A amizade começa no coração

“Dou graças ao meu Deus por tudo o que lembro de vocês, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vocês, em todas as minhas orações. Dou graças pela maneira como vocês têm participado na proclamação do evangelho, desde o primeiro dia até agora. Estou certo de que aquele que começou boa obra em vocês há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus.”  (Filipenses 1.3-6)

Sempre leio estes versos com um sorriso no rosto, pois me lembro de amigos que fazem ou fizeram parte de nossa vida em algum momento.

Hoje tenho a alegria de dizer que tenho amigos mais chegados que irmãos, mas nem sempre foi assim. Nunca fui a popular da escola, cheia de amigos, ou aquela que era escolhida dentre os 5 primeiros pra uma brincadeira ou jogo. Isto já me trouxe sentimentos de solidão, frustração, aprendizado e, por fim, crescimento.

Mas será que eu teria tido uma infância e juventude mais alegre se eu fosse a tal popular? Creio que não, pois, ser a popular nem sempre é um bom sinal, pode te fazer cheia de si mesma e demasiadamente egoísta. Não ser popular também não te livra de ter estes sentimentos pecaminosos habitando em teu coração. De fato, cobiça, ciúmes, inimizades, discórdias e tudo o mais que completa a lista de obras da carne em Gálatas 5, podem fazer parte do nosso dia a dia, sejamos populares ou não.

E o que isto tem a ver com amizades? Quando eu via as garotas populares, eu via as pessoas que as rodeavam, eu via o prestígio que elas tinham e eu cobiçava aquilo. Eu pensava que poderia ser mais feliz se tivesse mais amigas, se fosse rodeada de pessoas que “gostavam” de mim. É engraçado olhar pra trás e ver que eu já tinha pessoas que gostavam de mim, que me cuidavam e me amavam, mas na fase de adolescência temos a tendência de desprezar os de casa, não atentar para os mais próximos de fato e verdade, nossos olhos estão fitos no lugar errado, hoje reconheço que os meus estavam.

Porém, este tipo de sentimento não se restringe a um período de nossa vida (como a adolescência), sofremos com a exclusão em todas as fases. Excluímos e somos excluídas com frequência, até sem perceber. As tais panelinhas continuam a todo vapor em nosso meio, na igreja, na faculdade, no grupo de jovens, no trabalho e em nosso coração. Entrar nelas é um desafio, não sabemos o que perguntar, como aproximar e quais gestos usar. Geralmente uma breve oração “Senhor me ajude”, mira e vai, quebra o gelo e tenta puxar papo.

É bem provável que façamos parte de panelas sem ter intenção de excluir outros. Ao mesmo tempo, há uma chance de não nos esforçarmos para atingir pessoas de fora. Eu mesma sei que tenho panelinhas em meu coração e preciso lutar para não me fechar para novas amizades. Preciso ter meu olhar atento para integrar e fazer novos laços.

Assim também, não posso negar que as amizades já estabelecidas são boas, prazerosas e confortáveis. A barreira das primeiras perguntas já foi vencida, aquele desconforto do silêncio não é mais estranho, já se conhecem os gostos, os temperos, as músicas e até as crianças já sabem onde ficam os brinquedos e as bananas. Amizade antiga é um bálsamo!

São estas amizades que me fazem sorrir ao ler os versos acima, amigos que já choraram comigo em dias difíceis, que foram os primeiros a saber de uma nova gestação, que nos fortaleceram em dias bambos, amigos de sangue (o de Cristo, é claro).

Mas, como já disse (e luto), não posso ficar no comodismo dos mesmos amigos. Sou chamada para me relacionar no corpo de Cristo e tenho certeza de que este corpo não é composto por apenas alguns membros.

Sei que vou falhar muitas vezes, me fechar outras tantas, sem contar as fechadas que vou tomar. Que isto não me impeça de me relacionar com o povo de Deus, pois a parte mais difícil em fazer novos amigos é o meu próprio coração. Você pode me trazer mil experiências e exemplos de como foi escanteada por grupos e pessoas diferentes, meu conselho a você é: redirecione seu coração. O que você deseja ao ter aquela ou esta amizade?

A maior barreira é geralmente aquela que já trazemos em nosso coração, que são as inseguranças, a inveja, o ciúme e o orgulho. Paulo discorre contra isto no capítulo 12 de Romanos, onde ele exorta aquele povo com amor e fraternidade, os admoestando a serem amáveis, hospitaleiros, pacíficos, humildes, benignos e servos uns dos outros. Que belo tratado de amizade!

Um dos meus erros ao querer ser “a popular” é que eu era sábia aos meus próprios olhos (Romanos 12:16), eu me achava mais merecedora daquelas amizades do que a outra pessoa, eu invejava e não me alegrava com a alegria do próximo. Infelizmente este é um passado que ainda pode estar bem presente em vários dos meus dias. Mas luto, pois meu coração é a parte mais difícil nestes relacionamentos, como já disse. E sei que não posso mudar os outros, não tenho este poder, mas tenho domínio sobre meu coração, minhas ações e minha língua.

Portanto, se quero amigos, preciso ser amiga. Uma amiga nos moldes de Romanos 12 (recomendo a leitura de todo o capítulo), uma amiga que perdoa, que ama, que exorta, que trata com benignidade e hospitalidade. Uma amiga falha, mas que se apoia totalmente na graça de Jesus para continuar na estrada. Uma amiga que aprendeu que nenhuma amizade pode preencher o vazio do coração, apenas aquele que sonda os corações tem poder de preenchê-lo de forma eficaz.

Cristo nos chama de amigos, ele próprio se fez amigo, sem nos destratar, sem nos subjugar e sem esconder conversas de nós (Joao 15.15). Quero te encorajar a fazer amigos, a ser amiga, sem deixar de investir tempo no melhor relacionamento de sua vida: Cristo!

Quero continuar sorrindo ao ler Filipenses 1 e lembrar de mais pessoas adicionadas ao meu círculo. Quero sorrir e me deleitar naquele que é a fonte do amor e me capacita a fazer amigos, pois ele mesmo é o meu Grande Amigo, ele já sabe de tudo da minha vida e ainda assim me ama incansavelmente. Cristo, meu Amigo Salvador.