A mulher mais feliz que já conheci

Um tributo à minha mãe

Há beleza na simplicidade. E há beleza maior na complexidade harmoniosa. Referindo-se a Jesus, Jonathan Edwards disse que há nele “uma admirável conjunção de diversas excelências”. Essa é uma maneira singular de dizer que, às vezes, coisas que parecem contrárias umas às outras se juntam em bela harmonia.

Simplicidade complexa

Minha mãe, Ruth Mohn Piper, era assim. Ela era mais bonita por estar totalmente livre de duplicidade em sua complexidade. A homenagem de meu pai a ela, depois que ela faleceu aos cinquenta e seis anos em um acidente de ônibus em Israel, incluia:

“Sua beleza não conhecia vaidade. Ela desprezava o barato, o de mau gosto, o falso. Ela detestava tudo que fosse ridículo e hipócrita. Sua autenticidade era transparente. Ela irradiava realidade. A vida para ela não era uma brincadeira nem uma farsa, mas uma expressão diária de sinceridade imaculada”.

Então, de certa forma, havia total simplicidade. Não por falta de complexidade, mas pela presença de unidade, concórdia, integridade. Como a pura simplicidade de um juiz imparcial cujos vereditos têm perfeita harmonia, embora um réu seja libertado e outro vá para a forca.

As “excelências diversas” de minha mãe foram tecidas juntas em tanta harmonia que eu nunca ficava na dúvida. Ela era previsível – como o sol nascente. O que trouxe brilho e estabilidade, segurança e descanso aos corações de seus filhos. Seu sorriso e sua carranca, sua afirmação e sua raiva, seu sim e seu não nunca foram enigmáticos. Eles sempre vieram da mesma raiz da verdade, fidelidade e consistência. Ela nunca foi um curinga, nunca errática, aleatória, caprichosa, arbitrária. Ela era uma rocha nas águas tempestuosas da minha vida.

1. Riso e Trabalho

O primeiro par de “diversas excelências” que dominou e permeou todos os outros foi sua alegria e sua atividade. Sua risada e seu trabalho. Seu canto e sua diligência. Eu sei que Branca de Neve e os sete anões assobiavam enquanto trabalhavam. Mas minha mãe levou isso para um novo nível. Porque ela estava quase sempre trabalhando. E ela era a mulher mais feliz que eu já conheci.

Ela virava a noite. As mãos dela nunca estavam ociosas”. Essas são as palavras do meu pai. Mas meu testemunho é o mesmo. Eu ia para a cama com a mãe arrumando a sala de estar e acordava – no sábado – ao som da camurça (Cabra-montesa) guinchando, enquanto a mãe polia a mesa de vidro na sala de jantar. Sem manchas. Sempre.

Um dos meus estereótipos de DNA germânico (seu nome de solteira era Mohn) é sauberkeit (limpeza)! Durante os três anos em que morei na Alemanha, vi parte do que fez minha mãe (e eu) vibrar. As mulheres, com baldes e panos na mão, lavavam diariamente os degraus de pedra que levavam da calçada às portas da frente.

Vai ter com a formiga

Como você poderia esperar, o livro favorito dela na Bíblia era Provérbios. Pelo menos é o que ela citava com mais frequência para mim. É prático. (É também principalmente sobre meninos propensos a problemas.) E celebra o trabalho! “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio”. (Pv 6. 6). “Os seus caminhos”? Nenhuma surpresa para mim.

A mão diligente dominará, mas a remissa será sujeita a trabalhos forçados. (Pv 12.24)

O preguiçoso deseja e nada tem, mas a alma dos diligentes se farta. (Pv 13.4)

Quem é negligente na sua obra já é irmão do desperdiçador. (Pv 18.9)

Minha mãe me pouparia de trabalhos forçados e de ser cúmplice do desperdiçador. Então ela me ensinou a trabalhar.

E eu estou querendo mesmo dizer ela. Meu pai era evangelista e estava fora de casa cerca de dois terços de todos os anos. Fui criado por duas mulheres alemãs – Ruth Mohn Piper e sua mãe, MaMohn, que viveram conosco durante grande parte dos meus anos de crescimento. Então, quando digo que ela me ensinou a trabalhar, quero dizer ela. Papai me ensinou a pescar e jogar golfe – e estabeleceu um ótimo modelo de poderosa pregação e oração. Mas, no que diz respeito ao trabalho prático, minha mãe me ensinou quase tudo.

  • “Pendure suas roupas quando as tirar, e você nunca precisará arrumar seu quarto”.
  • “Sobreponha o cortador de grama à parte que você já cortou e não deixará ‘rebarbas’”
  • “Troque o óleo e o motor durará mais tempo. Faça Você Mesmo. Existe uma chave especial para o filtro “.
  • “Quando você limpar o canteiro de flores [o que fazíamos continuamente], arranque a “Grama das Bermudas” pelas raízes; caso contrário, ela estará de volta em uma semana. “
  • “Certifique-se de que o óleo esteja fervendo quando colocar as batatas fatiadas, caso contrário, as batatas fritas caseiras ficarão ensopadas, não crocantes.”
  • “Vire as panquecas quando vir as bolhas nas bordas.”
  • “Jogue água fria sobre a panela de pressão antes de girar a tampa (ou você vai arrancar a sua própria cabeça).”

Eu nunca ouvi uma palavra filosófica sair da boca de minha mãe. O que você poderia fazer com algo filosófico? Você não pode limpá-lo, dobrá-lo, empilhá-lo ou guardá-lo.

Ouvi uma vez que as mulheres não suam – elas brilham. Não é verdade. Minha mãe suava. E o suor escorria pela ponta do nariz. Às vezes, ela o soprava enquanto suas mãos empurravam o carrinho de mão cheio de turfa. Ou ela o enxugava com a manga entre os golpes de uma lâmina oscilante. Minha mãe era forte. Ainda me lembro dos braços dela hoje, sessenta anos depois. Eles eram grandes e no verão eram bronzeados.

Fonte para a Felicidade

Em todo esse trabalho, até onde eu sabia, a vida era alegre. Ela era a mulher mais feliz que eu já conheci. E não quero dizer que ela sempre se saia bem. Quero dizer que ela sorria, ria e cantava. Minha lembrança dominante dela é um rosto sorridente. Trabalho não era labuta penosa. Era uma fonte para ser feliz.

Seja a mãe dela, sentada ao piano de cauda (que conta alguma coisa sobre a nossa casa), cantando em vibrato com seus cabelos prateados e gargantilha, uma música de salão de 1906 como “I Love You Truly” – o tipo de som que os adolescentes adoram imitar com hilaridade – ou se era minha mãe cantarolando “Heavenly Sunshine” enquanto passava roupas de baixo (!), ou meu pai e minha mãe juntos cantando “When We All Go to Heaven” no banco da frente do carro, por nove horas, indo para as férias em Greenville, Carolina do Sul, em Daytona Beach – minha vida estava imersa na música.

Isso torna difícil, para um jovem, distinguir onde o trabalho termina e a diversão começa. E sim, minha mãe se divertia. Ela e papai atraíam minha irmã e eu para os jogos de Scrabble sempre que podiam. E quando os convidados chegavam, os jogos de Rook, Pit ou charadas eram estridentes, com a voz risonha de minha mãe acima das outras.

Visão de Saúde e Alegria

Ela nunca ria tanto quanto quando meu pai voltava para casa por três, quatro ou duas semanas. Seria segunda-feira à noite (já que suas reuniões terminavam no domingo à noite). Papai voava para casa à tarde. Havia uma refeição especial preparada. E à mesa ouvíamos histórias do triunfo do evangelho e as novas piadas que ele havia aprendido.

Não importava se eram engraçadas. Meu pai ria tanto de suas próprias piadas que o resto de nós não podia deixar de se juntar a ele – com a mãe à frente. Sua risada começaria com uma pequena explosão de soprano. Sua cabeça prateada se lançaria para trás e seus longos dentes brancos brilhariam sob o nariz afiado. Seu pescoço bronzeado ficaria vermelho quando os tendões se retraíssem. Ela era a visão de saúde e alegria.

E não apenas em ambientes domésticos. Certa vez, em uma viagem de pesca em alto mar na Flórida, ela fisgou um peixe-espada de dois metros. O tipo que faz com que os capitães de barcos levem bandeiras especiais ao atracar. Demorou mais de uma hora para enrolar a linha, com todos na família se revezando no carretel. Mas era o peixe dela. Em vez de mantê-lo inteiro como um troféu em uma parede, ela o preparou em bifes salgados e nos enviou em gelo seco.

Assim, as diversas excelências de atividade e alegria, riso e trabalho, canto e diligência permearam meu crescimento. O efeito disso em mim foi, suponho, incalculável. Só Deus sabe. Mas estou agradecido.

2. Onicompetência Complementar

O segundo par de diversas excelências que me fez admirá-la, especialmente à medida que envelheci, foi sua onicompetência combinada com um profundo compromisso com a “coreografia” complementar no casamento – antes que alguém ouvisse falar de um adjetivo tão desajeitado. O que me surpreendeu não foi apenas o fato de mamãe poder fazer tudo melhor que meu pai (exceto pregar, orar e contar piadas), mas o fato de ela ter feito tudo melhor.

Dança da submissão

Como meu pai estava ausente durante dois terços do ano, eu conhecia minha mãe tanto como mãe solitária onicompetente e também como uma esposa complementar. Você pode pensar: esta é uma receita para o desastre – o homem constantemente chegando e saindo de casa. Mas surpreendentemente, para crédito de minha mãe, não foi um desastre. Quando ele estava fora, ela fazia tudo, com facilidade e excelência. Quando ele chegava em casa, ela realmente amava sua liderança. Ele nos reunia à mesa. Ele nos levava à igreja. Ele nos chamava para devoções familiares. Ele falava a primeira e mais firme palavra de disciplina. Ele tomava a iniciativa de sair para comer no Howard Johnson. Ele mostrava o tipo de cortesias masculinas que hoje são desprezadas. E em tudo isso a mãe sorria. Ela adorava. Mais tarde, eu aprenderia que a Bíblia chama isso de submissão.

E, claro, o fato de ela amar a liderança de papai não tinha nada a ver com suas incompetências. Até onde eu sabia, ela não as tinha. Tinha a ver com um profundo senso de afinidade com a maneira como Deus coreografou a dança da masculinidade e da feminilidade no casamento. Fui abençoado com um lugar na primeira fila do “drama” do casamento, em que minha mãe levou o Oscar de mulher onicompetente e de esposa complementar.

Treinando-me a cada passo

Enquanto papai estava fora, eu a assistia lidar com todas as finanças: pagar as contas, lidar com o banco e os credores, lavar em uma lavanderia operada por moedas e me ensinar a cada passo como tudo era feito. Eu a observava liderar o clube da horta comunitária, administrar uma franquia da “Amway”, administrar propriedades imobiliárias e lidar com os empreiteiros quando adicionamos um porão, mais de uma vez colocando a mão na pá. E também servia como superintendente do Departamento de Ensino Médio da Escola Dominical.

Quando eu precisava de ajuda na escola, não contratávamos um tutor. Lá estava mamãe. Ela me ajudou com os mapas em geografia; ela me mostrou como fazer uma bibliografia e a elaborar um projeto científico sobre eletricidade estática. Ela me guiou pela Álgebra II e me convenceu de que era possível aprendê-la. Duvido que meu pai pudesse ter feito alguma dessas coisas – certamente não tão bem quanto mamãe.

Mas, apesar de toda a sua competência, nunca me ocorreu pensar que a masculinidade de meu pai e a feminilidade de minha mãe eram funcionalmente intercambiáveis. Ambos eram fortes. Ambos eram brilhantes. Ambos eram gentis. Ambos me beijaram e me bateram. Ambos eram bons com palavras. Ambos oravam com fervor e amavam a Bíblia. Mas, inconfundivelmente, meu pai era homem e minha mãe era mulher. Eles sabiam disso e eu sabia disso. E não era apenas um fato biológico. Era mais uma questão de personalidade dada por Deus e dinâmica relacional.

3. Caráter moral e cuidados misericordiosos

O terceiro par de diversas excelências é o caráter moral e o cuidado delicado – uma sensação inabalável de certo e errado misturada com ternura misericordiosa. Eu disse acima que ela parecia fazer tudo com facilidade. Nem tanto. Não era fácil. Dois pais é ideia de Deus. Mesmo que, aos catorze anos, eu fosse quinze centímetros mais alto que minha mãe de um metro e cinquenta e cinco, eu ainda precisava da mão firme de um pai – se necessário no meu traseiro.

Cinto, sabão e polícia

Mas ela fazia o que tinha que fazer. Ela dava a lei e a aplicava. Lembro-me de apenas uma vez sendo chicoteado por esta pequena mulher com um cinto. Eu faltei à igreja em um domingo à noite quando tinha catorze anos. Isso foi uma ofensa dupla. Irresponsabilidade na frequência e engano. O que tornou essa surra tão memorável é que eu fiquei ali como uma pedra, como se dissesse que ela não poderia me machucar. Quando ela saiu do meu quarto chorando, eu me senti mal e desprezível por tratá-la tão mal.

Depois, houve um dia em que ela literalmente lavou minha boca com sabão. Não é uma metáfora. Agarrou meu cabelo, me inclinou sobre a pia e enfiou uma barra de sabão na boca (acho que era da marca Ivory.) O que eu disse para desencadear essa ira? Eu disse: “Cale a boca”! Para minha irmã.

Depois, houve aquela noite em minha adolescência, quando ela me deixou sair com o carro com alguns de meus amigos. Naquele tempo, você poderia obter sua carteira de motorista aos catorze. No caminho para casa, fui parado por excesso de velocidade na Church Street. Tudo em que eu conseguia pensar era na minha mãe. Sozinha em casa, sem um homem para apoiá-la.

Entrei e disse a ela que havia sido multado. Ela chorou como se eu tivesse atirado em alguém, me conduziu até o carro e me fez dirigir direto para a delegacia às onze da noite. Ela esperou no carro enquanto eu entrei, pedi desculpas e paguei a multa. Inesquecível.

Sozinha contra o racismo

E depois houve aquela votação lamentável em nossa igreja em uma quarta-feira à noite, quando a mãe ficou completamente sozinha. Menciono isso apenas para mostrar a força de caráter que ela possuía, mesmo quando não se tratava de pastorear seu filho, mas de defender a justiça. As questões raciais eram explosivas em Greenville no início dos anos sessenta. Igrejas brancas estavam sendo visitadas por afro-americanos para expor suas reações ao racismo.

Nossa igreja decidiu votar para que nenhum negro fosse autorizado a entrar no santuário. Minha mãe foi a única que não votou a favor disso. Ela ficou arrasada. Não muito tempo depois, o casamento de minha irmã foi realizado na igreja e, quando os convidados negros que chegavam ao casamento estavam prestes a ser direcionados para a varanda não utilizada para evitar “uma cena”, minha mãe assumiu o comando e levou esses amigos para o Santuário. Ela pode ter pouco mais de um metro e meio. Mas no cenário da minha formação moral, ela era imponente.

Mas não era tão simples

As regras eram claras. Quebre as regras, pague o preço. Era uma atmosfera moralmente limpa e clara para se respirar enquanto crescia. Não se perguntava o certo e o errado. E as consequências eram claras. Mas, à medida que amadureci, vi que não era tão simples. Ela sabia disso. E logo eu saberia disso. Por exemplo, eu sabia que nossa família não ia ao cinema e também não íamos a bailes. Se você acha que isso parece sufocante, não era. Lembre-se, eu tinha a família mais feliz que eu já conheci.

Bem, na sétima série, a sala da Sra. Adams ganhou o prêmio por maior frequência. A senhora Adams era a professora de inglês com quem aprendi quase tudo o que sei sobre gramática inglesa. Mas esse não é o ponto. A questão é que nossa sala conseguiu dispensa da escola para ir ao cinema como prêmio. Então eu contei à mamãe e perguntei o que eu deveria fazer. Ela disse: “Suponho que você deva fazer o que achar melhor”. Uau! O legislador e o policial acabam de entregar as rédeas morais a um garoto de treze anos.

O mesmo aconteceu na oitava série. Havia uma garota bonita na minha classe que pertencia a um grupo que anualmente realizava um baile “Sadie Hawkins”, para o qual, ao contrário do convencional, as meninas convidam os rapazes. Ela me ligou me convidando para ir. Eu me atrapalhei e desajeitadamente disse algo como: “Eu não sei dançar”. Para o qual ela respondeu de maneira embaraçosa: “Bem, podemos sentar e conversar.” Pedi licença para perguntar à mamãe o que fazer. Mesma resposta: “O que você achar melhor”. Oh não. Um novo mundo de responsabilidade moral estava caindo sobre mim.

Você provavelmente esteja se perguntando o que eu fiz, certo? Bem, esse não é o ponto. A questão é que essa mãe mais feliz de todas as fundamentalistas, que poderia exercer sua autoridade com cinto, sabão e polícia, sabia que estava criando um homem que teria que se sustentar sobre suas próprias convicções. E ela me conhecia.

Sim, eu fui ao cinema. Não, eu não fui ao baile. Pelo que me lembro, estávamos saindo da cidade naquela noite (misericordiosamente).

Cuidado incessante

Talvez uma das razões pelas quais eu tenha abraçado alegremente a sabedoria moral de meus pais, incluindo uma alta visão de feliz santidade e separação do mundanismo, seja que minha mãe não era principalmente legisladora e executora da lei. Ela era principalmente um suporte terno, carinhoso e misericordioso em minhas lutas. A maior luta foi em relação ao fato de eu ficar paralisado na frente de qualquer grupo ao qual eu tivesse que falar. Não estamos falando aqui de borboletas de nervosismo no estômago sobre as quais as pessoas brincam. Isso não era brincadeira.

Eu não podia – não podia – falar na frente de uma classe. Na décima série, o Sr. Vermillion exigia um relatório oral sobre algum livro, em sua aula cívica. Eu disse a ele que não podia. Ele não tinha ideia do que eu quis dizer. Eu não o fiz e minha nota nessa matéria refletiu o fracasso. Essa angústia durante todo o ensino médio causou profunda ansiedade e muitas lágrimas.

Em um determinado momento minha mãe me levou a um psicólogo. Após alguns testes de “Rorschach”, o psicólogo deu a entender que o problema poderia ser minha mãe. Agradeci, saí do consultório e nunca mais voltei. Naquela época, não entendia muitas coisas, mas havia uma que eu sabia: minha mãe era a única pessoa no mundo que estava me ajudando pacientemente, com ternura e amorosamente durante aqueles anos terríveis. E eu não estava disposto a culpá-la por nada.

Seus cuidados para comigo nunca cessaram até o dia de sua morte, quando eu tinha vinte e oito anos. Cartas, cartas e mais cartas. Por exemplo, a última carta que ela me escreveu foi do avião no qual ela seguia para Israel em dez de dezembro, seis dias antes dela falecer em um acidente de ônibus nos arredores de Belém. Nos noventa dias que antecederam a última carta, quando eu acabara de chegar em Minnesota, ela me escreveu cinquenta páginas (ainda as tenho) de notícias, incentivos e conselhos.

Conheço a Deus melhor porque minha mãe o refletiu, com autenticidade perfeita, um senso inabalável de certo e errado misturado com ternura misericordiosa. Ela era legisladora, executora da lei e sábia saturada do evangelho. De que outra forma uma criança estaria preparada para conhecer o verdadeiro Deus das Escrituras?

A palavra de Deus

As Escrituras. Que fundamento glorioso para a vida – e para a eternidade. Papai pregou e orou. Mamãe trabalhou em uma vida que deve ter sido muito difícil. Quanto mais eu amadurecia, mais percebia os sacrifícios e a dor. O que tornou aquela alegria ainda mais incrível e doce. Sob tudo isso estava a palavra de Deus. É o único livro que eu a vi ler. Ela não era uma leitora. Então, ela guardou quase toda a sua leitura para o livro mais importante.

Tenho diante de mim a Bíblia Scofield King James preta, encadernada em couro, que meus pais me deram no meu aniversário de quinze anos. Por dentro, em sua letra inconfundível, estão as palavras,

Feliz Aniversário, filho
11 de janeiro de 1961
“Este livro manterá você longe do pecado.
Ou o pecado manterá você longe deste livro”.
Mamãe e papai

Tem o nome de ambos. Mas a mão é a dela. Papai provavelmente não estivesse em casa. É assim que as coisas eram. O fato de eu sempre ter considerado meu pai na mais alta estima, amá-lo profundamente, e admirar seu ministério, é sem dúvida devido à inabalável alegria de minha mãe em apoiá-lo. No funeral dela, um homem que estava naquela última viagem a Israel disse que os viu de mãos dadas na Terra Prometida.

Obrigado, Pai, por esse casamento, pelas diversas excelências e por essa grande mulher.

Por: John Piper. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: The Happiest Woman I Have Ever Known.

Original: A mulher mais feliz que já conheci. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.