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Sinclair Ferguson – Considere a Glória de Deus [Controvérsia 7/7]
Começamos uma série de 7 postagens sobre como lidar de forma cristã com controvérsias. É difícil expressar a importância da leitura desta série, principalmente se você tem se engajado nos intermináveis debates via internet.
John Newton (1725–1807) é mais bem conhecido conhecido hoje em dia por seus grandes hinos (incluindo Amazing Grace [“Maravilhosa Graça”] e Glorious Things of Thee Are Spoken [“Gloriosas Coisas São Ditas de Ti”]). Mas, em sua época, ele era mais bem considerado como um escritor de cartas — “o grande diretor de almas através do correio,” como alguém o descreveu. Tal era o valor de sua correspondência que ele publicou diversos volumes de suas cartas (incluindo uma de suas cartas para sua esposa, a qual gerou o comentário de um revisor, seu amigo Richard Cecil, que as esposas seriam arrebatadas lendo tais cartas de amor enquanto que “nós [maridos] sofreremos perda de estima por não sermos capazes de escrever cartas tão galantes”). Em diversas de suas cartas, ele comenta sobre o assunto da controvérsia. Ele tinha um desgosto por ela (seria algo triste ter um “gosto” por ela, não é verdade?). Ele também tinha a consciência de não ser capacitado para a controvérsia. Ele observou que era “não apenas desagradável para meu gosto, mas realmente acima de meu alcance.” Mas a falta de experiência não é necessariamente um obstáculo à habilidade de alguém para dar aconselhamento bíblico. Newton constantemente procurou dar tal aconselhamento (ele não encorajou William Wilberforce na grande controvérsia sobre o comércio de escravos?). Em um dia no qual apenas um escasso número de ministros anglicanos eram evangélicos, ele era particularmente consciente de que os calvinistas, estando muito em minoria, poderiam se sentir pressionados à controvérsia muito frequentemente.
Certamente foi por este motivo que uma de suas maiores preocupações era que, se fosse necessário que nos envolvêssemos em controvérsia, nossa perspectiva precisaria ser dominada pela questão da glória de Deus. “Se agimos com um espírito incorreto,” ele escreve, “traremos pouca glória a Deus.” A primeira questão do Catecismo Menor de Westminster é relevante aqui e em qualquer lugar: como eu falo, escrevo, ou ajo em situações de controvérsia para que Deus seja mais glorificado?
Este é o princípio. Mas ele precisa ser particularizado. Newton percebeu que, às vezes, nós nos envolvemos em controvérsia professamente “para a glória de Deus”, mas estamos cegos para as maneiras pelas quais nossos próprios motivos impactam e representam nosso discurso e nossas ações. A orientação “pela glória de Deus” deve transformar a maneira como cristãos respondem à controvérsia.
“Pela glória de Deus” não implica em uma resposta monolítica para toda controvérsia. As circunstâncias alteram os casos. Nós não jogamos pérolas aos porcos.
Eis aqui três ilustrações de controvérsias. Na primeira, o silêncio é a reação apropriada para glorificar a Deus; na segunda, o confronto; e na terceira, a paciência.
Por que tais respostas diferentes?
Manter o silêncio
Isaías 36 vividamente descreve como Senaqueribe da Assíria atacou Judá. O Rab-shakeh (um oficial assírio) procurou incitar a controvérsia. Ele falou, como Ezequias reconheceu, “para afrontar o Deus vivo” (Isaías 37:17). Mas os líderes seguiram o conselho de seu rei: “Se calaram, e não lhe responderam palavra alguma” (36:21). O fim da história? Deus trouxe justiça à resposta deles. O anjo do Senhor derrubou 185.000 assírios. Senaqueribe recuou.
Não teria sido mais ousado, mais “fiel”, envolver-se em controvérsia verbal em defesa do Senhor? Por que o silêncio? Por três razões.
1. Palavras de combate não teriam defendido a glória de Deus aqui. Em tais situações, buscamos que o Senhor defenda Sua própria glória e não a dê a outro.
2. Nós defendemos melhor a glória do Senhor falando primeiramente a Ele sobre homens incrédulos do que falando primeiro sobre Ele para homens incrédulos. Daí a oração de Ezequias: “Agora, pois, ó SENHOR nosso Deus, livra-nos da sua mão; e assim saberão todos os reinos da terra, que só tu és o SENHOR” (37:20). Infelizmente, nem todos os fortes controversialistas são fortes intercessores.
3. Podemos causar dano à glória do Senhor — como Newton sugere —pela forma como respondemos à controvérsia. O insulto do homem a Deus não é revertido pelo nosso insulto ao homem.
Falar diretamente
Um incidente menos público, mas não menos estonteante, ocorreu na igreja primitiva. Imagine a atmosfera elétrica: Simão Pedro tendo comunhão à mesa com os gentios. Então “certos homens vieram da parte de Tiago” (Gálatas 2:12). Pedro apartou-se, assim como outros judeus cristãos, “até mesmo Barnabé” (vs. 11-14). Como Paulo reagiu? “Resisti-lhe na face” (v. 11).
Paulo estava absolutamente certo. Mas por que esta era uma reação que glorificava a Deus, ao invés do silêncio em consideração a Pedro e Barnabé, evitando o constrangimento e a potencial divisão?
1. Os protagonistas estavam presentes e criam no mesmo evangelho. Paulo não esperou e mais tarde “falou mal” de Pedro. Ele fez o mais difícil. Falou pessoalmente e diretamente a ele. Isso glorifica a Deus porque segue um padrão bíblico (Mateus 18:15; Tiago 4:17).
2. O próprio coração do evangelho estava em risco aqui (como Paulo observa em Gálatas 2:15-21).
3. Ministros “ordenados” do evangelho estavam envolvidos, não um único indivíduo comum. O desvio tanto de Pedro quanto de Barnabé levaria ao desvio de outros e a uma ruptura desastrosa na igreja toda. A glória de Deus na igreja exigiu um discurso direto.
Responder pacientemente
Alguns anos mais tarde, Paulo encontrou uma situação que, à primeira vista, parece similar. Havia uma contínua controvérsia sobre “dietas e dias” na(s) igreja(s) romana(s). Alguns observavam dias especiais e evitavam certos alimentos. Era presumivelmente uma controvérsia entre crentes judeus e crentes gentios (estes últimos sendo a maioria nas igrejas após a expulsão de judeus e cristãos judeus de Roma; vide Atos 18:1-2). Paulo apreciava muito a glória de Deus. Como os dois grupos nesta controvérsia poderiam “a uma boca, [glorificar] ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 15:6)?
1. Visivelmente, os “fortes”, aqueles no “lado correto” da controvérsia (14:14), são aqueles que evitam insistir que os outros adotem sua posição e prática “correta”. A glória de Deus é melhor vista quando “os fortes” saúdam “os fracos” — porque é isso que Deus fez em Cristo: “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (5:6).
2. Irmãos em Cristo são servos de Cristo, não nossos servos. Depreciar ou desprezar os fracos é desprezar a glória de Deus. (Lembra-se de Mateus 25:40?)
3. Insistir em exercitar a “liberdade” de alguém em matéria de controvérsia (comer carne, ignorar dias, etc.) compromete a própria liberdade. Isso significa que somos levados por uma “necessidade” interna, ao invés do amor. Nós estamos focados na glória própria ao invés da glória de Deus. Já que “Cristo não agradou a si mesmo” (Romanos 15:3), deveríamos agradar a nós mesmos?
Estes exemplos não são de maneira alguma abrangentes. Contudo, ilustram o ponto de Newton. Em todas as coisas, busque a glória de Deus — e guarde seu coração. Os cristãos sempre carecem deste sábio conselho.
Por Sinclair Ferguson © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org
Tradução: voltemosaoevangelho.com
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