Um blog do Ministério Fiel
O pensamento grego e a igreja cristã (Parte 14)
A retórica grega e a pregação cristã
Escândalo e loucura
O pregador é o que interpreta e ensina as verdades divinas. – Agostinho (354-430).[1]
Como já mencionamos, o Cristianismo não é ficção; é história real. Paulo mostra que a pregação da Palavra foi o método prazerosamente estabelecido por Deus para alcançar os seus: “Aprouve (eu)doke/w) a Deus salvar aos que creem, pela loucura (mwri/a) da pregação” (1Co 1.22).
Pelo fato de os homens não conseguirem entender salvadoramente a mensagem do Evangelho dentro do seu quadro de referência naturalista ou simplesmente deísta, consideram-na loucura: Tudo que não se ajusta ao seu padrão de pensamento é escândalo (pedra de tropeço) ou loucura.
Isso não significa que o homem natural, não regenerado, não possa entender a mensagem do Evangelho e até mesmo explicá-la a outros; o problema é que esta mensagem não faz sentido espiritual para ele. Ou seja: eu consigo entender o que você quer dizer só que não creio no que você diz.[2]
A mensagem da cruz é considerada loucura pelos que estão a perecer, justamente porque ela não possui qualquer atrativo de sabedoria humana que a recomende às suas mentes.[3]
Barclay (1907-1978), comenta que “os gregos estavam intoxicados com palavras bonitas; e o pregador cristão com sua tosca mensagem lhe parecia um personagem cru e inculto, do qual podiam mofar-se e ridicularizar em lugar de escutá-lo e respeitá-lo”.
A fé cristã é para ser vivida e proclamada. A pregação caracteriza essencialmente a fé cristã e a sua proclamação. Paulo, então indaga:
Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! (Rm 10.14-15).
No final de sua vida, Paulo, com a consciência certa de ter concluído fielmente o seu ministério, exorta ao jovem Timóteo:
Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas (mu=qoj = lenda, mito). Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. (2Tm 4.2-5).
A despeito da irracionalidade moderna, inclusive entre nós, ditos evangélicos que temos ignorado não impunemente as grandes batalhas acadêmicas e consequentemente éticas, com as quais nos deparamos[4] – o desafio de Deus para nós não é para nos tornarmos irracionais ou ignorantes, antes é para que submetamos a nossa inteligência à Palavra.
Aqui não se pede nenhum sacrifício lógico-racional, antes o que se requer, é a humildade para reconhecer a nossa limitação diante da majestosa sabedoria de Deus (Rm 11.33-36), exercitando deste modo, por graça, a humanamente louca sabedoria de Deus em nossa vida, reconhecendo a nossa suficiência não em nossa inteligência ou valores, mas em Deus.
A pregação do Evangelho revela a insensatez de nossa sabedoria e a verdadeira sabedoria de Deus, que, em princípio, parece loucura. Isto é altamente ofensivo aos sábios deste mundo tão convictos de seus conhecimentos e métodos.
Calvino (1509-1564) comenta:
O fato de que o Evangelho é aroma de morte para os ímpios não vem tanto de sua própria natureza, mas da própria perversidade humana. Ao determinar um caminho de salvação, ele elimina a confiança em quaisquer outros caminhos.[5]
À frente:
Toda verdade proclamada referente a Cristo é completamente paradoxal pelo prisma do juízo humano. Entretanto, o nosso dever é prosseguir em nossa rota. Cristo não deve ser suprimido só porque para muitos ele não passa de pedra de ofensa e rocha de escândalo. Ao mesmo tempo que ele prova ser destruição para os ímpios, em contrapartida ele será sempre ressurreição para os fiéis.[6]
Quero dizer mais uma palavra. A pregação fundamenta-se no princípio de que a Palavra de Deus é infalível e que Deus continua a falar por meio dela. Ou seja: A voz de Deus não se esgotou quando o cânon foi reconhecido,[7] mas, Deus continua a falar por meio de sua Palavra escrita e por meio dos pregadores que expõem esta Palavra com fidelidade. O Deus que falou no passado continua a falar hoje.[8]
B. Uma proclamação poderosamente submissa e inteligente
A proclamação do Evangelho compete a nós; é uma responsabilidade inalienável e essencial de toda a Igreja.[9] Não compreendemos exaustivamente a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana, contudo, a Bíblia ensina estas duas verdades: Deus é soberano e o homem é responsável diante de Deus por suas decisões (Rm 1.18-2.16).[10] O nosso confronto com os mistérios da Palavra deve nos conduzir à adoração sincera (Rm 11.33-36).
Em nosso testemunho, procuramos anunciar o Evangelho de forma inteligível, nos dirigindo a seres racionais a fim de que entendam a mensagem e creiam. Por isso, ao mesmo tempo em que sabemos que é Deus quem converte o pecador, devemos usar os recursos de que dispomos – que não contrariem a Palavra de Deus -, para atingir a todos os homens.
A nossa proclamação deve ser apaixonada, no sentido de que queremos alertar os homens para a realidade do Evangelho, “persuadindo-os” pelo Espírito, a se arrependerem de seus pecados e a se voltarem para Deus (Vejam-se: Lc 5.10; Rm 11.13-14; 1Co 9.19-23; 2Co 5.11)[11].[12]
Cremos que o Espírito da verdade nos capacita a proclamar o Evangelho com fidelidade e sabedoria. Evangelizar não é um exercício de aniquilamento da razão, antes é um desafio à utilização de uma mente sã, que só pode ser restaurada pelo poder do Espírito.
Toda verdade procede de Deus e, o Espírito de Deus nos concede este discernimento na compreensão e no uso da verdade. “O Espírito Santo é o Espírito da verdade, que se importa com a verdade, ensina a verdade e dá testemunho da verdade”, enfatiza Stott.[13]
O Livro de Atos registra que Paulo por três semanas pregou, conforme seu costume, na sinagoga de Tessalônica.
Lucas usa alguns termos muito interessantes para descrever a pregação de Paulo:
Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus. Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou (diale/gomai) com eles acerca das Escrituras, expondo (dianoi/gw) e demonstrando (parati/qhmi) ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio. Alguns deles foram persuadidos (pei/qw) e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres, (At 17.1-4).
Analisemos os verbos usados por Lucas:
a) “Arrazoar” (diale/gomai).[14] No grego clássico a palavra tinha o emprego usual de “conversar” ou “discutir”. (Ver: Mc 9.34). A partir de Sócrates (469-399 a.C.) passou a ser usada com o sentido de persuasão por meio de perguntas e respostas. Em Aristóteles (384-322 a.C.), tem o sentido de investigação dos fundamentos últimos do conhecimento.[15] Daí o sentido de argumentar, conduzir uma discussão e discursar, envolvendo sempre a ideia de estímulo intelectual por intermédio do intercâmbio de [16] Enfim, envolvia uma argumentação com o fim de persuadir, sendo permitida à congregação fazer perguntas.[17]
Paulo, portanto, passou três semanas fazendo perguntas, ouvindo indagações, respondendo, argumentando com respeito ao Antigo Testamento e à Pessoa de Cristo. A pregação do Evangelho envolve raciocínios e argumentos.
Lucas registra também que em Corinto: “Todos os sábados [Paulo] discorria (diale/gomai) na sinagoga, persuadindo tanto judeus como gregos” (At 18.4). Este era o método habitual de Paulo. Ele usou do mesmo recurso na sinagoga de Tessalônica (At 17.2);[18] na sinagoga de Atenas e na praça (At 17.17);[19] na sinagoga de Éfeso e na escola de Tirano durante dois anos (At 18.19; 19.8-10),[20] na igreja em Trôade (At 20.7,9)[21] e diante de violento Procurador Félix (At 24.25).[22]
b) “Expor” (dianoi/gw).[23] “Abrir completamente”. Tem o sentido figurado de “explanar” e “interpretar”. Ou seja: pelo Espírito, a exposição de Paulo tornava a mensagem compreensível, “abria o significado” do texto, evidenciado a sua aplicabilidade ao contexto de seus ouvintes (Cf. Lc 24.31-32).[24] As pessoas poderiam não crer no que foi proclamado; contudo, não poderiam alegar falta de compreensão.
c) “Demonstrar” (parati/qhmi).[25] “Colocar ao lado”, “colocar diante de”. Figuradamente tem o sentido de apresentar evidências; ou seja, provar com passagens bíblicas a veracidade de seu argumento. “Citar para provar”, “demonstrar”. Ou seja: Paulo argumentava biblicamente o que ensinava, demonstrando, por exemplo, o cumprimento das profecias em Cristo e, ao mesmo tempo, confrontava as teses de seus oponentes com textos bíblicos.
d) “Persuadir” (pei/qw), que significa convencer despertando a confiança de alguém sobre o quê foi persuadido, “dar crédito” (At 27.11). Lucas também registra que alguns dos judeus e numerosa multidão de gregos – homens e mulheres distintas –, “foram persuadidos (pei/qw) e unidos a Paulo e Silas” (At 17.4). Paulo esforçava-se por persuadir os seus ouvintes a respeito do Evangelho (At 13.43; 18.4;19.8,26; 26.28; 28.23-24; 2Co 5.11).[26]
Becker argumenta: “Paulo não procurava dar origem à fé no Deus único e, sim, persuadir os ouvintes quanto à graça que acabava de ser dada por meio de Cristo”.[27] Seus ouvintes não seriam levados à fé simplesmente pela sabedoria humana. No entanto, devemos estar conscientes que a proclamação não exclui de forma alguma a nossa razão.[28]
Mesmo havendo um tipo de linguagem que propiciava a persuasão, Paulo não se valia deste método. Diz aos coríntios: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva (peiqo/j) de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1Co 2.4).
Há sempre o risco de substituir o poder de Deus pela “técnica”, pela capacidade de convencer os nossos ouvintes. Neste caso, substituiríamos o conteúdo pelo sucesso, a soberania de Deus pelo poder de nossos argumentos.[29] É preciso um cuidado especial neste ponto.
Calvino se detém especialmente nesta questão: “Para que possa haver eloquência, devemos estar sempre em alerta a fim de impedir que a sabedoria de Deus venha sofrer degradação por um brilhantismo forçado e corriqueiro”.[30] A eloquência “é um dom muito excelente, mas que, quando se vê divorciado do amor, de nada serve para alguém obter o favor divino”.[31] A questão está em não usar desses meios como sendo a força do Evangelho, esquecendo-nos de sua simplicidade que é-nos comunicada pelo Espírito.
Continua o reformador em lugares diferentes:
Não devemos condenar, nem rejeitar a classe de eloquência que não almeja cativar cristãos com um requinte exterior de palavras, nem intoxicar com deleites fúteis, nem fazer cócegas em seus ouvidos com sua suave melodia, nem mergulhar a Cruz de Cristo em sua vã ostentação.[32]
O Espírito de Deus também possui uma eloquência particularmente sua.[33]
A eloquência que está em conformidade com o Espírito de Deus não é bombástica nem ostentosa,[34] como também não produz um forte volume de ruídos que equivalem a nada. Antes, ela é genuína e eficaz, e possui muito mais sinceridade do que refinamento.[35]
Paulo recordando aos crentes de Corinto o que lhes havia ensinando, diz: “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho (eu)angge/llion) que vos anunciei (eu)aggeli/zw) (…) que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” (1Co 15.1,3).
Notemos que Paulo escrevia à igreja, aos crentes. Não havia um novo Evangelho a ser pregado. Ele precisava apenas ser recordado em seu conteúdo e significado: “venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei”. Na realidade, Paulo estava declarando (lembrando) o Evangelho que já fora evangelizado (anunciado); nada havia a acrescentar e, ao mesmo tempo, a mensagem transmitida não era descartável: permanecia com o mesmo valor e relevância. Portanto, evangelizar, proclamar as Boas Novas, é um trabalho contínuo. Não se encerra, simplesmente, com o primeiro anúncio: “venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei”.
Uma característica distintiva do homem é a capacidade de julgar, discernindo o bem do mal.[36] Esta capacidade deve ser exercitada por nós no emprego dos recursos que Deus nos tem fornecido. Dentro da nossa linha de estudo, devemos estar atentos ao uso que fazemos da palavra como instrumento de persuasão. Como ouvintes, devemos também permanecer alerta para que não sejamos persuadidos pela beleza do discurso, sem verificar a sua validade. Resumindo: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Cl 2.8).
No Novo Testamento temos diversas orientações sobre isso. Devemos dar crédito à verdade procedente de Deus (1Ts 2.10-13). Contudo, como muitos falsos mestres têm saído pelo mundo, faz-se necessário provar os espíritos.
Precisamos exercitar o ceticismo cristão que não aceita tudo, contudo, não rejeita a procura da verdade:[37]
Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai (dokima/zw)[38] os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo. Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade (a)lh/qeia) e o espírito do erro. (1Jo 4.1-6).[39]
A verdade não gera mentira: “….mentira alguma jamais procede da verdade (a)lh/qeia)” (1Jo 2.21).
O nosso desejo de servir a Deus não nos deve tornar presas fáceis de qualquer ensinamento ou doutrina. Precisamos cientificar-nos se aquilo que é-nos transmitido procede ou não de Deus. Para este exame temos as Escrituras Sagradas como fonte de todo conhecimento revelado a respeito de Deus e do que ele deseja de nós. Foi assim que a nobre Igreja de Beréia procedeu ao ouvir Paulo e Silas. Ainda que aqueles irmãos tenham recebido a Palavra com avidez, isto não os impediu de examinar[40] “as Escrituras todos os dias para ver se as cousas eram de fato assim” (At 17.11). “Eles combinavam receptividade com questionamento crítico”.[41]
Portanto, como há outras vozes querendo nos afastar da verdade, apresentando um caminho que, à primeira vista, pode nos parecer mais convidativo e tentador, devemos perseverar no caminho da verdade. Paulo recrimina o esmorecimento dos gálatas que começando a crer corretamente na graça de Deus, agora, passam a viver, como se fosse possível, pelas obras. O legalismo judaico se constituía num impedimento aos judeus cristãos: “Vós corríeis bem; quem vos impediu (e)gko/ptw)[42] de continuardes a obedecer à verdade (a)lh/qeia)?” (Gl 5.7).
Os falsos mestres, privados da verdade,[43] procuram desviar-nos da verdade pervertendo os ensinamentos da Palavra.
Paulo cita dois falsos mestres de seu tempo, Himeneu[44] e Fileto, que, seguindo ensinamentos gnósticos, com uma linguagem corrosiva, eliminavam a esperança na ressurreição futura, pervertendo a fé de alguns:
Além disso, a linguagem deles corrói como câncer (ga/ggraina);[45] entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade (a)lh/qeia), asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo (a)natre/pw = “arruinar”, “virar”[46]) a fé a alguns. (2Tm 2.17-18).
A falsa doutrina é contagiante. Paulo exorta a Tito com veemência a respeito dos insubordinados, especialmente judeus: “É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo (a)natre/pw) casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.11).
Por causa dos falsos mestres o caminho da verdade será infamado. Escreve Pedro:
Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas (yeudoprofh/thj),[47] assim também haverá entre vós falsos mestres (yeudodida/skaloj), os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas (a)se/lgeia), e, por causa deles, será infamado (blasfhme/w)[48] o caminho da verdade” (2Pe 2.1-2).
Pedro diz que o presbítero como pastor do rebanho deve estar em condições de alimentar o seu rebanho com a Palavra e, também, saber combater àqueles que tentarão seduzir os fiéis com “palavras fictícias (plasto/j)” (2Pe 2.3).
[1] Agostinho, A Doutrina Cristã, São Paulo: Paulinas, 1991, IV.4.6. p. 217.
[2] Ver: James M. Boice, O Evangelho da Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 108-109.
[3] Cf. João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 1.18), p. 56.
[4]“A igreja está hoje perecendo por falta de pensamento, não por excesso do mesmo” (J.G. Machen, Cristianismo y Cultura, Barcelona: Asociación Cultural de Estudios de la Literatura Reformada, 1974, p. 19). “O empobrecimento intelectual em relação à fé pode levar ao empobrecimento espiritual” (William L. Craig, A Verdade da Fé Cristã, São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 14). “Quero também mostrar que os cristãos não precisam ter medo de pensar; que, na verdade, os cristãos têm vantagens sobre não-cristãos quando se trata de usar o intelecto” (Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 13). Vejam-se também as oportunas observações de Craig. (William L. Craig, A Verdade da Fé Cristã, São Paulo: Vida Nova, 2004. p. 11-16).
[5]João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 1.16), p. 58.
[6]João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 6.1), p. 201-202.
[7] Quanto à questão do reconhecimento do cânon, veja-se: Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
[8] Veja-se uma boa exposição deste ponto in: John Stott, Eu Creio na Pregação, São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 106ss.
[9] “A evangelização é a inalienável responsabilidade de toda comunidade cristã, bem como de todo indivíduo crente” (J.I. Packer, Evangelização e soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 21).
[10] Vejam-se: J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, p. 16-27; R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 27.
[11]“….Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens” (Lc 5.10). “Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério, para ver se, de algum modo, posso incitar à emulação os do meu povo e salvar alguns deles” (Rm 11.13-14). “Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele” (1Co 9.19-23). “E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens e somos cabalmente conhecidos por Deus; e espero que também a vossa consciência nos reconheça” (2Co 5.11).
[12] Veja-se: J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, p. 36-37.
[13] John R.W. Stott, A Verdade do Evangelho: um apelo à Unidade, Curitiba; São Paulo: Encontro; ABU., 2000, p. 130.
[14] A palavra tem o sentido de “dissertar” (At 17.17; 19.8; 24.25); “discorrer” (At 18.4; 19.9; Hb 12.5); “pregar” (At 18.19); “exortar” (At 20.7); “discursar” (At 20.9); “discutir” (At 24.12); “disputar” (Jd 9).
[15]Ver: Gottlob Schrenk, diale/gomai: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 2, p. 93.
[16]Cf. A.T. Robertson, “Word Pictures in the New Testament, Vol. 3 – Acts,” The Master Christian Library, (CD-ROM), Version 8 (Rio, Wi: Ages Software, 2000), in loc.
[17]Cf. D. Furst, Pensar: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo dicionário internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 3, p. 515.
[18] “Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com (diale/gomai) eles acerca das Escrituras” (At 17.2).
[19]“Por isso, dissertava (diale/gomai) na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali” (At 17.17).
[20]“Chegados a Éfeso, deixou-os ali; ele, porém, entrando na sinagoga, pregava (diale/gomai) aos judeus” (At 18.19). “Durante três meses, Paulo frequentou a sinagoga, onde falava ousadamente, dissertando (diale/gomai) e persuadindo com respeito ao reino de Deus. Visto que alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do Caminho diante da multidão, Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos, passando a discorrer (diale/gomai) diariamente na escola de Tirano. Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos” (At 18.8-10).
[21]“No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os (diale/gomai) e prolongou o discurso até à meia-noite. (…) Um jovem, chamado Êutico, que estava sentado numa janela, adormecendo profundamente durante o prolongado discurso (diale/gomai) de Paulo, vencido pelo sono, caiu do terceiro andar abaixo e foi levantado morto” (At 20.7,9).
[22]“Dissertando (diale/gomai) ele acerca da justiça, do domínio próprio e do Juízo vindouro, ficou Félix amedrontado e disse: Por agora, podes retirar-te, e, quando eu tiver vagar, chamar-te-ei” (At 24.25).
[23]A palavra tem o sentido de “expor” (Lc 24.32) e, especialmente, de “abrir”: abrir o ventre (Lc 2.23); abrir o céu (At 7.56). No sentido figurado: abrir os ouvidos (Mc 7.34-35); abrir os olhos para que compreenda (Lc 24.31/Gn 3.5,7); abrir o coração (At 16.14); abrir a mente (Lc 24.45).
[24]Comentando At 16.14, onde a mesma palavra é empregada, Stott escreve: “Percebemos que a mensagem era de Paulo, mas a iniciativa salvadora vinha de Deus. A pregação de Paulo não era efetiva em si mesma; o Senhor operava através dela. E a obra do Senhor não era direta em si; Ele preferiu operar por intermédio da pregação de Paulo. Sempre é assim” (John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da Terra, São Paulo: ABU Editora, 1994, (At 16.13-15), p. 296).
[25] Significa “propor” (Mt 23.24,31); “distribuir” (Mc 6.41; 8.6-7); oferecer (Lc 10.8; 11.6); confiar (Lc 12.48); entregar (Lc 23.46); encomendar (At 14.23; 20.32; 1Pe 4.19); “pôr diante de” (1Co 10.27); “encarregar” (1Tm 1.18); transmitir (2Tm 2.2).
[26]“Despedida a sinagoga, muitos dos judeus e dos prosélitos piedosos seguiram Paulo e Barnabé, e estes, falando-lhes, os persuadiam (pei/qw) a perseverar na graça de Deus” (At 13.43). “E todos os sábados discorria na sinagoga, persuadindo (pei/qw) tanto judeus como gregos” (At 18.4). “Durante três meses, Paulo frequentou a sinagoga, onde falava ousadamente, dissertando e persuadindo (pei/qw) com respeito ao reino de Deus” (At 19.8). Demétrio insuflando o povo: “e estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas em quase toda a Ásia, este Paulo tem persuadido (pei/qw) e desencaminhado muita gente, afirmando não serem deuses os que são feitos por mãos humanas” (At 19.26). “Então, Agripa se dirigiu a Paulo e disse: Por pouco me persuades (pei/qw) a me fazer cristão” (At 26.28). “Havendo-lhe eles marcado um dia, vieram em grande número ao encontro de Paulo na sua própria residência. Então, desde a manhã até à tarde, lhes fez uma exposição em testemunho do reino de Deus, procurando persuadi-los (pei/qw) a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas. Houve alguns que ficaram persuadidos (pei/qw) pelo que ele dizia; outros, porém, continuaram incrédulos” (At 28.23-24). “E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos (pei/qw) os homens e somos cabalmente conhecidos por Deus; e espero que também a vossa consciência nos reconheça” (2Co 5.11).
[27]O. Becker, Fé: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2, p. 214.
[28]Veja-se o excelente tópico do livro de Stott: John R.W. Stott, Crer é também Pensar, São Paulo: ABU., 1984 (2. impressão), p. 45-51.
[29] Packer desenvolve este tema de forma pertinente:
“Se considerarmos que nossa tarefa consiste não simplesmente em apresentar Cristo, mas realmente em produzir convertidos – evangelizando não apenas fielmente, mas também com sucesso – então nossa maneira de evangelizar tornar-se-á pragmática e calculista. Terminaríamos por concluir que nosso equipamento básico, tanto para tratar pessoalmente como para pregar publicamente, deve ser duplo. Precisaríamos possuir não apenas uma compreensão clara do significado e aplicação do evangelho, mas igualmente uma técnica irresistível capaz de induzir os ouvinte a aceitá-lo. Assim sendo, precisaríamos nos esforçar por experimentar e desenvolver tal técnica. E deveríamos avaliar toda evangelização, tanto a nossa como a de outras pessoas, não pelo critério da mensagem pregada, mas também dos resultados visíveis. E, se nossos próprios esforços não estivessem produzindo frutos, concluiríamos que nossa técnica ainda precisa de melhoramentos. E caso estivessem produzindo fruto, concluiríamos que isso justifica a técnica usada. Se assim fosse, deveríamos considerar a evangelização como uma atividade que envolve uma batalha de vontades entre nós mesmos e aqueles para quem pregamos, uma batalha cuja vitória dependeria de havermos detonado uma barragem suficiente de efeitos calculados. Dessa maneira, nossa filosofia de evangelização tornar-se-ia terrivelmente semelhante à filosofia da lavagem cerebral. E já não poderíamos mais argumentar, quando tal semelhança fosse aceita como fato, que essa não é a concepção certa de que seja evangelizar. Pois seria um conceito apropriado de evangelização, se a produção de convertidos fosse responsabilidade nossa.
“Isso nos mostra o perigo de esquecermos as implicações práticas da soberania de Deus” (J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 22-23).
[30]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 2.13), p. 91.
[31]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 13.1), p. 394.
[32]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 1.17), p. 55. “Deus quer que sua Igreja seja edificada com base na genuína pregação de sua Palavra, não com base em ficções humanas. (…) Nesta categoria estão questões especulativas que geralmente fornecem mais para ostentação – ou algum louco desejo – do que para a salvação de homens” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.12), p. 112). “A pregação de Cristo é nua e simples; portanto, não deve ela ser ofuscada por um revestimento dissimulante de verbosidade” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 1.17), p. 54). “(A) fé saudável equivale à fé que não sofreu nenhuma corrupção proveniente de fábulas” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 1.14), p. 320). “Se porventura desejarmos conservar a fé em sua integridade, temos de aprender com toda prudência a refrear nossos sentidos para não nos entregarmos a invencionices estranhas. Pois assim que a pessoa passa a dar atenção às fábulas, ela perde também a integridade de sua fé” (João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.14), p. 320).
[33] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 1.17), p. 56.
[34]“Pois ninguém é mais radical do que os mestres desses discursos bombásticos, quando fazem pronunciamentos precipitados sobre coisas das quais nada sabem” (João Calvino, As Pastorais, (1Tm 1.7), p. 34).
[35]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 1.17), p. 56.
[36] Aristóteles, A Política, I.1.10, p. 14.
[37] Vejam-se: François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 233; Gene Edward Veith, Jr., De Todo o teu entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 129-131.
[38]Dokima/zw ressalta o aspecto positivo de “provar” para “aprovar”, indicando a genuinidade do que foi testado (2Co 8.8; 1Ts 2.4; 1Tm 3.10).
[39]Archibald Alexander (1772-1851), um dos fundadores do Seminário de Princeton e seu primeiro professor de Teologia Sistemática, resumiu:
“Na avaliação da experiência religiosa é de todo importante manter continuamente à vista o sistema de verdade divina contido nas Sagradas Escrituras; caso contrário, nossa experiência, como ocorre muito frequentemente, se degenerará em entusiasmo. (…) Em nossos dias não há nada mais necessário que estabelecer na religião, uma cuidadosa distinção entre as experiências verdadeiras e as falsas; para ‘provar os espíritos se procedem de Deus.’ E ao fazer esta discriminação, não há outro padrão de prova senão a infalível Palavra de Deus. Tragamos cada pensamento, motivo, impulso e emoção, ante esta pedra de toque. ‘À lei e ao testemunho, se não falam de acordo com estes, é porque não há luz neles’” (Archibald Alexander, Thoughts on Religious Experience, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1989 (Reprinted), p. XVIII).
[40] A palavra traduzida por “examinando” é a)nakri/zw, que tem o sentido de “fazer uma pesquisa cuidadosa”, um “exame criterioso”, “inquirir”. (*Lc 23.14; At. 4.9; 12.19; 17.11; 24.8; 28.18; 1Co 2.14,15 (duas vezes); 4.3 (duas vezes),4; 9.3; 10.25,27; 14.24). Conforme vemos em Lc 23.14; At 4.9 e 24.8, o verbo era usado para “investigações judiciais”. “Este verbo implica em integridade e ausência de preconceito. Desde então, o adjetivo ‘bereano’ tem sido aplicado a pessoas que estudam as Escrituras com imparcialidade e cuidado” (John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da Terra, São Paulo: ABU Editora, 1994, (At 17.11), p. 308).
[41] John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da Terra, (At 17.11), p. 308.
[42]No seu emprego militar a palavra tinha o sentido de cortar uma árvore para causar um impedimento ou, abrir uma vala que obstaculizasse temporariamente o caminho do inimigo, daí a palavra tomar o sentido de “impedimento”, “empecilho”, “obstáculo”.
[43]“Altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade (a)lh/qeia), supondo que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5).
[44] Paulo se referira a este como que alguém que naufragou na fé (1Tm 1.19-20).
[45]Esta palavra só ocorre aqui em todo o Novo Testamento. É deste termo que provém palavra gangrena.
[46] A palavra é usada no sentido literal Jo 2.15: “Em tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou (a)natre/pw) as mesas”.
[47] Jesus Cristo já nos alertara sobre eles. Vejam-se: Mt 7.15; 24.11,24; Lc 6.26. O apóstolo João falaria mais tarde de sua realidade presente (1Jo 4.1).
[48] O verbo Blasfhme/w, que tem o sentido de “injuriar”, “difamar”, ”insultar”, “caluniar”, “maldizer”, “falar mal”, “falar para danificar”, etc., é formado de duas palavras, Bla/yij derivada de Bla/ptw = “injuriar”, “prejudicar” (* Mc 16.18; Lc 4.35) e Fhmi/ = “falar”, “afirmar”, “anunciar”, “contar”, “dar a entender”. A Blasfêmia tem sempre uma conotação negativa, de “maldizer”, “caluniar”, “causar má reputação” etc., contrastando com Eu)fhmi/a (“boa fama” * 2Co 6.8) e Eu)/fhmoj (“boa fama” * Fp 4.8) (Eu)/ & fh/mh). No Fragmento 177 de Demócrito, lemos: “Nem a nobre palavra encobre a má ação, nem é a boa ação prejudicada pela má palavra (Blasfhmi/a)”. Paulo diz que o mal testemunho dos judeus contribuía para que os gentios blasfemassem o nome de Deus (Rm 2.24, citando Is 52.5). Compare este fato com a orientação de Paulo, 1Tm 6.1; Tt 2.5.
A falsa doutrina propicia a prática da blasfêmia (1Tm 6.3,4), bem como os falsos mestres (2Pe 2.1-2,10-12).