[36] Ver: Thomas F. Torrance, The Hermeneutics of John Calvin, Edinburgh: Lindsay & Co. Ltd., 1988, p. 61.

[37] “A palma pertence a Lutero como tradutor; a Calvino como intérprete da Palavra” (Jorge P. Fisher, Historia de la Reforma, Barcelona: CLIE., (1984), p. 204). “Lutero foi o príncipe dos tradutores; Calvino, o príncipe dos comentaristas” (P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 459). “O maior exegeta e teólogo da Reforma foi indubitavelmente Calvino” (F.W. Farrar, History of Interpretation, London: Macmillan and Co., 1886, p. 342 (Edição fac-símile feita pela Kessinger Publishing)). “Ele foi um dos maiores intérpretes da Escritura que já viveu” (F.W. Farrar, History of Interpretation, p. 343). Murray acrescenta: “Calvino foi um exegeta e teólogo bíblico de primeira linha” (John Murray, em Introdução à tradução americana da Instituição, (Reformation History Library, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1997), p. 4). “O maior exegeta do seu tempo….” (Henri Strohl, O Pensamento da Reforma, São Paulo: ASTE, 1963, p. 222). “Ele encontra-se facilmente entre os mais brilhantes (comentaristas) de sua era” (Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 167). “João Calvino (1509-1564), o maior exegeta da Reforma….” (David S. Dockery, Hermenêutica Contemporânea à luz da Igreja Primitiva, São Paulo: Editora Vida, 2005, p. 154).

[38] Veja-se: João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.6), p. 430-432; As Institutas, IV.17.32.

[39]João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.6), p. 432. “A palavra de Deus, à única norma do genuíno discernimento, a qual é aqui declarada como indispensável a todos os cristãos” (João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 5.14), p. 143).

[40]J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 9.14), p. 330. Veja-se também: João Calvino, As Institutas, I.14.4. “A Escritura é a palavra de Deus, que é a fonte de toda a sabedoria. Isso significa que a Escritura deve desempenhar um papel fundamental como fonte de sabedoria e conhecimento” (Vern S. Poythress, O senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, em toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 50).

[41]No dia 25 de dezembro de 1555, Calvino escreve ao pastor de Zurich, Johann Wolf (c. 1521-1572), amigo de Bullinger, em resposta à sua carta de 3 de dezembro. Nela retrata algumas de suas angústias:

“Creia-me, tive menos problemas com Serveto e tenho agora com Westphal e seus companheiros, do que com aqueles que estão próximos de mim, cuja quantidade não pode ser estimada e cujas paixões são irreconciliáveis. Se pudesse escolher, seria melhor ser queimado pelos papistas do que ser eternamente praguejado pelos vizinhos. Eles não me dão um momento de descanso, embora possam ver claramente que estou entrando em colapso sob a carga do trabalho, perturbado por tristes acontecimentos intermináveis e por demandas importunas, Meu único conforto é que a morte logo me tirará desse serviço sobremodo difícil” (Calvino para o pastor em Zurich: Rudolf Schwarz, ed., Johannes Calvins Lebenswerk in seinen Briefen, Germany: Neukirchener Verlag: 1962, v. 2, p. 819). Vejam-se: John Calvin, To Farel, “Letters,” John Calvin Collection, (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 34; John Calvin, To the Physicians of Montpellier, “Letters,” John Calvin Collection, (CD-ROM), nº 665; John Calvin, To Monsieur de Falais, “Letters,” John Calvin Collection, (CD-ROM), 161; T.H.L. Parker, Portrait of Calvin, London: SCM Press, 1954, p. 72; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, São Paulo: Editora Vida Evangélica, 1968, p. 131-132; David Mathis, Introdução: A glória divina e a labuta diária. In: John Piper; David Mathis, eds. Com Calvino no Teatro de Deus, São Paulo: Cultura Crista, 2011, p. 15-16 (em especial).

[42] Veja-se: Vern S. Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 30ss.

[43] Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, em toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 99. Para a demonstração dessa tese, veja-se: Vern S. Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, 380p.

[44]É bastante conhecida a declaração de Kuyper, quando, realizando um antigo sonho, falou na Aula Inaugural na Universidade Livre de Amsterdã em 20 de outubro1880, expressando a sua cosmovisão que caracterizaria aquela Instituição: Nenhuma única parte do nosso universo mental deve ser hermeticamente fechado do restante. (…) Não existe um centímetro quadrado no domínio inteiro de nossa existência humana sobre o qual Cristo, que é Soberano sobre tudo, não reivindique: ‘É meu!’” (Abraham Kuyper, Sphere Sovereignty: In: James D. Bratt, ed. Abraham Kuyper: A centennial reader, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1998, p. 488).

[45]João Calvino, O Profeta Daniel: Capítulos 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 2.36-39), p. 148.

[46] Veja-se: Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, com toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 13-14.

[47]R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 46. Do mesmo modo: John Stott, Ouça o Espírito, Ouça o Mundo, São Paulo: ABU Editora, 1997, p. 408-409.

[48] “Todos nós deveríamos concordar que a missão surge primariamente da natureza de Deus e não da natureza da Igreja” (John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, Viçosa, MG.: Ultimato, 2010, p. 24). “A missão primordial é a de Deus, pois foi Ele quem mandou seus profetas, seu Filho, seu Espírito” (John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, p. 25).

[49] Vejam-se: J. Blauw, A Natureza Missionária da Igreja, São Paulo: ASTE., 1966, p. 34ss.; John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, p. 24ss.

[50]A ideia da palavra é de “oportunidade”, “tempo certo”, “tempo favorável”, etc. (Vejam-se: Mt 24.45; Mc 12.2; Lc 20.10; Jo 7.6,8; At 24.25; Gl 6.10; Cl 4.5; Hb 11.15). Ela enfatiza mais o conteúdo do tempo. Este termo que ocorre 85 vezes no NT., é mais comumente traduzido por “tempo”, surgindo, então, algumas variantes, indicando a ideia de oportunidade. Assim temos (Almeida Revista e Atualizada): Tempo e tempos: Mt 8.29; 11.25; 12.1; 13.30; 14.1; Lc 21.24; At 3.20; 17.26; “Devidos tempos”: Mt 21.41; “Tempo determinado”: Ap 11.18; “Momento oportuno”: Lc 4.13; “Tempo oportuno”: Hb 9.10; 1Pe 5.6; Oportunidade: Lc 19.44; Gl 6.10; Cl 4.5; Hb 11.15; Devido tempo: Lc 20.10; Presente: Mc 10.30; Lc 18.30; “Circunstâncias oportunas”: 1Pe 1.11; Algum tempo: Lc 8.13; Hora: Lc 8.13; 21.8; Época: Lc 12.56; At 1.7; 1Ts 5.1 (Xro/nwn kai\ tw=n kairw=n); 1Tm 6.15; Hb 9.9; Ocasião: Lc 13.1; 2Ts 2.6; 1Pe 4.17; Estações: At 14.17; Vagar: At 24.25; Avançado: Hb 11.11.

[51] John Stott, Ouça o Espírito, Ouça o Mundo, São Paulo: ABU Editora, 1997, p. 417.

[52]R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 71.

[53]L. Kalsbeek, Contornos da Filosofia Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 130.