O que você faz quando as circunstâncias te contrariam?

O livro de Rute, embora curto, demonstra a providência abundante de Deus em meio a circunstâncias adversas.

Assim como, em um quadro, as pinceladas de luz são mais visíveis quando colocadas sobre um fundo escuro; para nós, o agir de Deus pode se tornar mais evidente em meio a circunstâncias e dias que parecem sombrios.

Então, antes de nos maravilharmos com a graça e fidelidade do Senhor narradas nesse livro, precisamos entender qual era o pano de fundo de Israel, tanto nas questões políticas, quanto em relação ao coração do povo.

O livro de Rute é posicionado no cânon bíblico de uma forma que representa o momento em que a narrativa acontece: entre os dias dos juízes e o primeiro reinado de Israel. Eram dias escuros para o povo de Deus, cada um fazia o que era certo aos seus próprios olhos.

Ironicamente, Belém, cidade cujo nome significa “casa do pão” ou “casa de alimento”, estava sofrendo com a fome. Consequência do próprio pecado dos habitantes da Terra Prometida (Lv 26.18-20, Dt 28.15).

Naquele tempo, mudar-se de cidade não se tratava apenas de uma questão geográfica. O povo escolhido de Deus estava, finalmente, na terra da promessa. Aquele lugar simbolizava a aliança do Senhor com o povo, onde os sacrifícios eram oferecidos e as festas, celebradas. A identidade do povo como parte da aliança estava ligada ao lugar em que estavam habitando. O culto ao Senhor estava intimamente relacionado com a terra prometida, sair de lá não era uma simples mudança de endereço, mas uma demonstração de negligência com relação à adoração a Deus.

Os moabitas eram conhecidos por sua idolatria e, desde o seu princípio em Gênesis, são sinônimos de rebeldia e desobediência. Em Moabe, não havia adoração ao Deus de Israel.

Com isso em mente, podemos iniciar a leitura do livro.

Os cinco primeiros versículos narram parte da história de uma família:

Nos dias em que os juízes julgavam, não havia pão na casa do pão.

Elimeleque, então, decide sair da terra prometida com sua família em busca de uma aparente segurança, fugindo da fome. Eles saem da tribo de Judá e ficam em Moabe por uma década.

Malom e Quiliom, seus filhos, casam-se com mulheres moabitas: Orfa e Rute.

Em algum momento nesses 10 anos, em períodos distintos, morre o pai e os dois filhos, deixando Noemi, Orfa e Rute viúvas.

Situações difíceis tendem a nos mostrar o que está em nosso coração

Existe uma famosa frase que diz: “É mais fácil ir para Moabe do que perguntar para Deus por que há fome em Israel”. A escassez em Belém mostrou o que estava no coração desse chefe de família. Mesmo sabendo que aquele período difícil era disciplina de Deus para fazer o povo olhar para o alto, preferiu fugir a se arrepender e clamar por misericórdia.

Tentamos resolver as coisas difíceis da vida pelas nossas próprias forças

Parece muito lógico sair de um lugar onde há fome para ir a um lugar com abundância, porém, como vimos na introdução, essa não era uma mudança qualquer. Elimeleque preferiu o conforto material longe do Senhor ao sofrimento perto dele.

Nosso pecado impacta as pessoas à nossa volta

Elimeleque havia decidido levar sua mulher e seus dois filhos para uma terra imoral e longe de Deus, ignorando o fato de que estava expondo a si mesmo e sua família a um contexto perverso. Ele não se preocupou com a possibilidade de que seus filhos jovens se casariam com mulheres de fora da aliança do Senhor (Dt 7.1-4).

Não sabemos se houve relutância da parte da família ou não, mas a decisão de Elimeleque mudou o rumo e os padrões morais das pessoas de sua casa. Em busca de segurança, encontrou a morte. Em busca de conforto, trouxe dor às pessoas que deixou.

Dias escuros exigem fé

Focar nas circunstâncias nos levará a tomar más decisões, focar no Senhor nos conduzirá à fidelidade. Se essa fome era para mostrar algo para o povo, a resposta deveria ser cair de joelhos. 

Elimeleque se guia pelo que está vendo, pelas circunstâncias. No caminho, é bem provável que essa família tenha visto uma prova física do agir de Deus em favor do povo, num momento em que o cenário parecia improvável. A rota mais rápida de Belém até Moabe passava pela antiga Jericó, ainda em ruínas, cidade cujos muros foram derrubados pelo Senhor. Passar por essa cidade já seria mais do que o necessário para lembrá-los dos feitos de Deus, mas eles continuam o caminho.

Nas dificuldades da vida, devemos ser fiéis ao que Deus nos manda fazer, mesmo que nossas ações possam parecer inúteis, pois nossa força não mudará a situação. Nosso papel não é o de consertar algo, ou “fazer acontecer”, mas o de sermos fiéis.

Como você acha que o povo se sentia ao dar voltas ao redor de Jericó? 

Era fisicamente impossível que aquelas muralhas caíssem simplesmente pelo barulho das trombetas ou pelo caminhar das pessoas. Não foi a ação em si, mas a obediência e fé.

Elimeleque respondeu com orgulho e autonomia. O que você faz quando coisas desagradáveis acontecem? Lembre-se: Situações difíceis revelam nosso coração.

Por que nós, como povo de Deus, insistimos em fazer as coisas com nossas próprias mãos? Por que achamos que cabe a nós resolver algo do qual Deus “não cuidou”? Nem mesmo Jesus tomou a situação nas suas próprias mãos quando foi tentado.

No que você tem fixado os seus olhos?

Como você tem sido chamado a demonstrar obediência e fé? O que pode te ajudar a lembrar que fidelidade é mais importante do que tentar resolver à sua maneira?

Que o Senhor desvie nossos olhos das circunstâncias e nos renove por meio de Sua Palavra.

 

“não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais e as que se não veem são eternas.”

2 Coríntios 4.18