O pensamento grego e a igreja cristã (Parte 27)

A Sabedoria do Espírito em nossa cotidianidade

A sabedoria que procede de Deus tem virtudes próprias que não a confundem. Vejamos o tratamento instrutivo que apresenta Tiago:

13Quem entre vós é sábio (sofo/j) e inteligente (e)pisth/mwn)? Mostre em mansidão de sabedoria (sofi/a), mediante condigno proceder, as suas obras. 14 Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. 15 Esta não é a sabedoria (sofi/a) que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. 16 Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins. 17 A sabedoria (sofi/a), porém, lá do alto é, primeiramente, pura (a(gno/j = santa, honesta);[1] depois, pacífica (ei)rhniko/j),[2] indulgente (e)pieikh/j[3] = moderada, cordata, tolerante, gentil), tratável (*eu)peiqh/j = simpática, razoável), plena de misericórdia (mesto/j e)/(leoj) e de bons frutos (karpo/j a)gaqo/j), imparcial (*a)dia/kritoj = inabalável, resoluta, isenta de duplicidade), sem fingimento (a)nupo/kritoj[4] = não hipócrita, real, verdadeira). 18 Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz. (Tg 3.13-18).

A sabedoria bíblica consiste não no acúmulo de conhecimento, antes, em um modo de vida que reflita a sabedoria de Deus revelada em Cristo Jesus, em quem temos o modelo encarnado da plenitude de sabedoria. A sabedoria é decorrente de nossa comunhão com Cristo e a partir dessa realidade, no modo como edificamos a nossa vida.[5]

Ser sábio é aplicar o conhecimento adquirido à arte de viver em comunhão com Deus refletindo isso em todas as dimensões de nossa existência. Sabedoria é a associação teórica e prática entre conhecimento e santidade que se manifesta em piedade.

De acordo com a nossa nova natureza, devemos andar com sabedoria, de forma distinta de nossa antiga vida, procurando compreender a vontade de Deus, tendo o cuidado para não sermos enganados por falsos ensinamentos que cultivam uma mera e vazia aparência de verdade:

6Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. 7Portanto, não sejais participantes com eles. 8 Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz 9 (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), 10provando sempre o que é agradável ao Senhor. 11E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. 12 Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha. 13Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é luz. 14Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará. 15Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios (*a)/sofoj), e sim como sábios (sofo/j), 16 remindo o tempo, porque os dias são maus. 17Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. (Ef 5.6-17).

A Palavra, por nos revelar Jesus Cristo, o Deus Encarnado e, por decorrências, suas instruções, torna-nos sábios para a salvação preparada por Deus para nós desde a eternidade.

As Escrituras nos capacitam a ter um padrão unificador da realidade, indo além da mera aparência ou de verdades fragmentadas. Com o coração purificado pela Palavra temos maior sensibilidade e discernimento para ver na Criação e em nossa vida, o agir de Deus, a ação de Jesus Cristo o seu Filho, a sua direção, cuidado e proteção. Aquilo que pode parecer banal ao homem natural, para nós, há, ainda que muitas vezes por meios naturais, a manifestação sobrenatural do cuidado, da preservação e, até mesmo, da disciplina de Deus (Hb 12.6-7).

Nós só vemos o que somos capazes de ver.[6] Deste modo, onde alguns ouvem um ruído, poderemos perceber uma sinfonia.[7] Em lugar de variadas cores, talvez desconexas para muitos, enxerguemos o arco-íris. Onde outros veem com admiração um céu estrelado, veremos a manifestação da glória de Deus (Sl 8.1; 19.1).[8]

MacArthur escreve com agudez bíblica: “Aquele cujo coração é purificado por Jesus Cristo vê frequentemente a glória de Deus. (…) A pureza de coração purifica os olhos da alma para que Deus seja visível”.[9]

Aprendizagem bem-aventurada desde a infância

Paulo exorta Timóteo a permanecer naquilo que aprendeu desde a infância. Como é um alto privilégio poder ter usufruído desde a mais tenra idade de uma formação bíblica.[10] Por outro lado, os pais e avós nem sempre percebem de imediato os frutos de seus ensinamentos, porém, devemos perseverar em ensinar as Sagradas letras deixando com Deus os resultados que certamente aparecerão:

3Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia. 4 Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria 5 pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti. (2Tm 1.3-5).

14Tu, porém, permanece (me/nw = continuar, ficar, morar) naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste 15 e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio (sofi/zw) para a salvação pela fé em Cristo Jesus. (2Tm 3.14-15).

A sabedoria concedida por Deus deve nos tornar sábios para o bem, como indica Paulo:

Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios (sofo/j) para o bem e símplices (a)ke/raioj[11] = puro, sem mistura, sem mescla, não adulterado, intacto)[12] para o mal. (Rm 16.19).

A palavra (a)ke/raioj) é aplicada ao leite e ao vinho que não foram misturados com água; à pureza do metal e à muralha de uma fortaleza que se manteve intacta. Portanto, a sabedoria do Espírito é pura, sem dissimulação nem segundas intenções.

Jesus Cristo nos instrui: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices (a)ke/raioj) como as pombas” (Mt 10.16).

A sabedoria cristã dos filhos de Deus se revela no seu uso para o bem. A sabedoria que procede de Deus (Tg 1.17) não é empregada para o mal, para destruir ou satisfazer os nossos desejos egoístas.

Deus, descrevendo a insensibilidade espiritual de Judá, diz: “…. o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios, e não entendidos; são sábios para o mal, e não sabem fazer o bem” (Jr 4.22).

A sabedoria cristã é o oposto disso. Ela se dispõe a ajudar, socorrer, edificar. O seu planejamento é para o bem, nunca para o mal.

Judá estava tão distante de Deus que desaprendera a fazer o bem, os seus pensamentos eram ligeiros, ágeis para o mal. No entanto, o desafio de Deus para nós é para que nos exercitemos na prática do que é justo. E quanto ao mal? Que sejamos puros quanto a ele, não tendo ideias para executá-lo. No entanto, quando nos desafiarem a fazer o bem, que sejamos argutos, prontos, tendo uma visão perspicaz e penetrante. Até para fazer o bem precisamos ter discernimento.

Há, por exemplo, um tipo de assistencialismo que longe de ajudar, cria um espírito de dependência que não se configura como ajuda. Ser sábio para o bem não significa conceder tudo o que nos pedem, mas, saber administrar com discernimento os recursos disponíveis, de forma criativa e fraterna visando uma contribuição individual e social. Assim, Deus será glorificado.

Portanto, devemos utilizar a inteligência que Deus nos deu, para edificar, construir, socorrer, nunca para destruir, lucrar desonestamente: isto seria esperteza, que nada tem a ver com o Cristianismo e a pureza que deve caracterizar os filhos de Deus.

Um exemplo prático desta sabedoria está na orientação de Paulo no que se refere, ainda que não exclusivamente, à evangelização. Devemos aproveitar as oportunidades, falando com graça e com o sal que Deus nos deu, fruto de nossa transformação espiritual e evidência de nosso discipulado,[13] para que não sejamos insípidos: 5Portai-vos (peripate/w) com sabedoria (sofi/a) para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades (kairo/j). 6A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal [com graça e integridade], para saberdes como deveis responder a cada um” (Cl 4.5-6).

A oração de Paulo é no sentido de que Deus, pelo Espírito, nos dê sabedoria, nos conduzindo à maturidade espiritual (1Co 2.6) para que entendamos a sua revelação em Jesus Cristo mediante o conhecimento intenso de sua Pessoa. Somente pela Sabedoria do Espírito (1Co 2.6-16),[14] tendo como padrão a cruz de Cristo, podemos avaliar toda a realidade, envolvendo a grandeza e a miséria, a sabedoria e a loucura, e, o que de fato é relevante.

A sabedoria do Espírito nos concede discernimento e um critério absoluto para enxergar todas as coisas. Dizendo de outro modo, Paulo roga a Deus para que os efésios fossem cheios do Espírito Santo.

A profundidade da sabedoria de Deus revelada na Criação e em seus atos (Rm 11.33-36) não é para ser alvo de especulações, antes, de contemplação adoradora e de nossa vivência na história como povo de Deus.

Sem o Espírito de sabedoria jamais entenderíamos as maravilhas do Evangelho que consistem no conhecimento não de uma doutrina, mas de uma Pessoa (Jo 17.3).[15]

Aqui nesta oração temos uma súplica retroalimentadora: pela sabedoria concedida por Deus podemos entender a revelação. Na compreensão progressiva desta revelação vamos adquirindo, por graça, maior sabedoria. O conhecimento de Deus não se esgota. Devemos prosseguir e nos desenvolver neste conhecimento.

Esta oração se torna concreta em nós na medida em que sinceramente desejamos a sabedoria do alto. A nossa súplica sincera por sabedoria (Tg 1.5)[16] deve vir acompanhada pela leitura e meditação da Escritura.

Mesmo sabendo da real necessidade que temos da sabedoria espiritual concedida por Deus, isso não significa que devamos abdicar de nossa capacidade de pensar conforme Deus nos concedeu. O pensamento e a fé devem caminhar juntos. Não estamos estabelecendo paradoxos. Antes, o que estou afirmando é que o pensar é um imperativo fundamental de nossa condição de imagem de Deus. Como homens e mulheres criados à imagem de Deus devemos nos valer dessa capacidade tão cara concedida a nós. Não estamos estabelecendo paradoxos. Antes, o que estou afirmando é que o pensar é um imperativo fundamental de nossa condição de imagem de Deus. Como homens e mulheres criados à imagem de Deus devemos nos valer dessa capacidade tão cara concedida a nós. O pensamento e a fé devem caminhar juntos.

Precisamos aprender que a fé não elimina a nossa responsabilidade de pensar. Pensar não exclui a nossa fé. Ambas as atitudes devem caracterizar a vida do cristão a fim de que a nossa fé seja compreensível e a nossa razão seja guiada pela fé. A nossa fé e a nossa inteligência devem caminhar de mãos dadas em submissão a Deus.

O pensar confuso, destituído de fundamento, leva-nos à confusão. O seu repetir e propagar cria uma estagnação social em todos os níveis. A confusão intelectual é uma das raízes de repetições infindáveis que sufoca a possibilidade de crescimento, ajudando a perpetuar o erro, o equívoco e o que é obsoleto em sua constituição e prática.

Calvino (1509-1564), um grande expoente da Reforma Protestante, escreveu com propriedade:

Chamo serviço não somente o que consiste na obediência à Palavra de Deus, mas também aquele pelo qual o entendimento do homem, despojado dos seus próprios sentimentos, converte-se inteiramente e se sujeita ao Espírito de Deus. Essa transformação, que o apóstolo Paulo chama renovação da mente [Rm 12.2], tem sido ignorada por todos os filósofos, apesar de constituir o primeiro ponto de acesso à vida. Eles ensinam que somente a razão deve reger e dirigir o homem, e pensam que só a ela devemos ouvir e seguir; com isso, atribuem unicamente à razão o governo da vida. Por outro lado, a filosofia cristã pretende que a razão ceda e se afaste, para dar lugar ao Espírito Santo, e que por Ele seja subjugada e conduzida, de modo que já não seja o homem que viva, mas que, tendo sofrido com Cristo, nele Cristo viva e reine.[17]

Não vivemos em um mundo de aparências. A realidade é acessível e Deus deseja que a conheçamos. O mundo real foi revelado a nós. Deus nos concedeu meios para conhecê-lo dentro do palco maravilhoso de sua glória revelado na Criação.

O Senhor nos dá compreensão, nos faz ter entendimento de toda a realidade. O real não é uma mera utopia, antes, é acessível e, portanto, conhecível. Se não tivéssemos acesso à realidade, seria, por exemplo, impossível escrever história e, da mesma forma, estudá-la. Qual seria o sentido disso além de um exame psicológico do historiador?[18]

Não vivemos num mundo de imagens, mas, de realidade, por mais desagradável que essa possa se configurar a nós em determinadas circunstâncias. No entanto, precisamos refletir a respeito. Não basta ler, é preciso refletir. O que me faz pensar que o caminho para a compreensão das coisas é um pensar intenso, humilde e submisso a Deus. Nem sempre as coisas se mostram a nós de forma clara e evidente. Precisamos pensar a respeito. O pensar e o repensar podem fazer parte de um processo cognitivo abençoador de considerar, compreender e viver de acordo com o propósito de Deus.

Todo conhecimento parte de um pré-conhecimento que é-nos fornecido pela nossa condição ontologicamente finita e pelas circunstâncias temporais, geográficas, intelectuais e sociais dentro das quais construímos as nossas estruturas de conhecimento. Afinal, a humanidade atesta a sua humanidade; a criatura demonstra a sua condição. Não existe neutralidade existencial porque de fato, não há neutralidade ontológica.[19] Esta realidade prejulgadora na maioria das vezes é-nos imperceptível. O que pensamos determina a nossa visão e compreensão do objeto. Numa relação de conhecimento, o cérebro influencia mais o olho do que o olho ao cérebro.

É por isso que a visão que tenho, ainda que respaldada por forte elemento referente, é minha visão, com suas particularidades. Em geral, o que me privilegia, me delimita. Em outras palavras: o que me possibilita uma visão mais adequada de um ponto, é justamente o que dificulta a visão mais ampla de outros. É por esse, entre outros motivos, que a ciência é um saber social, constituído de várias visões, de diversos saberes que se completam,[20] se transformam e se aperfeiçoam.

A realidade se mostra a nós com contornos próprios delineados não simplesmente pelo que ela é, mas, também, pelos nossos olhos que a enxergam e pinçam fragmentos desta realidade conferindo-lhes novas configurações com cores mais ou menos vivas, atribuindo-lhes valores muitas vezes bastante distintos dos reais.

Desta forma, a avaliação cristã de todas as coisas deverá ser crítica e construtiva. A cosmovisão do ser pensante, por mais apaixonante e intensa que seja,[21] não pode estar acima de uma avaliação. O seu produto não é simplesmente produto de seu gênio autônomo, desejado, porém, inexistente. Aliás, inclino-me a crer que o seu gênio é profundamente modelado pelo “clima” ou “atmosfera” de sua época, pelas cores com as quais a realidade é pintada e os acordes que dão o tom aos valores hodiernos, ainda que isso não determine uma única forma de apreensão e expressão, como sublinha Wölfflin (1864-1945).[22] Aliás, nem um de nós pode ser separado da história e da sua história.[23]

O perigo de sacrificar princípios

Contudo, uma tentação para todos nós é sacrificar princípios que consideramos absolutos, os relativizando a fim de sermos aceitos pelos nossos pares, ou, nos considerar atualizados. Os viúvos intelectuais de hoje, foram, em geral, casados com a moda tortuosa de ontem. O consórcio intelectual motivado por desejos estranhos à busca da verdade e instrução a fim de uma vida digna, em geral é decepcionante e o seu fim pode ser trágico.[24] A mudança inconsistente de referência é, em geral deprimente, revelando a fraqueza moral de seus praticantes.

Henry (1913-2003), pontua bem a questão:

Sancionar a “credibilidade” da investigação cristã, exibindo em primeiro lugar sua compatibilidade com teorias estranhas, significa apenas mercadejar a singularidade do cristianismo. (…) De modo similar, os cristãos devem apresentar sua distintiva maneira de ver a verdade, que engloba o Deus que cria e  ilumina nossos mecanismos formadores de crença. Os cristãos não devem sentir compulsão alguma para afinar sua epistemologia teística transcendente para coincidir com as preferências de filósofos hostis.[25]

É extremamente fácil e perigoso nos deixarmos seduzir pelos nossos próprios pensamentos a respeito do pensamento vigente e aparentemente definitivo. O nosso amanhã poderá refletir tragicamente o nosso consórcio intelectual e moral de hoje.[26]

Por sua vez, as sínteses que por vezes fazemos, tendem a ignorar as reais antíteses de nosso pensamento – ora as minimizando, ora as ocultando –, demonstrando, a inconsistência de nossa percepção ou, talvez de nosso caráter, o que é bem pior.

Beeke e Jones escrevem com pesar: “Seja em virtude da ignorância das Escrituras, seja em virtude de uma distorção das Escrituras para que estas se adaptem aos nossos desejos, perdemos nossas convicções antitéticas acerca do mundo ímpio ao nosso redor”.[27]

Somos chamados a vivenciar a nossa fé em todos os desafios que se apresentam em nossa cultura. Portanto, não estamos propondo uma alienação da cultura, nem, simplesmente, uma identificação cultural irresponsável, imaginando que a força da igreja esteja em sua semelhança e não na sua diferença genética e, portanto, naturalmente sobrenatural. Fomos gerados de novo para uma nova vida caracterizada por uma nova esperança, fundamentada na historicidade da ressurreição de Cristo, que perpassa e confere sentido à nossa existência hoje (1Pe 1.3,13,21; 3.15/1Tm 4.10).[28]

O equilíbrio aqui é necessário. Estamos no mundo, mas, não somos deste mundo. Somos peregrinos, estrangeiros e hóspedes.[29]

Valendo-me de uma expressão de Tchividjian, diria que somos “estrangeiros residentes”.[30] É natural que haja uma tensão em nós. Somos imperfeitos, limitados, temos nossos anseios que, por vezes, tendem a ser maximizados em meio a aspectos da nossa cultura tão convidativos e, em certo sentido, confortáveis. É necessário discernimento para que não caiamos no mundanismo intelectual e vivencial, o que inviabilizaria totalmente a nossa possibilidade de influência em nosso meio. Não podemos permitir que a nossa mente e o nosso comportamento sejam regidos pela forma mundana e pagã de pensar e agir. Ingressaríamos, assim, num ateísmo prático ou funcional, que se caracteriza pela direção de sua vida como se Deus não existisse.[31]

Veith usa um exemplo pertinente:

O desejo de ser intelectualmente respeitável pode produzir híbridos de secularismo e Cristianismo, como visto na teologia liberal, ou levar à total incredulidade. O desejo de ser socialmente respeitável pode corroer a severidade da moralidade bíblica para uma tolerância livre e fácil que pode chegar a justificar, tanto em outros como em si mesmo, a imoralidade mais chocante. O desejo de ser popular pode se tornar um pretexto para atenuar ou abandonar verdades bíblicas em favor de crenças que estejam mais em voga.[32]

Deus opera ordinariamente em nossa vida por meio da Palavra. E é esta operação do Espírito em nossos corações que nos transforma concedendo-nos uma visão diferente da realidade e, também, um modo de agir condizente com a nossa nova natureza. Neste sentido, é que Jesus Cristo disse que o mundo odiou os seus discípulos e, acrescentou: “Eles não são do mundo” (Jo 17.14). “A primeira coisa que verdadeiramente caracteriza o cristão é que ele não é deste mundo, e não lhe pertence”.[33]

Na República, Platão (427-347 a.C.) referindo-se àqueles que adquiriram o conhecimento verdadeiro, demonstra como os demais saberes tornaram-se secundários: “Os que ascenderam àquele ponto não querem tratar dos assuntos dos homens, antes se esforçam sempre por manter a sua alma nas alturas”.[34]

Acreditamos que podemos conhecer a verdade – ainda que não exaustivamente ‒ porque nenhuma cosmovisão está acima de uma avaliação bíblica. Os bereanos se constituem em exemplo de uma avaliação criteriosa do que ouviram, primariamente, com atenção e interesse, independente de quem lhes ensinava, conforme narra Lucas: “Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando (a)nakri/zw) (“fazer uma pesquisa cuidadosa”, um “exame criterioso”, “inquirir”) as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17.11).

O nosso desejo de servir a Deus nos valendo, inclusive, de ferramentas variadas, com o propósito de melhor conhecer a realidade e de servir ao nosso próximo na melhor compreensão da verdade, não nos deve tornar presas fáceis de qualquer ensinamento ou doutrina.

Precisamos cientificar-nos se aquilo que é-nos transmitido procede ou não de Deus. Para este exame, temos as Escrituras Sagradas como fonte de todo conhecimento revelado a respeito de Deus e do que Ele deseja de nós. O não investigar (Sl 10.4) é um mal em si mesmo. Um bom princípio é examinar o que se nos apresenta como realidade dentro de suas multifárias percepções,[35] não nos deixando seduzir e guiar por nossas inclinações ou pelas tendências massificantes.

Em geral, quando nos faltam critérios objetivos, apelamos para o gosto como critério definitivo e solitário. Desse modo, somos conduzidos simplesmente por princípios que nos agradam sem verificar a sua veracidade. O fim disso pode ser trágico. Assim sendo, por mais autoeloquentes que possam se configurar aspectos da chamada realidade, precisamos examiná-los antes de os tomarmos como pressupostos para a aceitação de outras declarações também reivindicatórias. Quando nos omitimos deste exame, deste juízo crítico, sem percebermos, estamos contribuindo para que os ensinamentos hoje aceitos inconsistentemente, amanhã se tornem pressupostos que determinarão as nossas escolhas e avaliações.[36]

As hipóteses de hoje poderão se tornar nas teorias de amanhã e as futuras leis do pensamento e da moral.[37] Neste caso, já estarão acima de qualquer suspeita e discussão: tornaram-se verdade. A ciência é, com frequência, um refinamento das observações cotidianas.[38]

Como escreveu Pearcey: “A questão importante é o que aceitamos como premissas básicas, pois são elas que moldam tudo o que vem depois”.[39] Há o perigo de, sem nos darmos conta, formar a nossa cosmovisão baseados em um mosaico de peças promíscuas, contraditórias e excludentes.[40]

O homem não é a medida de todas as coisas como queria Protágoras (c. 480-410 a.C.)[41] e os Renascentistas ao revisitarem a sua frase.[42] No entanto, isto não significa a admissão de falta de um referencial, antes, na afirmação de que Jesus Cristo é a medida, o cânon da verdade e, portanto, de toda avaliação que fizermos da realidade que nos circunda.

Os bereanos tinham um padrão de verdade. Eles criam na sua existência e acessibilidade. Examinaram o que Paulo dizia à luz das Escrituras, ou seja: o Antigo Testamento. Se não tivermos um referencial teórico claro, como poderemos analisar de modo coerente a realidade? Sem referências, tudo é possível dentro de um quadro interpretativo forjado conforme as circunstâncias e meus interesses. Todo absoluto envolve antíteses. A fé cristã em sua essência é antitética a todo pensamento autônomo.[43]

Talvez, mesmo para nós cristãos, esteja faltando hoje, ainda que não de hoje, um pensamento cristão, uma mente cativa a Cristo que nos propicie o desenvolvimento de uma cosmovisão cristã.[44]

Cosmovisão é um compromisso de fé e prática. Por isso, o nosso trabalho pastoral consiste na aplicação de nossa fé – criticamente avaliada a partir das Escrituras – às condições concretas de nossa existência. A fé é chamada a se materializar nos desafios que se configuram diante de nós em nossa história de vida. E, como diz Lloyd-Jones (1899-1981): “A fé cristã não é algo que se manifeste à superfície da vida de um homem, não é meramente uma espécie de camada de verniz. Não, mas é algo que está sucedendo no âmago mesmo de sua personalidade”.[45]

Por conseguinte, o ministério pastoral é um serviço que prestamos a Deus por meio da igreja, do povo que Ele mesmo nos concedeu o privilégio de pastorear. Em fidelidade a nossa vocação não podemos perder de vista o nosso propósito: servimos a Deus dentro de nossas limitações e expectativas. A graça de Deus tão necessária é abundante e, por isso, suficiente.

Tomemos a orientação de Paulo: Pondera (noe/w) (= atentar, compreender, pensar, entender) o que acabo de dizer, porque o Senhor (ku/rioj) te dará compreensão (su/nesij) (= entendimento, inteligência, discernimento) em todas as coisas” (2Tm 2.7).

O que Paulo instrui a Timóteo é no sentido de que ele reflita sobre o que o Apóstolo lhe escreveu buscando a compreensão no Senhor. Pensamento e oração caminham juntos. “Um ministro que ora está no caminho de ter um ministério bem-sucedido”.[46] Contrariamente, a ausência de oração determinará de forma trágica a morte de toda a sua vitalidade espiritual.[47]

A piedade e sua praticidade

Não podemos excluir Deus de nossas pesquisas. A piedade para tudo é proveitosa (1Tm 4.8). Não permitamos que a nossa fé nos afaste de uma pesquisa séria.[48] A nossa fé deve ser o transpirar de nossa teologia. “A fé cristã não é uma fé apática, uma fé de cérebros mortos, mas uma fé viva, inquiridora. Como Anselmo afirmou, a nossa fé é uma fé que busca entendimento”, resume Craig.[49]

A nossa fé nunca pode ser algo ocioso.[50] Devemos, portanto, pensar sobre o pensar rogando a Deus a sua iluminação. As nossas mãos devem ser agentes daquilo que, por graça temos percebido. Deus mesmo, por graça, nos dará o discernimento sobre todas as coisas. Pense sobre isso. Ore, persevere em orar a respeito.  Aos ministros de modo especial: Pregue a Palavra com fidelidade, profundidade, integridade e simplicidade.[51] Cumpra a sua vocação. Ouça o Espírito falando por meio da sua Palavra. Viva esta Palavra. Ensine à Igreja a Palavra do Espírito. Assim Deus será glorificado. Ele mesmo, o Senhor da Glória, haverá de abençoá-los suprindo todas e cada uma de suas necessidades.


[1] *2Co 7.11; 2Co 11.2; Fp 4.8; 1Tm 5.22; Tt 2.5; Tg 3.17; 1Pe 3.2; 1Jo 3.3.

[2] *Hb 12.11; Tg 3.17.

[3] *Fp 4.5; 1Tm 3.3; Tt 3.2; Tg 3.17; 1Pe 2.18.

[4] *Rm 12.9; 2Co 6.6; 1Tm 1.5; 2Tm 1.5; Tg 3.17; 1Pe 1.22.

[5] Veja-se: Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, em toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 53.

[6]Hendriksen e especialmente Barclay (1907-1978) desenvolvem este conceito com variações estimulantes. Vejam-se: William Hendriksen, Mateus, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, v. 1, (Mt 5.8), p. 387-388; William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, v. 1, (Mt 5.8), p. 116-117.

[7]Veja a figura em Polanyi, citada por McGrath (Alister E. McGrath, Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e o sentido das coisas, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 24).

[8]“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade” (Sl 8.1). “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1).

[9] John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 148.

[10]“Se porventura alguém tenha adquirido desde sua tenra juventude um sólido conhecimento das Escrituras, o mesmo deve considerar tal coisa como uma bênção especial da parte de Deus” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 3.15), p. 261).

[11] *Mt 10.16; Rm 16.19; Fp 2.15.

[12] Tem o sentido figurado de pureza, inocência, integridade.

[13]“Bom é o sal; mas, se o sal vier a tornar-se insípido, como lhe restaurar o sabor? Tende sal em vós mesmos e paz uns com os outros” (Mc 9.50/Mt 5.13).

[14]6 Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; 7 mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; 8 sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória; 9 mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. 10 Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. 11 Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. 12 Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. 13 Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. 14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 15 Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. 16 Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo” (1Co 2.6-16).

[15]“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

[16]Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5).

[17] João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.17), p. 184 (Veja-se a nota 5 in loc.).

[18] Sei que a narrativa histórica não é objetiva e que o historiador é fundamental no diálogo com os “fatos”. Para uma abordagem mais detalhada sobre o assunto, veja-se: Hermisten M. P. Costa, Introdução à Metodologia das ciências teológicas, Goiânia, GO.: Editora Cruz, 2015, p. 155-208.

[19]Vejam-se: H.R. Rookmaaker, A Arte não precisa de justificativa, Viçosa, MG.: Editora Ultimato, 2010, p. 39; H.R. Rookmaaker, Arte Moderno y la Muerte de una Cultura, Barcelona: CLIE; Publicaciones Andamio, 2002, p. 285-286; L. Kalsbeek, Contornos da Filosofia Cristã,  São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 38.

[20] “A ciência é obra coletiva, porquanto supõe vasta cooperação de todos os sábios, não somente de dada época, mas de todas as épocas que se sucedem na história” (Émile Durkheim, Educação e Sociologia, 5. ed. São Paulo: Melhoramentos, (s.d.) p. 35).

[21]“Cosmovisão é um compromisso, uma orientação fundamental do coração que pode ser expresso como uma estória ou num conjunto de pressuposições (suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas) que sustentamos (consciente ou subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a constituição básica da realidade, e que fornece o fundamento no qual vivemos, nos movemos e existimos” (James W. Sire, Dando nome ao elefante: Cosmovisão como um conceito. Brasília, DF.: Monergismo, 2012, p. 179). “A essência de uma cosmovisão reside profundamente nos recônditos interiores do eu humano” (Ibidem., p. 180). “Cosmovisões são uma questão do coração” (Ibidem., p. 181). “Se havemos de ter uma cosmovisão cristã, buscaremos eliminar as contradições em nossa cosmovisão” (Ibidem., p. 193). “Vivemos a nossa cosmovisão ou ela não é a nossa cosmovisão” (Ibidem., p. 195).

[22] Heinrich Wölfflin, Conceitos Fundamentais da História da Arte, 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, (2ª tiragem) 2006, p. 331ss. No campo da história, tempos percepções semelhantes. Destaco dois autores: Jacob Burckhardt (1818-1897) – um dos maiores historiadores do século XIX – referindo-se à sua obra magna sobre o Renascimento (1855), admitiu que: “….os mesmos estudos realizados para este trabalho poderiam, nas mãos de outrem, facilmente experimentar não apenas utilização e tratamento totalmente distintos, como também ensejar conclusões substancialmente diversas” (Jacob Burckhardt, A Cultura do Renascimento na Itália: Um Ensaio, São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 21). Do mesmo modo, um historiador contemporâneo, Delumeau: “Identificar um caminho não implica achá-lo sempre belo, como não implica que não haja outro possível” (Jean Delumeau, A Civilização do Renascimento, Lisboa: Editorial Estampa, 1984, v. 1, p. 21).

[23]“Por mais que lutemos arduamente para evitar os preconceitos associados à cor, credo, classe ou sexo, não podemos evitar olhar o passado de um ponto de vista particular. O relativismo cultural obviamente se aplica, tanto à própria escrita da história, quanto a seus chamados objetos. Nossas mentes não refletem diretamente a realidade. Só percebemos o mundo através de uma estrutura de convenções, esquemas e estereótipos, um entrelaçamento que varia de uma cultura para outra” (Peter Burke, Abertura: a nova história, seu passado e seu futuro: in: Peter Burke, org. A Escrita da História: novas perspectivas, São Paulo: UNESP., 1992, p. 15.).

[24] “Os filósofos cristãos não deveriam ser tão rápidos na adoção de ideias e modas filosóficas históricas ou contemporâneas a não ser que elas se ajustem bem aos nossos compromissos cristãos” (David K. Naugle, Filosofia: um guia para estudantes, Brasília, DF.: Monergismo, 2014, p. 140).

[25]Carl F.H. Henry, O Resgate da Fé Cristã,  Brasília, DF.: Monergismo, 2014, p. 54-55.

[26] Vejam-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 59; W. G. Tullian Tchividjian, Fora de Moda, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 31.

[27] Joel Beeke; Mark Jones, Teologia Puritana: Doutrina para a vida, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 1196.

[28]“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3). “Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo” (1Pe 1.13). “Que, por meio dele (Jesus Cristo), tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus” (1Pe 1.21). “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15). “Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis” (1Tm 4.10).

[29]Vejam-se:  D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 367; John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996 (Reprinted), v. 22, (1Pe 2.11), p. 78; João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Edições Paracletos, 1997, (Hb 13.14), p. 391-392.

[30]W. G. Tullian Tchividjian, Fora de Moda, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 93.

[31] “Uma grande porcentagem das pessoas de hoje diria que crê em Deus, mas raramente lhe dedica um pensamento e rotineiramente tomam suas decisões como se Ele não existisse” (John M. Frame, A Doutrina de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 23).

[32]Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, p. 88.

[33]D. M. Lloyd-Jones, Seguros Mesmo no Mundo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 2), p. 25. À frente, continua: “Ser do mundo pode ser assim resumido – é vida, imaginada e vivida, separadamente de Deus. Noutras palavras, o que decide definitiva e especificamente se eu e vocês somos do mundo ou não, não é tanto o que podemos fazer em particular como a nossa atitude fundamental. É uma atitude para com todas as coisas, para com Deus, para com nós mesmos, e para com a vida neste mundo; em última análise, ser do mundo é ver todas estas coisas separadamente de Deus […]

“Ser do mundo – e isso é repetido pelos apóstolos – significa que somos governados pela mente, pela perspectiva e pelos procedimentos deste mundo no qual vivemos” (D. Martyn Lloyd-Jones, Seguros mesmo no Mundo, p. 28-29).

[34]Platão, A República, 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (1993), 517c-d.

[35] “A prova de que as coisas são apenas valores é óbvia; pegue-se uma coisa qualquer, transmita-lhe diferente sistema de valoração, e se terá outras tantas coisas diferentes em lugar de apenas uma. Compare-se o que é a terra para um lavrador e para um astrônomo: para o lavrador é suficiente pisar a rubra pele do planeta e arranhá-la com o arado; sua terra é um caminho, uns sulcos e umas messes. O astrônomo necessita determinar exatamente o lugar que o globo ocupa em cada instante dentro da enorme suposição do espaço sideral: o ponto de vista da exatidão o obriga a convertê-la em uma abstração matemática, em um caso da gravitação universal. O exemplo poderia continuar indefinidamente.

“Não existe, portanto, essa suposta realidade imutável e única com a qual se pode comparar os conteúdos das obras artísticas; há tantas realidades quanto pontos de vista. O ponto de vista cria o panorama. Há uma realidade de todos os dias formada por um sistema de laxas relações, aproximativas, vagas o suficiente para os usos da vida cotidiana. Há uma realidade científica forjada em um sistema de relações exatas, impostas pela necessidade de exatidão. Ver e tocar as coisas não são, no fim das contas, senão maneiras de pensá-las” (Ortega y Gasset, Adão no Paraíso: In: Juan Escárnez Sánchez, Ortega y Gasset, Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010, p. 127).

[36]Veja-se: C.S. Lewis, A Abolição do Homem, São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 5. ”Os meio-deuses de uma geração logo passam a ser o objeto do ridículo da geração seguinte” (Carl F.H. Henry, O Resgate da Fé Cristã,  Brasília, DF.: Monergismo, 2014, p. 45).

[37] “Aquilo que começa hoje como uma especulação filosófica acaba movendo exércitos e construindo impérios amanhã” (Michael S. Horton, O Cristão e a Cultura, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 154).

[38]Julgo ser interessante ler o artigo: Taylor B. Jones, Por que uma visão bíblica da Ciência?: In: John MacArthur, ed. ger., Pense Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, especialmente, p. 337-363.

[39]Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, p. 44.

[40]Veja-se: Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, p. 48. Creio que de certa forma foi isso o que disse Gramsci (1891-1937), obviamente com referencial totalmente distinto do nosso: “Quando a concepção do mundo não é crítica e coerente, mas ocasional e desagregada, pertencemos simultaneamente a uma multiplicidade de homens-massa, nossa própria personalidade  é compósita, de uma maneira bizarra….” (Antonio Gramsci, Cadernos do cárcere, 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020, v. 1, p. 94).

[41]Apud Platão, Teeteto, 152a: In: Teeteto-Crátilo, 2. ed. Belém: Universidade Federal do Pará, 1988, p 15. Citado também em Platão, Crátilo, 385e. Aristóteles, diz: “O princípio (…) expresso por Protágoras, que afirmava ser o homem a medida de todas as coisas (…) outra coisa não é senão que aquilo que parece a cada um também o é certamente. Mas, se isto é verdade, conclui-se que a mesma cousa é e não é ao mesmo tempo e que é boa e má ao mesmo tempo, e, assim, desta maneira, reúne em si todos os opostos, porque amiúde uma cousa parece bela a uns e feia a outros, e deve valer como medida o que parece a cada um” (Metafísica, XI, 6. 1 062. Veja-se também, Platão, Eutidemo, 286). Platão diferentemente de Protágoras, entendia que a medida de todas as coisas estava em Deus. “Aos nossos olhos a divindade será ‘a medida de todas as coisas’ no mais alto grau” (Platão, As Leis, Bauru, SP.: EDIPRO, 1999, IV, 716c. p. 189).

[42] “Vivemos em uma cultura que procura nos convencer de que o homem é a medida de todas as coisas ‒ cada um é o próprio capitão de seu destino e o senhor de sua alma” (W. G. Tullian Tchividjian, Fora de Moda, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 44).

[43] Veja-se: Vern S. Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 79ss.

[44] “Nossas igrejas estão cheias de pessoas que são espiritualmente nascidas de novo, mas que ainda pensam como não cristãs” (William L. Craig, Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 14).

[45] David M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: Editora Fiel, 1984, p. 89.

[46]John Shaw, The Character of a Pastor According to God’s Considered, Morgan, Pa.: Soli Deo Gloria, 1992, p. 10. Apud Alistair Begg, Pregando para a Glória de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2014, p. 63.

[47] “A oração é a conversa da alma com Deus. (…) Um homem sem oração é necessária e totalmente irreligioso. Não pode haver vida sem atividade. Assim como o corpo está morto quando cessa sua atividade, assim a alma que não se dirige em suas ações a Deus, que vive como se não houvesse Deus, está espiritualmente morta” (Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans,1986 (Reprinted), v. 3, p. 692).

[48] “Torne sua vida ‒ especialmente sua vida de estudos ‒ uma vida de constante comunhão com Deus em oração. O aroma de Deus não permanece por muito tempo sobre uma pessoa que não se demora em sua presença (…). Somos chamados ao ministério da Palavra e da oração, porque sem oração o Deus de nossos estudos será o Deus que não assusta, que não inspira, oriundo de uma prática acadêmica ardilosa” (John Piper, A Supremacia de Deus na Pregação, São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 57).

[49]William L. Craig, Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 29. De igual modo: Garrett J. DeWeese; J.P. Moreland, Filosofia Concisa, São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 158.  Veja-se também: Leo Strauss; Eric Voegelin, Fé e filosofia política: a correspondência entre Leo Strauss e Eric Voegelin, São Paulo: É Realizações, 2017, p. 169.

[50]Veja-se: João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 134.

[51] “O uso de uma linguagem mais difícil pode ser a forma correta em determinadas situações, mas não é a forma correta na pregação. Pregações são feitas verbalmente. Têm como objetivo o ser compreendido. Se, ocasionalmente, é necessário o uso de palavras incomuns, elas são explicadas. Pregadores que não usam palavras do dia-a-dia em suas mensagens não estão ministrando como o seu Mestre” (Stuart Olyott, Ministrando como o Mestre: Aprendendo com os métodos de Jesus, São José dos Campos, SP.: Fiel, © 2005, 2010 (Reimpressão), p. 12). “A pregação de hoje deve ser feita em uma linguagem de comunicação social; caso contrário, haverá um obstáculo ao entendimento” (Francis A. Schaeffer, A Arte e a Bíblia, Viçosa, MG.: Editora Ultimato, 2010, p. 63).