Thomas Watson – Chamado Eficaz [2/4]

O Voltemos ao Evangelho está traduzindo o livro Um Tônico Divino, do puritano Thomas Watson. Confira os capítulos já traduzidos:

  1. As melhores coisas cooperam para o bem [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5]
  2. As piores coisas cooperam para o bem [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6 | Parte 7 | Parte 8]
  3. Por que todas as coisas cooperam para o bem do homem piedoso? [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3]
  4. Sobre o Amor a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3]
  5. Os Testes do Amor a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6]
  6. Uma Exortação Para Amar a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6]
  7. Chamado Eficaz [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4]
  8. Exortações para os que são chamados [Parte 1 | Parte 2]

5. As Propriedades Deste Chamado Eficaz

(i) É um chamado doce. Deus não apenas chama, mas também cativa; Ele não força, mas conduz. A liberdade da vontade não é removida, mas a sua obstinação é vencida. “Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder” (Salmo 110.3). Após esse chamado, não há mais disputas; a alma prontamente obedece ao chamado de Deus: assim como quando Cristo chamou Zaqueu, ele alegremente O recebeu em seu coração e em sua casa.

(ii) É um chamado santo. Deus “nos salvou e nos chamou com santa vocação” (2Timóteo 1.9). Esse chamado de Deus convoca os homens para fora de seus pecados: por meio dele, eles são consagrados e separados para Deus. Os vasos do tabernáculo eram afastados de seu uso comum e separados para um uso santo; assim também aqueles que são eficazmente chamados são separados do pecado e consagrados para o serviço de Deus. O Deus a quem nós adoramos é santo, a obra na qual somos empregados é santa, o lugar ao qual almejamos chegar é santo; tudo isso nos chama para a santidade. O coração de um cristão deve ser a câmara da presença da bendita Trindade; acaso não deve estar escrito sobre ele “santidade ao Senhor”? Os crentes são filhos de Deus Pai, membros de Deus Filho e templos de Deus Espírito Santo; acaso não hão de ser santos? A santidade é o distintivo e o uniforme do povo de Deus: “teu santo povo” (Isaías 63.18). Assim como a castidade distingue uma mulher virtuosa de uma meretriz, também a santidade distingue os piedosos dos ímpios. É um chamado santo; “porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação” (1Tessalonicenses 4.7). Que um homem jamais diga ser um chamado de Deus, enquanto vive no pecado. Acaso Deus o chamou para ser um blasfemador, ou um beberrão? Igualmente, que um indivíduo meramente moral diga ser eficazmente chamado. O que é civilidade sem santidade? Não é nada senão uma carcaça morta coberta de flores. A efígie do rei estampada sobre o latão jamais será aceita como se fosse uma moeda de ouro. O homem meramente moral aparenta ter a efígie do Rei dos céus estampada sobre ele, mas ele não é melhor do que uma moeda falsificada, a qual não será aceita diante de Deus.

(iii) É um chamado irresistível. Quando Deus chama um homem por Sua graça, ele não pode fazer outra coisa senão vir. Você pode resistir ao chamado do ministro, mas não o chamado do Espírito. O dedo do Espírito bendito pode escrever sobre um coração de pedra, assim como outrora Ele escreveu Suas leis sobre tábuas de pedra. As palavras de Deus são palavras criativas; quando Ele disse, “haja luz”, houve luz; e quando Ele diz, “haja fé”, assim acontece. Quando Deus chamou Paulo, ele atendeu ao chamado. “Não fui desobediente à visão celestial” (Atos 26.19). Deus cavalga triunfante na carruagem do Seu evangelho; Ele faz os olhos cegos enxergarem, o coração de pedra sangrar. Se Deus decide chamar um homem, nada pode ficar no caminho para impedir; as dificuldades se dissipam, os poderes do inferno se dispersam. “Quem jamais resistiu à sua vontade?” (Romanos 9.19). Deus arromba as portas de bronze e quebrou as trancas de ferro (Salmo 107.16). Quando o Senhor toca o coração de um homem pelo Seu Espírito, todas as vãs imaginações caem por terra, e a fortaleza real da vontade se rende a Deus. Posso fazer alusão ao Salmo 114.5: “Que tens, ó mar, que assim foges? E tu, Jordão, para tornares atrás?”. O homem que antes era um mar tempestuoso, espumando impiedade, agora, repentinamente, recua e treme, prostrando-se como o carcereiro: “Que devo fazer para que seja salvo?” (Atos 16.30). O que se passa contigo, ó mar? O que se passa com este homem? O Senhor o tem chamado eficazmente. Ele tem realizado um trabalho gracioso, e agora o seu coração obstinado está conquistado por uma doce violência.

(iv) É um chamado elevado. “Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3.14). É um chamado soberano porque nós somos chamados a elevados exercícios de religião – morrer para o pecado, ser crucificado para o mundo, viver pela fé, ter comunhão com o Pai (1João 1.3). Este é um chamado elevado: eis aqui um trabalho elevado demais para os homens realizarem em seu estado natural. É um chamado elevado porque somos chamados para obtermos privilégios elevados: a justificação e a adoção, sermos feitos coerdeiros com Cristo. Aquele que é chamado eficazmente é maior do que os príncipes da terra.

(v) É um chamado gracioso. É o fruto e o produto da livre graça. Deus chama alguns, e não outros; alguns são tomados, outros são deixados; aquele que é de uma disposição mais áspera e rabugenta é chamado, ao passo que outro, de intelecto mais aguçado e temperamento mais suave, é rejeitado – essa é a livre graça. Os pobres se tornam ricos em fé, herdeiros de um reino (Tiago 2.5), ao passo que os nobres e os poderosos do mundo são, em sua maior parte, rejeitados: “Não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento” (1Coríntios 1.26). Esta é a livre e abundante graça. “Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mateus 11.26). Por meio de um mesmo sermão, um é eficazmente alcançado, enquanto o outro não é mais tocado do que um cadáver ao som de música; um ouve a voz do Espírito na Palavra, enquanto o outro não a ouve; um é amolecido e regado com a influência dos céus, enquanto o outro, como a porção de lã seca de Gideão, não tem qualquer orvalho sobre si; eis aqui a graça que distingue! A mesma aflição converte um e endurece o outro. A aflição para um é como o moer dos temperos, que produz um aroma agradável; para o outro, é como o quebrar das ervas daninhas em um pilão, que as torna ainda mais fedorentas. Qual é a causa disso, senão a livre graça de Deus? Este é um chamado gracioso; ele é completa e totalmente permeado pela livre graça.

(vi) É um chamado glorioso. “O Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória” (1Pedro 5.10). Nós somos chamados ao desfrute do Deus eternamente bendito: é como se um homem fosse chamado da prisão para assentar-se em um trono. Quinto Cúrcio escreve acerca de um homem que, enquanto trabalhava em seu jardim, foi chamado para ser rei. Assim Deus nos chama para a glória e a virtude (2Pedro 1.3). Primeiro para a virtude, depois para a glória. Em Atenas havia dois templos, o templo da Virtude e o templo da Honra; e nenhum homem poderia chegar ao templo da honra, senão através do templo da virtude. Assim Deus nos chama, primeiro para a virtude, e então para a glória. Que é a glória entre os homens, a qual a maioria dos homens busca ansiosamente, senão uma pluma voando pelo ar? Que é, quando comparada ao peso de glória? Não é esta uma grande razão para atendermos ao chamado de Deus? Ele nos chama para um lugar de honra; pode haver alguma perda ou dano nisso? Deus não exige que nos desfaçamos de nada por Ele, exceto aquilo que nos condenaria se o conservássemos. Ele não tem outro propósito para nós, senão fazer-nos felizes. Eles nos chama para a salvação, Ele nos chama para um reino. Oh, como nós deveríamos então, juntamente com Bartimeu, lançar fora a nossa capa rabugenta de pecado e seguir Cristo quando Ele nos chamar!

(vii) É um chamado raro. Poucos são chamados de modo salvífico. “Poucos são escolhidos” (Mateus 22.14). Poucos, não coletivamente, mas comparativamente. A palavra “chamar” significa escolher alguns dentre outros. A luz se aproxima de muitos deles, mas poucos têm os seus olhos ungidos para ver essa luz. “Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras” (Apocalipse 3.4). Quantos milhões se assentam na região das trevas! E naquelas atmosferas onde o Sol da justiça de fato brilha, há muitos que recebem a luz da verdade, mas não o amor por ela. Há muitos formalistas, mas poucos crentes. Existe um tipo de coisa que se parece com a fé, embora não o seja. O diamante de Cipriano, afirma Plínio, brilha como o verdadeiro diamante, mas não é genuíno e é quebrado por um martelo: assim a fé do hipócrita quebrará sob o martelo da perseguição. Mas poucos são verdadeiramente escolhidos. O número de pedras preciosas é pequeno, quando comparado ao de pedras ordinárias. A maioria dos homens molda a sua religião conforme a moda da época; eles são para a música e para o ídolo (Daniel 3.7). A meditação séria neste assunto deveria nos fazer desenvolver a nossa salvação com temor e trabalhar para estar no número daqueles poucos a quem Deus transportou para um estado de graça.

(viii) É um chamado imutável. “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Romanos 11.29). Isto se refere, como afirma um experimentado escritor, àqueles dons que fluem da eleição. Quando Deus chama um homem, Ele não se arrepende disso. Deus não é como muitos amigos, que ama em um dia, e odeia no outro; ou como muitos governantes, que escolhe os seus súditos prediletos, e depois os lança na prisão. Esta é a bem-aventurança de um santo: o seu estado não admite qualquer alteração. O chamado de Deus está fundado sobre Seu decreto, e o Seu decreto é imutável. Atos de graça não podem ser desfeitos. Deus apaga os pecados do Seu povo, mas não os seus nomes. A melodia do mundo muda a cada hora, mas a condição de um crente é firme e inalterável.

Por Thomas Watson. Original: A Divine Cordial By Thomas Watson

Tradução: voltemosaoevangelho.com

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