Burk Parsons – Considere a Si Mesmo [Controvérsia 6/7]

Começamos uma série de 7 postagens sobre como lidar de forma cristã com controvérsias. É difícil expressar a importância da leitura desta série, principalmente se você tem se engajado nos intermináveis debates via internet.

A controvérsia existe porque a verdade de Deus existe em um mundo de mentiras. A controvérsia é o problema dos pecadores em um mundo caído, que foram originalmente criados por Deus para conhecer a verdade, amar a verdade e proclamar a verdade. Nós não podemos escapar da controvérsia nesta vida, nem deveríamos buscar tal coisa.  Como cristãos, Deus nos resgatou das trevas e nos tornou aptos para permanecer em Sua maravilhosa luz. Ele nos chamou para adentrarmos nas trevas e brilharmos como uma luz para o mundo, refletindo a gloriosa luz de nosso Senhor Jesus Cristo. E quando a luz brilha nas trevas, a controvérsia é inevitável.

Se estamos em Cristo, a verdade nos libertou e, portanto, somos chamados a discernir a verdade do erro e também a verdade da meia-verdade. Apesar de não ser sempre fácil defender a verdade no meio das trevas deste mundo, nós somos ajudados pelo Espírito Santo a distinguir a luz das trevas ao andarmos à Luz de Sua Palavra. A dificuldade vem quando tentamos discernir a verdade do erro na igreja de Cristo. Além disso, quando cremos que discernimos a verdade do erro na igreja, como fazemos a exposição do erro e proclamamos a verdade dentro do corpo de Cristo? Isto é particularmente desafiador considerando que Deus nos chama por um lado para “batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 3), e Ele nos chama por outro lado a esforçarmos diligentemente “por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4:3).

Então, como nós batalhamos pela única fé verdadeira enquanto esforçamo-nos pela paz e unidade na igreja? Ao olhar rapidamente, alguns podem pensar que estas duas ordens são mutuamente exclusivas. Contudo, o chamado de Deus para batalharmos pela pureza e o chamado de Deus para esforçar-nos pela paz e unidade são fundamentalmente entrelaçados. Se vamos entender como devemos envolvermos em uma controvérsia, devemos primeiramente entender que estes mandamentos não estão em divergência um com o outro, mas por necessidade, complementam um ao outro.

Paz e unidade existem na igreja não apesar da verdade, mas precisamente por causa da verdade. Desta forma, nós batalhamos seriamente pela pureza da única fé verdadeira com o objetivo de preservar a autêntica unidade da única noiva de Cristo para a glória de Cristo. Unidade à custa da pureza produz anarquia. Nós não podemos ter verdadeira paz e unidade sem a pureza.

Se nos importamos com a glória de Cristo, vamos nos importar com a paz e a unidade de Sua igreja e, por consequência, vamos nos importar com a pureza da igreja. Mais diretamente, se nós somos complacentes a respeito de toda e qualquer controvérsia, isso provavelmente significa que nós somos complacentes a respeito da própria verdade. Contudo, se nos envolvermos completamente em cada uma aparente controvérsia que existe na igreja, isso poderia significar que não estamos fazendo a nós mesmos as perguntas certas para determinar em quais controvérsias devemos nos envolver e, mais importante, de que maneira e em qual grau deveríamos nos envolver.

Em sua carta “Sobre a Controvérsia”, John Newton adverte que antes de nos envolvermos em uma controvérsia de qualquer natureza, devemos primeiramente considerar a nós mesmos. Ele pergunta:

De que valerá a um homem se ele ganha sua causa e silencia seu adversário, se ao mesmo tempo ele perde aquela humilde e delicada estrutura na qual o Senhor se agrada, e para a qual a promessa de sua presença foi feita?

Newton escreveu estas palavras no século dezoito, e elas são tão pertinentes hoje quanto foram naquela época, especialmente se considerarmos a nova mídia constantemente emergente através da qual qualquer um pode se envolver em controvérsia mais facilmente e mais publicamente. Ainda assim, o meio não é o problema, nem mesmo a controvérsia é o problema. Nós somos o problema — como nos envolvemos em controvérsia e como utilizamos a mídia, tanto a velha quanto a nova.

Com esta mentalidade, conforme nos esforçamos para examinarmos corretamente a nós mesmos antes de nos envolvermos em controvérsia, seja online ou através de um livro, eu ofereço dez perguntas que podemos fazer a nós mesmos para que nos ajude a determinar se, quando, e como devemos nos envolver em controvérsia ao batalharmos pela paz, pureza e unidade da igreja de Jesus Cristo.

1. EU JÁ OREI? A oração é a coisa mais fácil de fazer e, talvez, a coisa mais fácil de esquecer. Antes de nos envolvermos em controvérsia, somos chamados a humildemente buscar o Senhor, orando por nós mesmos e por aqueles com quem discordamos.

2. QUAL O MEU MOTIVO? Fazemos bem em questionar nossos motivos sem questionar os motivos dos outros. Somos arrogantes ao pensar que podemos julgar os motivos dos outros quando não conseguimos nem mesmo entender nossos próprios motivos às vezes. Nós precisamos pedir ao Espírito para sondar nossos corações e revelar qualquer malícia.

3. ESTOU ME ESFORÇANDO PARA EDIFICAR A OUTROS? Estamos nos esforçando para ganhar uma discussão tendo como fim a própria discussão, ou nosso objetivo é trazer a pessoa com quem discordamos (e os ouvintes) a uma conformidade mais íntima com a Palavra de Deus e a glória de Deus? Nosso objetivo é mostrar nossa inteligência ou apontar aos outros a Deus e Sua Palavra?

4. EU BUSQUEI CONSELHO? Nós desesperadamente devemos buscar a sabedoria de nossos irmãos em Cristo, particularmente homens mais velhos e mulheres mais velhas que ficaram mais gentis, amáveis e sábios ao amadurecer no Espírito. Precisamos buscar a sabedoria de nossos pastores e presbíteros, e até mesmo de irmãos sábios com os quais nós talvez discordemos.

5. NÃO SERIA O CASO DE EU PERMANECER INJUSTIÇADO? Quando alguém nos critica, justamente ou não, publicamente ou privadamente, nem sempre é necessário responder. O amor cobre uma multidão de pecados, e nosso humilde silêncio ou o virar a outra face pode desviar a ira do outro.

6. COMO EU IREI TRATAR A PESSOA COM A QUAL EU DISCORDO? Estamos mostrando amor ao nosso irmão de maneira que o mundo saiba que somos codiscípulos de Cristo? Estamos tratando nosso “adversário” como um irmão em Cristo ou como um inimigo da igreja?

7. ESTOU ME ENVOLVENDO COM UM PÚBLICO MAIOR DO QUE O NECESSÁRIO? Seria uma questão pública ou particular? E também, seria uma questão primária ou secundária? Homens piedosos já discordaram disso através da história, e se sim, como isso deveria afetar meu modo de falar? Estamos respondendo a uma real controvérsia ou estamos na verdade criando uma ou fazendo disso uma questão maior do que ela realmente é?

8. EU SOU A PESSOA CERTA PARA SE ENVOLVER? Nós frequentemente pensamos mais de nós mesmos do que deveríamos, e raramente estimamos aos outros como melhores que nós mesmos. Precisamos perguntar a nós mesmos se algo precisa ser dito, e se nós somos aqueles que devemos dizê-lo. Simplesmente porque nós temos uma plataforma para falar de uma questão, não significa que sempre temos de usá-la.

9. QUAL É O MEU OBJETIVO FINAL? O que estamos buscando alcançar? Qual verdade estamos defendendo? Nosso envolvimento avança o evangelho e o amor a Deus e ao nosso próximo? Nosso objetivo nunca deve ser mera provocação.

10. ESTOU CONCENTRADO NA GLÓRIA DE DEUS? Estamos servindo ao reino de Deus ou ao nosso próprio reino e nome? Nosso objetivo não é ganhar mais leitores ou ouvintes, mas apontar todos os olhos para Cristo para Sua glória. Se devemos nos envolver em controvérsia, que façamos isso sempre pelo reino de Deus a glória de Deus, não nosso reino e nossa glória.

Por Burk Parsons © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org

Tradução: voltemosaoevangelho.com

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