Salmo 32: A Misericórdia que nos assiste – (parte 23)

O que significa o livramento de Deus em nossas vidas

A Misericórdia que nos assiste (Sl 32.1-11) (23)

O que significa o livramento[1] de Deus em nossas vidas

“Me cercas (sabab)[2] de alegres cantos de livramento (palêt)(Sl 32.7).

Esta palavra (palet) só ocorre neste texto, sendo derivada de (palat), escapar, fugir, estar seguro, livrar.

A palavra está no piel (forma intensiva do qal) apresentando a ideia de algo intenso, enérgico e persistente. O cuidado de Deus é intenso e constante. Ele não abre fresta para os nossos adversários. A sua Palavra nos guarda e protege. Os seus mandamentos são justos, corretos e preservadores. A sua mão é poderosa para nos livrar.

O nosso livramento deve nos conduzir a glorificar a Deus. O pecador arrependido pode contar com o livramento misericordioso de Deus (Sl 32.7). A misericórdia de Deus não é mero sentimento, antes, opera em justiça.

Na experiência do salmista vemos que após ser libertado por Deus das mãos de Saul, Davi cantou: “….O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador (palat) (2Sm 22.2). (Igualmente: 2Sm 22.44; Sl 18.2,43,48).

Sensação subjetiva de insegurança

A sensação subjetiva de insegurança é muito dolorosa, ainda que o objeto que a produza seja inexistente. Deixando este aspecto patológico, podemos observar que todos já nos sentimos assim. Lembro-me que há alguns anos quando determinada facção criminosa fez vários ataques em pontos distintos de São Paulo, em uma segunda-feira, a cidade foi tomada de pânico a ponto de o comércio fechar mais cedo. Algo até então inimaginável de acontecer em pleno século XXI na cidade mais importante do país.

Em 2017, Vitória, linda capital do Espírito Santo, viveu dias de intensa violência e insegurança devido à greve da Polícia Militar por três semanas quando foram registrados 225 homicídios e mais de 300 lojas saqueadas.[3] O que nos faz pensar a respeito da depravação humana, seus valores, dignidade, respeito à vida, à propriedade alheia, etc.

A nossa confiança em Deus, no entanto, não é frustrada, ela pode ser historiada na vida de nossos pais e também aprendida por nós nas circunstâncias mais adversas. Conta-nos o salmista: “Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste (palat)(Sl 22.4).

Aprender a confiar em Deus em meio às injustiças

Quando somos injustiçados parecendo que a violência e a falsidade levam vantagem, aprendamos a confiar na proteção libertadora de Deus. É assim que o salmista conclui o Salmo 37, após observar a prosperidade do ímpio: 39 Vem do SENHOR a salvação dos justos; ele é a sua fortaleza no dia da tribulação (tsarar). 40O SENHOR os ajuda e os livra (palat); livra-os (palat) dos ímpios e os salva, porque nele buscam refúgio” (Sl 37.39-40).

Parece que nos momentos de maior fraqueza, de consciência mais intensa de nossa pequenez é que a libertação de Deus se torna mais evidente a nossos olhos. Nós buscamos refúgio em Deus. Ele é um lugar seguro para aqueles que estão em angústia, dificuldade e opressão: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador (palat); não te detenhas, ó Deus meu!” (Sl 40.17). (Veja-se: Sl 43.1; 70.5).

Davi pecou contra Deus. Agora, arrependido de seu pecado, o confessa sinceramente. Ao mesmo tempo, sabe, por convicção e pela sua própria experiência, que o Deus santo e justo a quem Ele ultrajou, é o seu socorro, seu protetor e o único libertador de todas as prisões, inclusive de sua alma. Aqui, deparamo-nos com o perfeito senso de justiça e misericórdia de Deus. Deus é justo e misericordioso. É santo e perdoador.

Calvino, instrui-nos em lugares diferentes: “Se nos convencêssemos de que Deus é o guardião de nossas vidas, asseguradamente nenhuma ameaça, nenhum terror, nenhuma morte nos impediria de continuarmos em nossos deveres”.[4] “Que Deus toma cuidado de nós, esse é o melhor e mais poderoso meio de resistir às tentações”.[5]

 

[1] Vejam-se: Victor P. Hamilton, Pãlah: In: Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1216-1217; Robert L. Hubbard, Jr. Plt: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 619-623.

[2] Conforme já vimos, esta é a mesma palavra que ocorre no verso 10, traduzida por “assistirá”.

[3] Veja-se: https://globoplay.globo.com/v/8293884/

[4]João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 3.28), p. 227.

[5] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 25.4), p. 541.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.