Um blog do Ministério Fiel
O pensamento grego e a igreja cristã (Parte 11)
A Filosofia Grega e os primeiros Pais da Igreja
A influência do cristianismo no mundo ocidental determinou uma nova orientação da filosofia. (…) Da religião cristã nasceu assim a filosofia cristã. – Nicola Abbagnano (1901-1990).[1]
Uma assertiva característica do pensamento judaico-cristão, é a compreensão de que Deus é um ser transcendente e pessoal. E esse ser que antecede à toda realidade conhecida, a cria do nada, sem precisar se valer de nenhuma matéria preexistente. Nada é mencionado antes do ato criador de Deus.
A doutrina da Criação nos fala do poder todo suficiente de Deus e de nossa total dependência daquele que nos criou e preserva. Somente Deus, pelo seu poder, pode do nada tudo criar.[2] Já de início nos deparamos com uma antítese em relação ao pensamento grego que jamais cogitou de um doutrina da criação partindo de um Ser absoluto e eterno que antecede à toda criação.
A Bíblia parte do pressuposto da existência de Deus. “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus”, escreveu Moisés (Sl 90.2). Moisés, por revelação direta de Deus, registra de forma inspirada (2Pe 1.20-21), narrando os atos criadores de Deus, sem se preocupar em falar com mais detalhes a respeito daquele que, mediante a sua Palavra, faz com que do nada surja a vida. O Senhor cria o universo, estabelece suas leis próprias e avalia a sua criação como muito boa (Gn 1.31).
Moisés apresenta o Deus Todo-Poderoso exercitando o seu poder de forma criadora, segundo o seu eterno propósito. Deus existe. Este é o fato pressuposto em toda a narrativa da Criação. Deus cria segundo a sua Palavra e isto nos enche de admiração e reverente temor: a Palavra de Deus é o verbo criador que manifesta a determinação e o poder de Deus (Gn 1.1,26, 27; Sl 33.6,9; Jo 1.1-3; Hb 11.3),[3] que criou as coisas com sabedoria (Pv 3.19).[4]
Nas páginas das Escrituras Deus é apresentado como o Senhor grandioso e incomparável. Seus pensamentos são inatingíveis e insondáveis.[5] É o Rei da glória.[6]
Um dos fundamentos da doutrina cristã é a certeza de que cremos em um Deus Autopoderoso,[7] e Todopoderoso[8] que ama o seu povo e se dá a conhecer pessoalmente.
Sem a revelação de Deus seria impossível crer ou falar de Deus. No entanto, Ele pode ser genuína e pessoalmente conhecido: “Conhecido ([d;y”) (yada’)[9] é Deus em Judá; grande (lAdG”) (gadol) (= supremo),[10] o seu nome em Israel” (Sl 76.1).
A concepção judaico-cristã da criação encontra a sua base e fundamento na Palavra de Deus, por isso, é essencial à nossa consideração, o que o Espírito Santo fez registrar no Livro de Hebreus: “Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das cousas que não aparecem” (Hb 11.3).
Nesta passagem bíblica, subjazem algumas verdades que devem ser destacadas:
- Deus é o Ser eterno que antecede a toda criação. Não há simbiose. A matéria não é eterna. Deus se distingue da criação e ao pensamento grego em geral. Aqui não há espaço para nenhum tipo de Deísmo (Deus distante da Criação), Panteísmo (Deus se confunde com a matéria), Teísmo Finito (Deus é bom mas, limitado pelo mal) ou Panenteísmo (Deus e o mundo são eternos): “Ele mesmo julga (jp;v) (shaphat) o mundo com justiça; administra (!yD) (diyn)[11] os povos com retidão (rIv’yme.) (meshar)” [12] (Sl 9.8). [13]
- A fé é que deve dirigir a nossa compreensão a respeito da criação. Calvino (1509-1564), conclui: “É tão somente pela fé que chegamos a entender que o mundo foi criado por Deus”.[14]
- A criação é um ato livre da vontade soberana de Deus. Não há pressões externas ou necessidades internas que o impulsionem a criar.[15] Deus fez o que fez, quando fez, e como fez, por sua livre determinação.[16] “A criação do mundo não foi um ato arbitrário, senão que serviu para fins elevados e dignos, e estes fins estiveram de acordo com a bondade e sabedoria infinitas do Criador”, interpreta Machen (1881-1937).[17]
- Nada pode existir sem que tenha sido criado por Deus (Jo 1.3), os Céus e a Terra são obras de Deus. Não há independência fora de Deus.
- A Palavra de Deus é o verbo criador. Deus, na força de seu poder em perfeita harmonia com a sua vontade, cria conforme fala: “Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33.9).
- A criação primária foi gerada do nada (creatio ex-nihilo),[18] sem existência prévia. A possibilidade de algo vir a existir fora de Deus elimina a Deus como Deus. Não há dualismo nem sinergismo na criação. Deus cria e tudo veio a existir. Aqui temos a confissão de um mistério, não a sua explicação.[19] Tudo o que porventura possa ter existido anterior à criação descrita em Gn 1, deve ser compreendido dentro da esfera da criação como todo, porque somente Deus tem poder para chamar “à existência as coisas que não existem” (Rm 4.17).[20] “Um absoluto não-ser precedeu o ser do mundo, e nesse sentido nós podemos dizer que Deus fez o mundo do nada”, assevera Bavinck.[21]
- A criação se distingue de Deus, não sendo sua emanação ou extensão, mas o resultado de sua vontade e poder.
Algumas dessas verdades se depreendem também, das narrativas da Criação, registradas em Gn 1.1-2.25[22] e de outros textos bíblicos, tais como:
Neemias 9.6: Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora.
Jó 26.7: Ele estende o norte sobre o vazio e faz pairar a terra sobre o nada.
Salmo 90.2: Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus.
Salmo 102.25: Em tempos remotos, lançaste os fundamentos da terra; e os céus são obra das tuas mãos.
Salmo 148.1-5: Aleluia! Louvai ao Senhor do alto dos céus, louvai-o nas alturas. 2 Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todas as suas legiões celestes. 3 Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. 4 Louvai-o, céus dos céus e as águas que estão acima do firmamento. 5 Louvem o nome do Senhor, pois mandou ele, e foram criados.
Mateus 19.4-5: 4 Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher 5 e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?
Lucas 3.38: Cainã, filho de Enos, Enos, filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de Deus.
João 1.1-5: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Ele estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. 4 A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. 5 A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.
Romanos 1.20,25: 20 Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis (…). 25 pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
Colossenses: 1.16-17: 16 pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. 17 Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.[23]
Hebreus 1.1-2: Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, 2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
Apocalipse 4.11: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.
Desse modo, a nossa compreensão bíblica é determinada pela própria revelação de Deus contida na Bíblia. As Escrituras não devem ser interpretadas simplesmente à luz da história, ou de seus condicionantes políticos, sociais, econômicos e culturais, antes, olhamos a história a partir da perspectiva das promessas divinas.[24]
Quando estudamos qualquer tipo de construção intelectual, não podemos ignorar os valores e pensamentos que vigoram ou procuram adquirir a supremacia em sua época. O clima intelectual que envolve, obviamente, questões sociais, políticas, econômicas e teológicas entre outras, tem poder, quase sempre não perceptível aos seus contemporâneos, de influenciar nossas perguntas, pesquisas e respostas que, em parte, já são condicionadas pelas nossas pressuposições. Nenhuma teoria, por mais simples que seja, passa incólume a um pressuposto que tenha em seu cerne uma crença religiosa.[25] Conforme escrevemos em outro lugar:[26]
O clima intelectual de uma época é sempre fortemente influenciador de nossa estrutura de pensamento e, portanto, de nossas prioridades e valores. A força deste “clima” talvez repouse sobre a sua configuração óbvia e normativa com que se apresenta à nossa mente.
É quase impossível ter a percepção de algo que nos conduz – como também a nossos parceiros de entendimento – de forma tão suave. Por isso, o simples – ainda que não seja tão simples assim – fato de podermos pensar com clareza, sem estes condicionantes, é uma bênção inestimável de Deus.
Nenhuma contribuição humana se dá em um vácuo asséptico conceitual quer seja religioso, quer filosófico, quer cultural.[27] A nossa percepção e ação fundamentam-se em nossos pressupostos que determinam, em grande medida, a nossa pré-compreensão.
Isso nos conduz à uma conexão importante entre o pensamento grego e a teologia cristã, como escreveu Allen (1932-2013):
Não haveria teologia cristã sem a Bíblia e uma comunidade crente. Mas, da mesma forma, não teríamos a teologia sem a atitude helênica nos cristãos, que os leva a insistir em questões acerca da Bíblia e suas relações com outros conhecimentos. Assim, quando as pessoas apelam para que se purgue a filosofia grega da teologia cristã, a menos que estejam se referindo a ideias específicas ou conceitos, elas estão realmente apelando para o fim da própria disciplina teologia, embora não percebam isso.[28]
A questão é sempre dependente de saber em qual ponto fixo a minha base para mover as ideias e ações. Para nós cristãos, o ponto de partida não é intrínseco ou imanente, antes extrínseco ou transcendente: O Deus transcendente e pessoal que se revela e se relaciona conosco.
Significado da Filosofia
As definições apresentadas ao longo da História sobre o significado da Filosofia, têm sido contraditórias e, muitas vezes, apaixonadas. Isto acrescenta mais um dado problemático à definição. Não nos cabe aqui fazer uma apologia da Filosofia, mas, sim, demonstrar que os conceitos díspares ou mesmo antagônicos, contribuem para aumentar o grau de dificuldade à tarefa de definir com segurança a Filosofia.[29] Vejamos alguns conceitos.
Platão (427-347 a.C.) – discípulo de Sócrates (469-399 a.C.) e mestre de Aristóteles –, por sua vez, observou que a Filosofia era uma ciência que nos leva a fazer e a saber utilizar daquilo que fazemos. O que adiantaria, argumenta ele, saber transformar as pedras em ouro, se não soubéssemos utilizar o ouro?[30]
Para Aristóteles (384-322 a.C.) – Pai da História da Filosofia –, Sofi/a e Filosofi/a tinham o mesmo significado.[31] Ele dizia ser a Filosofia, “a ciência da verdade”.[32]
No período posterior a Aristóteles, a Filosofia adquiriu uma conotação exclusivamente “prática” e instrumental para a vida.[33] Para os epicureus, por exemplo, a Filosofia consistia na busca da felicidade por meio da razão.
Conforme já observamos em outro lugar, Epicuro (341-270 a.C.) não estava interessado em criar um sistema lógico de pensamento, com princípios que conduzissem a razão à verdade. Antes, a sua preocupação (se é que podemos usar este termo), era mais pragmática. Ele desejava conseguir a paz, a tranquilidade e a felicidade; tudo isto, no entanto, sem ostentação. Desta forma, a Filosofia, tinha um sentido puramente prático e se pudermos usar o termo, diríamos, existencial. Nesta perspectiva, ele escreveu: “Assim como realmente a medicina em nada beneficia, se não liberta dos males do corpo, assim também sucede com a filosofia, se não liberta das paixões da alma”.[34]
A relação entre Filosofia e Fé Cristã, foi alvo de calorosas disputas entre os Pais da Igreja.
Pais da Igreja
O designativo “Pais” foi aplicado aos bispos da Igreja no segundo século. A obra anônima, O Martírio de Policarpo, escrita por uma testemunha ocular do ocorrido, por volta do ano 155 AD, relata que “a turba pagã e judia desejando matar Policarpo, por ser cristão, vociferou: ‘Eis o doutor da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor dos deuses, que com seu ensino, afasta os homens dos sacrifícios e da adoração’.”.[35] (Destaque meu).
Isto indica que na época era comum referir-se aos bispos cristãos como “Pais” (no sentido acima descrito, tinha uma conotação pejorativa, como “pai de uma heresia” ou “pai dos hereges”). O emprego dessa expressão disseminou-se de tal forma que, no quarto século, todos os pastores e mestres que haviam participado do Concílio de Nicéia (325), eram chamados de “Pais da Igreja”.[36]
Entre os cristãos, a expressão aplicada aos bispos assume uma conotação carinhosa, indicando também a sua responsabilidade.
Escreve Drobner:
O conceito de ‘Padre da Igreja’ evidencia um aspecto da rica figura paterna: o bispo como autêntico transmissor e garante (sic) da verdadeira fé, aquele que vela pela sucessão ininterrupta da fé desde os apóstolos bem como pela continuidade e unidade da fé na comunhão com a igreja. Ele é o fiel mestre da fé, ao qual se pode recorrer nas dúvidas da fé. Essa autoridade na verdade não torna o Padre da Igreja individualmente inerrante em todos os pormenores – ele deve se ater à Sagrada Escritura e à regula fidei da igreja universal – mas, em sintonia com elas, ele é testemunha autêntica da fé e da doutrina da Igreja.[37]
Etienne Gilson (1884-1978), seguindo uma compreensão clássica, diz que um “Pai” deveria apresentar quatro características: “ortodoxia doutrinal, santidade de vida, aprovação da Igreja, relativa Antiguidade (até fins do século III aproximadamente)”.[38]
A assimilação cristã da “cultura pagã”, envolvendo a “Filosofia” e a “Retórica”, não foi sem resistência já que nem todos concordavam em pagar um preço considerado por demais elevado. Seja qual for a perspectiva que adotemos, temos que admitir que seria impossível ao Cristianismo passar incólume à tradição helênica – aliás, seria desejável? –, com sua quase onipresença nos últimos 300 anos, em territórios dominados pelos romanos.
[1]Nicola Abbagnano, História da Filosofia, 3. ed. Lisboa: Editorial Presença, (1984), v. 2, § 128, p. 97,98.
[2] “A doutrina da criação a partir do nada ensina a absoluta soberania de Deus e a absoluta dependência humana. Se uma partícula não tivesse sido criada do nada, Deus não seria Deus” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 427).
[3] “No princípio, criou Deus os céus e a terra. (…) 26 Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. 27 Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.1,26-27). “6 Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles. (…) 9 Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 36,6,9).
[4] “O Senhor com sabedoria fundou a terra, com inteligência estabeleceu os céus” (Pv 3.19).
[5] “O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios (hb’v’x]m;) (machashabah) do seu coração, por todas as gerações” (Sl 33.11). “Quão grandes (ld;G”) (gadal), SENHOR, são as tuas obras! Os teus pensamentos (hb’v’x]m;) (machashabah) (= desígnios, intentos) que profundos!” (Sl 92.5).
[6] “7Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. 8Quem é o Rei da Glória (dAbK’) (kabod)? O SENHOR, forte e poderoso, o SENHOR, poderoso nas batalhas. 9Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória (dAbK’) (kabod). 10Quem é esse Rei da Glória (dAbK’) (kabod)? O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da Glória (dAbK’) (kabod)” (Sl 24.7-10).
[7] “33Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! 34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? 35 Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? 36 Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.33-36).
[8] “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Sl 115.3). “Tudo quanto aprouve ao SENHOR, ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os abismos” (Sl 135.6). “… O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10). “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35). “Nele (Jesus Cristo), digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).
[9] ([d;y”) (yada’). Este conhecimento envolve a capacidade de discernir (Sl 4.4), experimentar (Sl 9.11; 20.7; 25.4.14; 119.75; 139.1,2,4; 139.14), ver (Sl 16.11); pensar/perceber (Sl 35.8); perfeito conhecimento (Sl 37.18; 44.21; 50.11; 69.5; 94.11; 103.14; 139.23; 142.3); conhecimento íntimo e pessoal (Sl 51.3); intimidade/proximidade (Sl 55.13; 88.18); compreender (Sl 73.16); aprender (Sl 78.3); ensinar (Sl 90.12); fazer notório/manifestar (Sl 98.2; 103.7; 145.12).
[10] Para um estudo mais exaustivo do uso da palavra e de suas variantes, vejam-se: M.G. Abegg, Jr., Gdl: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 798-801; Jan Bergman, et. al., Gâdhal: In: G.J. Botterweck, Helmer Ringgren, eds., Theological Dictionary of the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdamans, 1977 (Revised edition), v. 2, p. 390-416. (Para os nossos objetivos, especialmente, as páginas 406-412).
[11] No cântico de Ana, há a declaração do governo de Deus sobre “as extremidades da Terra”: “Os que contendem com o SENHOR são quebrantados; dos céus troveja contra eles. O SENHOR julga (!yD) (diyn) as extremidades da terra, dá força ao seu rei e exalta o poder do seu ungido” (1Sm 2.10). A Palavra enfatiza o domínio de Deus sobre todos os povos; todas as nações da Terra. “Ele julga (!yD) (diyn) entre as nações; enche-as de cadáveres; esmagará cabeças por toda a terra” (Sl 110.6). Isto deve ser proclamado entre as nações: O nosso Deus não é de uma cultura ou de um povo, antes é o Rei; e como tal, juiz de todas as nações: “Dizei entre as nações: Reina o SENHOR. Ele firmou o mundo para que não se abale e julga (!yD) (diyn) os povos com equidade” (Sl 96.10).
[12]A palavra retidão significa, entre outras coisas: Sinceridade (1Cr 29.17); Equidade (Sl 17.2; 96.10; 98.9; 99.4; Pv 1.3; 2.9); Retamente (Sl 75.2); Coisas retas (Pv 8.6; 23.16); Suavidade (Pv 23.31; Ct 7.9); Caminho plano (Metaforicamente) (Is 26.7); Reto (Is 33.15); Direito (Is 45.19); Concórdia (Dn 11.6).
[13] Veja-se: W. Gary Crampton; Richard E. Bacon, Em Direção a uma Cosmovisão Cristã, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 93-106; Cosmovisão: In: Norman Geisler, Enciclopédia de Apologética, São Paulo: Editora Vida, 2002, (2ª impressão), p. 188-189.
[14]João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 11.3), p. 298. “As mentes humanas são cegas a essa luz da natureza, a qual resplandece em todas as coisas criadas, até que sejam iluminados pelo Espírito de Deus e comecem a compreender pela fé, que jamais poderão entendê-lo de outra forma” (João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 11.3), p. 299).
[15] Ver: J. Moltmann, Doutrina Ecológica da Criação, Petrópolis, RJ.: Vozes, 1993, p. 119.
[16] Ver: J. Moltmann, Doutrina Ecológica da Criação, p. 126ss.
[17] J. Gresham Machen, El Hombre: La Enseñanza Bíblica sobre el hombre, Lima: El Estandarte de la Verdad, 1969, p. 82.
[18] Excelente o comentário de Bavinck a respeito da expressão latina tardia não encontrada nas Escrituras (2Mc 7.28), mas, que faz jus ao sentido bíblico da criação como sendo o ato sábio e poderoso de Deus que traz à existência coisas que antes não existiam (Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 425-429).
[19] Ver: Criação: In: J.I. Packer, Teologia Concisa, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1999, p. 19.
[20] Veja-se: François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 548.
[21]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 180.
[22]Quanto à distinção dos nomes empregados para Deus nas primeiras narrativas de Gênesis, Veja-se, entre outros: Gleason L. Archer Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1974, p. 130-135, especialmente, p. 132-133. Para um estudo mais detalhado a respeito dos nomes bíblicos usados para Deus, entre uma ampla bibliografia disponível, vejam-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 97-150; Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 155ss.; p. 159ss.; H. Bietenhard, o(noma, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1981 (Reprinted), v. 5, p. 242-283.
[23]Em contraste com a concepção dos Pré-Socráticos a respeito dos quatro elementos como preexistentes (ar, água, fogo, terra), Paulo apresenta Cristo como o fundamento de toda criação e preservação de tudo o que existe.
[24]Veja-se: David M. Lloyd-Jones, Do Temor à Fé, Miami, Florida: Vida, 1985, passim
[25]Veja-se: Roy A. Clouser, O mito da neutralidade religiosa: um ensaio sobre a crença religiosa e seu papel oculto no pensamento teórico, Brasília, DF.: Monergismo, 2020, Edição do Kindle.
[26] Hermisten M.P. Costa, Introdução à Cosmovisão Reformada, Goiânia, GO.: Cruz, 2017.
[27]Veja-se: Nancy R. Pearcey; Charles B. Thaxton, A Alma da Ciência, São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p. 9-12; 294. Obviamente, isso se aplica também à exegese e à teologia. “A reflexão teológica (…) nunca ocorre em um vácuo social ou cultural” (Alister E. MacGrath, Lutero e a Teologia da Cruz, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 22). Silva argumenta com precisão e franqueza: “Quer tenhamos ou não a intenção de fazê-lo, quer gostemos ou não, todos lemos o texto conforme interpretado por nossas pressuposições teológicas. Aliás, o argumento mais sério contra a ideia de que a exegese deve ser feita independente da teologia sistemática é que tal ponto de vista é irremediavelmente ingênuo. A mera possibilidade de entender qualquer coisa depende de nossas estruturas anteriores de interpretação. Se observarmos um fato que faz sentido para nós, é simplesmente porque conseguimos encaixá-lo dentro de um conjunto complexo de ideias que assimilamos anteriormente” (Moisés Silva, Em Favor da Hermenêutica de Calvino: In: Walter C. Kaiser Jr.; Moisés Silva, Introdução à Hermenêutica Bíblica, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 255).
[28] Diógenes Allen; Eric Springsted, Filosofia para entender Teologia, 3. ed. Santo André, SP.; São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2010, p. 18.
[29]Sobre isto, observou W. Dilthey (1833-1911), em 1907:
“O nome filosofia ou filosófico tem, segundo a época e o lugar, significados diferentes e as criações espirituais que receberam este nome pelos seus autores são tão diversas, que pareceria que as diferentes épocas teriam associado à formosa palavra filosofia, criada pelos gregos, imagens espirituais sempre diferentes .(…) Cada um determina como filosofia um círculo particular de fenômenos e deduz dele os outros fenômenos designados com o nome de filosofia” (Wilhelm Dilthey, Essência da Filosofia, 3. ed. Lisboa: Editorial Presença, (1984), p. 8 e 54. Veja-se também: Johannes Hessen, Tratado de Filosofía, Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1957, v. 1. p. 18.
[30]Platão, Eutidemo, 288 e 290b.
[31]Aristóteles, Metafísica, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 4), 1973, I.1.
[32]Aristóteles, Metafísica, IIa. 1.
[33] Johannes Hessen, Tratado de Filosofía, v. 1, p. 15.
[34]Epicuro, Antologia dos Textos de Epicuro, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 5), 1973, I, p. 21.
[35]O Martírio de Policarpo, XII.2. In: H. Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, São Paulo: ASTE., 1967, p. 39. Para um estudo crítico deste documento, inclusive no que se refere à data do martírio, veja-se: J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 2. ed. Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers. © 1989, v. 1, p. 646-722. Para uma visão abreviada desta discussão, ver: J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 10. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker, 1978, p. 103-106.
[36]Agostinho (354-430) parece ter sido o primeiro a ampliar o conceito, incluindo São Jerônimo, um presbítero, entre os Pais (Cf. B. Altaner; A. Stuiber, Patrologia, 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 19). Seguindo o exemplo de Agostinho, Vicente de Lérins em 434, aplicou o termo Pai a diversos escritores eclesiásticos sem nenhuma distinção hierárquica. (Ver: Vincent of Lérins, Commonitorium, 31 e 33. In: Philip Schaff; Henry Wace, eds. Nicene and Post-Nicene Fathers of Christian Church, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (reprinted). (Second Series), 1978, v. 11, p. 155 e 156).
[37] Hubertus R. Drobner, Manual de Patrologia, Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p. 11-12.
[38]E. Gilson, A Filosofia na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes, 1995, “Introdução”, p. XXI. Do mesmo modo: Hubertus R. Drobner, Manual de Patrologia, p. 12; B. Altaner; A. Stuiber, Patrologia, p. 20.