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Thomas Watson – Os Testes do Amor a Deus [4/6]
- As melhores coisas cooperam para o bem [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5]
- As piores coisas cooperam para o bem [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6 | Parte 7 | Parte 8]
- Por que todas as coisas cooperam para o bem do homem piedoso? [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3]
- Sobre o Amor a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3]
- Os Testes do Amor a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6]
9. Amor por aquilo que Deus ama
Se nós somos amantes de Deus, nós amamos aquilo que Deus ama.
(i) Nós amamos a Palavra de Deus. Davi estimava a Palavra pela sua doçura, acima do mel (Salmo 119.103), e pelo seu valor, acima do ouro (Salmo 119.72). As linhas da Escritura são mais ricas do que minas de ouro. Nós devemos amar a Palavra apropriadamente; ela é a estrela-ímã que nos atrai para o céu, é o campo no qual a Pérola está escondida. O homem que não ama a Palavra, mas a considera de maneira excessivamente estrita e deseja que alguma porção da Bíblia fosse dela arrancada (como um adúltero desejaria fazer com o sétimo mandamento), esse não tem sequer a menor fagulha de amor em seu coração.
(ii) Nós amamos o dia de Deus. Nós não apenas guardamos um sabbath, mas nós amamos um sabbath. “Se chamares ao sabbath deleitoso” (Isaías 58.13). O sabbath é aquilo que mantém a face da religião entre nós; esse dia deve ser consagrado como glorioso ao Senhor. A casa de Deus é o palácio do grande Rei, e no sabbath ali Deus revela a Si mesmo através da treliça. Se nós amamos a Deus, nós estimamos o Seu dia sobre todos os outros dias. Toda a semana seria escura se não fosse por esse dia; nesse dia, o maná cai numa porção dobrada. Nele, de um modo especial, as comportas do céu permanecem abertas, e Deus desce numa chuva dourada. Nesse dia bendito, o Sol da justiça se levanta sobre a alma. Oh, como um coração gracioso aprecia esse dia, feito com o propósito de desfrutarmos de Deus.
(iii) Nós amamos as leis de Deus. Uma alma graciosa tem prazer na lei porque ela restringe os seus impulsos pecaminosos. O coração estaria pronto a correr descontroladamente para o pecado, se ele não tivesse alguns benditos freios postos pela lei de Deus. Aquele que ama a Deus ama a Sua lei – a lei do arrependimento, a lei do negar-se a si mesmo. Muitos dizem amar a Deus, mas odeiam as Suas leis. “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (Salmo 2.3). Os preceitos de Deus são comparados a laços; eles amarram os homens ao seu bom comportamento; mas os ímpios acham esses laços apertados demais, portanto dizem: “Vamos rompê-los!” Eles fingem amar a Cristo como Salvador, mas O odeiam como Rei. Cristo nos fala sobre o Seu jugo (Mateus 11.29), mas os pecadores gostariam que Ele pusesse uma coroa em suas cabeças, e não um jugo em seus pescoços; que Ele fosse um estranho rei que governasse sem leis.
(iv) Nós amamos o retrato de Deus, nós amamos a Sua imagem resplandecendo nos santos. “Todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido” (1João 5.1). É possível amar um santo e, ainda assim, não amá-lo como santo; nós podemos amá-lo por alguma outra coisa, pela sua ingenuidade ou porque ele é afável e generoso. Um animal ama um homem, não porque ele é um homem, mas porque ele o alimenta e lhe dá forragem. Mas amar um santo na qualidade de santo, isso é um sinal de amor a Deus. Se nós amamos um santo por sua santidade, por possuir nele algo de Deus, então nós o amaremos nestas quatro situações:
(a) Nós amaremos um santo, embora ele seja pobre. Um homem que ama o ouro amará o ouro, mesmo que ele esteja enrolado em trapos; assim também, mesmo que um santo esteja em trapos, nós o amamos, porque há nele algo de Cristo.
(b) Nós amaremos um santo, embora ele tenha muitas falhas pessoais. Não há perfeição aqui. Em alguns, prevalece a ira impulsiva; em outros, a inconstância; e em outros, excessivo amor pelo mundo. Um santo nesta vida é como o ouro ainda em minério, muita escória de fraqueza está agarrada a ele; ainda assim, nós o amamos pela graça que nele está. Um santo é como um belo rosto com uma cicatriz: nós amamos a bela face da santidade, embora nela haja uma cicatriz. A melhor esmeralda tem as suas manchas, as estrelas mais brilhantes têm as suas cintilações, e o melhor dos santos tem as suas falhas. Você que é incapaz de amar alguém por causa de suas fraquezas, como poderia Deus amá-lo?
(c) Nós amaremos os santos, embora, em algumas coisas menores, eles discordem de nós. Talvez um outro cristão não tenha tanta luz quanto você, e isso possa fazê-lo errar em algumas coisas; você irá rapidamente desprezá-lo porque ele não pode ainda vir para a sua luz? Onde há união no essencial, deve haver união nas afeições.
(d) Nós amaremos os santos, embora eles sejam perseguidos. Nós amamos o metal precioso, mesmo que ele esteja na fornalha. São Paulo carregou em seu corpo as marcas do Senhor Jesus (Gálatas 6.17). Aquelas marcas eram, como as cicatrizes do soldado, honoráveis. Nós devemos amar um santo tanto nas cadeias quanto nos palácios. Se nós amamos a Cristo, nós amamos os Seus membros perseguidos.
Se nisso consiste o amor a Deus, em amarmos a Sua imagem brilhando nos santos, oh, então quão poucos amantes de Deus podem ser encontrados! Acaso amam a Deus aqueles que odeiam os que são semelhantes a Deus? Acaso amam a pessoa de Cristto aqueles que estão cheios de um espírito de vingança contra o Seu povo? Como se pode dizer que uma mulher ama o seu marido, se ela rasga o seu retrato? Certamente, Judas e Juliano [1] ainda não estão mortos, o seu espírito ainda vive no mundo. Quem é considerado culpado, senão os inocentes?! Que crime é pior do que a santidade, se o diabo está entre os jurados?! Os homens ímpios parecem ter grande reverência pelos santos do passado; eles canonizam os santos mortos, mas perseguem os vivos. Em vão os homens professam o credo, e dizem ao mundo que amam a Deus, quando eles abominam um dos artigos do credo, qual seja, a comunhão dos santos. Certamente, não há um maior sinal de que um homem está pronto para ir ao inferno do que este: não apenas carecer da graça, mas também odiá-la.
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[1] Provavelmente, uma referência ao imperador romano Juliano, conhecido como “o Apóstata”.
Por Thomas Watson. Original: A Divine Cordial By Thomas Watson
Tradução: voltemosaoevangelho.com
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